Investigação surge como “contributo para literacia acerca da saúde reprodutiva”, aponta cientista. Impacto psicossocial da doença abrangido nas investigações. Por Francisca Costa e Iris Jesus
A Universidade de Coimbra (UC) levou a cabo uma investigação sobre a infertilidade masculina de origem desconhecida que contou com a colaboração de três faculdades da Casa: a de Medicina, a de Ciências e Tecnologia e a de Psicologia e Ciências da Educação. O projeto, financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, deu origem ao artigo científico com a investigadora Rita Ivo Pacheco e Maria Inês Cristo, aluna de doutoramento da UC, como primeiras autoras.
De acordo com um comunicado de imprensa, este projeto permitiu identificar “detalhes metabólicos e moleculares” que podem facilitar o diagnóstico e tratamento desta doença. O estudo decorreu entre 2018 e 2022 e inquiriu cerca de 1400 indivíduos.
A investigação foi motivada pela necessidade de “compreender melhor a doença”, na medida em que “ainda existe uma grande percentagem de casos em que não é possível identificar uma causa”, explica Sandra Amaral, investigadora do Centro de Neurociências da UC. De acordo com a cientista, estes dados representam “uma expressão preocupante”, traduzida em 30% dos diagnosticados.
O estudo envolveu a análise de vários parâmetros do gâmeta masculino, de modo a identificar características que pudessem diferir nos indivíduos com infertilidade masculina e naqueles com a mesma doença de origem desconhecida. Neste sentido, foram observadas seis proteínas expressas de forma diferente. O diagnóstico, segundo Sandra Amaral, “assenta numa análise seminal que nem sempre prediz a funcionalidade dos espermatozoides”, o que, com base no comunicado, pode trazer consequências para o futuro dos indivíduos com infertilidade masculina.
Sandra Amaral aponta para o impacto psicossocial da infertilidade, que “está associado a um grande estigma”, pelo que constata a relação de causalidade entre os pacientes em tratamento e o seu estado psicológico. Por esse motivo, a investigação contou com a colaboração da psicóloga Mariana Moura Ramos, que trabalha para o Serviço de Medicina Reprodutiva. Para tal, foram avaliados os sintomas de ansiedade e depressão dos utentes.
Para a cientista, este trabalho científico é “um passo num caminho a percorrer”, tendo em conta que a investigação não desenvolveu uma cura para a fertilidade destes indivíduos. Contudo, através das conclusões obtidas, a investigadora prevê que “o diagnóstico possa ser mais fácil, e o tratamento mais direcionado”. Para a comunidade da UC, o estudo surge como “um contributo para a literacia acerca da saúde reprodutiva e para o reconhecimento da universidade”, visto que este é o “único grupo debruçado sobre a área da infertilidade”, declara a cientista.
