Movimento critica parceria entre Universidade e Banco Santander. Manifestantes relatam ameaças por parte das forças policiais. Por Luísa Malva e Leonor Viegas
Ativistas do movimento Fim ao Fóssil: Ocupa! bloquearam a entrada do Departamento de Matemática da Universidade de Coimbra (UC), na manhã desta segunda-feira. Com vista a reivindicar o fim do uso de combustíveis fósseis em Portugal até 2030, os participantes, muitos deles estudantes, colaram-se às portas, utilizaram tubos para se prenderem uns aos outros e barricaram as entradas traseiras por dentro.
A escolha do local foi inspirada por “um dos maiores eventos do Departamento de Matemática, o Peço a Palavra, de Alberto Martins”, explica João Marcelino, participante do protesto. “Agora, em 2023, faz-se o mesmo, mas em vez da palavra pede-se ação climática”, acrescenta. As reivindicações por parte da iniciativa incluem a extinção dos combustíveis fósseis em território nacional, através de um sistema de energia pública renovável, até 2025. Dani Martins, ativista do movimento, acrescenta que, no plano local, a iniciativa posiciona-se contra a desativação da Estação Nova. “O crescimento da rede de transportes públicos e a sua desvalorização enfraquecem a transição energética necessária”, reitera.
Para além das preocupações referidas, os participantes reprovam a parceria da UC com o Banco Santander, que consideram prejudicial devido aos investimentos em combustíveis fosseis por parte da entidade bancária na América Latina. “O problema é fazer este tipo de negócios sem uma consulta dos estudantes, visto que não se enquadram dentro das linhas gerais de sustentabilidade da UC”, ilustra Dani Martins.
O protesto foi interrompido pela Polícia de Segurança Pública (PSP) perto das 10h da manhã. Os entrevistados relatam insultos e ameaças à integridade física por parte das autoridades. “Vou-te arrancar essa mão daí”, “vais ficar sem pele” e “deviam estar no manicómio” foram alguns dos comentários mencionados. Em momentos em que os manifestantes demonstravam desagrado com uma a instabilidade ambiental, ao dizer que “não querem ter filhos num planeta que não vai existir”, as autoridades refutaram dizendo “ainda bem”, ilustra João Marcelino.
Dani Martins conta que não lhes foram garantidas medidas de segurança durante a remoção dos tubos, “como a utilização de óculos de proteção e material adequado para a utilização das ferramentas de corte”. Reforça que, durante a intervenção, as carrinhas da PSP, do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e dos Bombeiros Sapadores impediram a visão “de modo a ter a certeza que ninguém de fora tinha acesso à situação”.
No rescaldo da ação, nenhum dos intervenientes foi detido. Contudo, os manifestantes foram levados para a esquadra da PSP para serem identificados. Inês Morais, participante do protesto, mostra-se indignada, uma vez que o processo de identificação “poderia ter sido feito no local”.
João Marcelino esclarece que ações passivas como palestras, passeios e greves não têm resposta. Através de ações de desobediência civil “há um impacto na sociedade”, sublinha. Com protestos incisivos, as pessoas debatem e questionam, o que leva à aceleração do combate à problemática, completa. Os manifestantes denunciam, ainda, a apatia das instituições no poder e apelam à mudança dos paradigmas na sociedade. “A vida está em risco e deve fazer-se tudo para combater as alterações climáticas”, expõem os ativistas.
