Valores de abril evidenciados pelos dois candidatos. Postura reivindicativa comum entre os projetos. Por Marta Tavares
No dia 9 de novembro ocorreu o debate entre os candidatos à Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC). João Maduro, pela Lista A – Unir, Avançar, Académica de Abril, e Renato Daniel, líder da Lista P – Por ti. Pela Académica, discutiram na Sala Nobre, no Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra (UC). O debate teve início às 21h53, com lugares limitados pela sala, onde alguns espectadores se viram obrigados a ter de assistir aos debates de pé.
No início da sessão, os candidatos foram questionados sobre as suas motivações e de que forma a candidatura de cada um se distinguia. João Maduro menciona que a sua candidatura é, no seu todo, um projeto coletivo, sendo o quotidiano dos estudantes e os seus problemas a sua principal motivação. Já Renato Daniel, atual vice-presidente da DG/AAC, luta pelos associados que sofrem com o elevado custo da propina e contra os problemas relativos à ação social. No entanto, ambos não conseguiram finalizar e responder de forma completa devido à falta de tempo que lhes foi disponibilizado.
Balanço do mandato atual da DG/AAC
Em relação à análise do mais recente mandato, Renato Daniel refere que foi “bastante positivo” e regista a colaboração próxima com os estudantes. Menciona a intervenção nos vários pilares estruturais da academia, principalmente no desenvolvimento da proximidade com os núcleos, mas também nas vertentes cultural e desportiva. Reforça que “a Casa para andar para a frente tem que ter estes três pilares bem unidos”. Apela aos estudantes que reforcem esta união, pois é preciso: “ter noção de que sozinhos podemos ir mais rápido, mas juntos vamos certamente mais fortes”.
João Maduro, refere que a atual DG/AAC teve alguns pontos positivos numa perspetiva reivindicativa, mas que “ficou muito aquém das suas potencialidades”. Menciona também que a postura da mesma em Assembleia Magna, aquando a intervenção dos estudantes, podia ter sido mais positiva. “É algo que coloca em causa a unidade da direção para com os próprios estudantes”, referindo que este mandato foi “muito mau”.
Próximos passos reivindicativos da AAC
Para João Maduro, existem diversas formas de manifestar ações reivindicativas, uma vez que a comunidade estudantil “pensa logo em manifestações”. Segundo o candidato, “o importante é priorizar uma DG/AAC que assuma esta postura e se aproxime dos estudantes”. Criticou a mesma por parecer estar “fechada em si mesma”, não permitindo avanços. Menciona, também, que a Lista A pretende lutar por “mais financiamento para os serviços de Ação Social”.
No entanto, na perspetiva de Renato Daniel, “há coisas que podem ser feitas e mudadas”. Apela aos estudantes para não estarem “agarrados ao passado” e revela ter um futuro político promissor para a academia em mente. Contudo, o dirigente concorda com João Maduro pois “parece que nunca há uma verdadeira mudança”, já que “a postura mais reivindicativa vem, muitas vezes, dos estudantes”.
Privatizações e Financiamentos
Para João Maduro, a questão do subfinanciamento é “inimiga de todos os estudantes a nível nacional” e refere o “constante rumo à elitização” do Ensino Superior (ES) que, por consequência, retira a responsabilidade do Estado. Não tencionam “procurar financiamento privado”, mas sim “preservar os patrimónios cultural e desportivo da AAC”. O objetivo é lutar lado a lado com as secções por “mais apoios” através do diálogo.
Na perspetiva de Renato Daniel, a sua lista “transpira valores éticos e morais de abril”, sendo uma das maiores bandeiras do seu mandato. Alega que a responsabilidade da academia “é lutar para que o orçamento seja colocado na criação de mais camas”, quanto ao tema da habitação. Com isto, o objetivo é melhorar as condições do ES português.
Propostas para resolver problemáticas estudantis
Renato Daniel afirma que o principal objetivo da Lista P é o fim da propina e apresentar “diferentes percursos e novos mecanismos” para apoiar os estudantes na transição do ES para o mercado de trabalho. Já João Maduro salienta que, todos os anos, se prometem mais camas, objetivo que permanece ainda incumprido. A Lista A defende a abolição da propina, apoia a gratuitidade do ES na globalidade e propõe “mobilizar os estudantes em massa” para combater o subfinanciamento, com intenção de “estabelecer um contacto com os estudantes a nível nacional”.
Tanto a Lista A, como a Lista P, pretendem rever o Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES), principalmente no aumento da representatividade das associações académicas. “Falamos de um documento que determina o apoio financeiro das instituições do ES, onde nenhuma entidade estudantil está representada”, afirma João Maduro.
Planos para comemoração dos 50 anos do 25 de abril
A Lista A pretende recuperar o “espírito da altura”, que permitiu alcançar várias conquistas como o ensino público e gratuito. Neste sentido, para João Maduro, “a única maneira de celebrar é recuperar a postura reivindicativa por parte dos estudantes” e apela que “voltem a ter força para transformar a sua realidade”. Refere, também, que a academia está orientada num “sentido de elitização” e que é necessário parar de imediato “este caminho”. Assim, um dos objetivos do candidato é “reaproximar a DG/AAC” através da criação de espaços que o permitam. Reforça que “só ao abrir a DG/AAC a todos os estudantes pode-se alcançar algum tipo de mudança”. Esta passa por “garantir que os estudantes conseguem ir às Assembleias Magnas e pelo contacto com as secções e repúblicas”.
A Lista P não pretende trabalhar sozinha, referindo a existência de “uma agenda”, no desenrolar deste projeto exigente. Relembra, ainda, a vontade da recriação da Taça de 1969, onde tencionam homenagear os estudantes que fizeram parte desta.
Questões sociais dentro da academia
Na perspetiva da Lista A, as questões sociais “fogem à ordem de trabalhos da DG/AAC”, onde João Maduro expressa que deve ser garantida uma luta por um espaço seguro para todos. Neste sentido, pretende criar uma postura de diálogo com o reitor, em que se facilita a comunicação destas problemáticas.
Por outro lado, Renato Daniel refuta e afirma que estas situações fazem, de facto, parte da ordem de trabalho da DG/AAC. Por essa razão, foi criada uma comissão interna que a Lista P pretende manter ativa.
Como apelo final, ambos os candidatos reforçam a importância da recuperação do espírito reivindicativo dos estudantes, característico do 25 de abril, e pedem para que “não se deixem fechar as portas que abriu”.
