Parcerias com outros municípios destaca-se nesta edição. Em balanço do festival, organizadores apontam falta de apoio do ICA. Por Iris Jesus e Camila Luís
O dia 18 de novembro ficou marcado pelo encerramento da 29ª edição do Festival Caminhos do Cinema Português. O evento contou com a presença de vários representantes da cidade de Coimbra, entre os quais o atual presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, João Caseiro, o diretor da Cinemateca Portuguesa, José Manuel Costa e Ana Bastos, vereadora do executivo da Câmara Municipal de Coimbra. A cerimónia reuniu uma equipa de voluntários e trabalhadores remunerados, a quem se junta o organizador que deu voz ao evento, Tiago Santos.
A celebração teve início com o discurso do porta-voz da organização e de outros envolvidos no projeto. Entre as várias categorias, foi realçado o “Prémio Universidade de Coimbra”, fragmentado em duas nomeações: Menção Honrosa e Melhor Filme. Os dois prémios foram atribuídos, respetivamente, a Francisca Miranda, com a longa-metragem ‘Défilement’ e a Christian Avilés, com o filme ‘Daydreaming So Vividly About Our Spanish Holidays’. Este galardão foi deliberado pelo júri universitário, Bruno Oliveira, José Pedro Keating e Sofia Martins. De seguida, foi a vez dos prémios da “Seleção Caminhos”, constituída por 17 galardões, segmentados em duas categorias: oficiais e técnico-artísticos.
Na categoria de prémios oficiais, sobressaem-se os filmes “Dildotectónica”, de Tomás Paula Marques, como melhor documentário, a animação “Quase Me Lembro” de Dimitri Mihajlovic e Miguel Lima no âmbito do Prémio “União de Freguesias de Coimbra” e, no que toca o Grande Prémio “Cidade de Coimbra”, distinguiu-se a obra “Cidade Rabat”, da realizadora Susana Nobre. Na condecoração técnico-artística, destacam-se Beatriz Batarda, vencedora do prémio de melhor interpretação principal, com o filme ‘Great Yarmouth – Provisional Figures’, e Basil da Cunha, premiado com a película “2720” na qualidade de melhor realizador. Salienta-se ainda a entrega do prémio de melhor fotografia a Leonor Teles, com o filme ‘BAAN’, que deixou uma mensagem ao evidenciar a falta de mulheres e outras minorias nas direções de fotografia e nas premiações nacionais.
A 29ª edição do festival inaugurou o Prémio Federação Internacional de Críticos de Cinema, deliberado por Chiara Spagnoli Gabardi, Janet Baris e Rui Tendinha. O prémio inédito foi concedido a André Marques pelo filme “O Bêbado”, o primeiro produzido pelo jovem. A premiação deu lugar ainda a momentos musicais, como o cine-concerto de Hélder Bruno acompanhado de Maria Redes Martins e Filipe Fidalgo, numa interpretação da curta-metragem “Outubro Acabou” de Miguel Seabra Lopes e Karen Akerman. Noutro momento, Hélder Bruno apresentou-se a solo num espetáculo de piano.
Em entrevista, Tiago Santos pontua os principais aspetos em destaque nesta edição. Ressalta ainda que este ano se “alicerçaram parcerias com os municípios da região”, nomeadamente os de Penacova e da Mealhada. Apesar deste vínculo, que considera importante na divulgação do cinema nacional para áreas rurais, o organizador sublinha que “há muito a fazer, visto que Portugal tem das quotas mais baixas de aderência [ao cinema] da União Europeia”.
O representante do evento não deixa de comentar a atualidade dos festivais de cinema em Portugal. Estas iniciativas são dependentes do financiamento do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA), que tem como condição a adesão de “5000 espectadores em sete dias”, sendo que a Casa do Cinema de Coimbra “demora 10 meses a chegar aos 5600”. Desta forma, Tiago Santos defende que o ICA deve repensar as políticas para o desenvolvimento de audiências no cinema português, e anseia pela renovação do apoio da entidade para a 30ª edição.
Ao longo deste festival, foram apresentados 60 longas-metragens em concurso, com uma seleção de 153 filmes que contaram com a presença de diversos realizadores, produtores e argumentistas na sua realização. Neste sentido, Tiago Santos reconhece o esforço da equipa “que não desiste” e apela à criação de “laços de comunidade e de fruição identitária”, que define como fulcrais para a produção cinematográfica em Portugal.
