Evento promove música, artesanato e gastronomia tradicionais do país. Comboio do Caloiro não afasta público que dança até ser noite. Por Alexandra Guimarães e Raquel Lucas
A tarde de outono do dia 21 deste mês ficou marcada pelo XXVII Encontro Nacional de Etnografia e Folclore (ENEF), que levou a tradição ao Jardim da Sereia. A iniciativa organizada pela Orquestra Típica e Rancho da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC) inseriu-se no Arraial das Culturas Académicas, promovido pela Câmara Municipal de Coimbra. Com início pelas 16h, o evento deu palco a seis grupos musicais, rodeados por bancas que mostravam produtos e costumes típicos da região.
A inaugurar o espetáculo, subiu a palco o Cant’a3Vozes – Grupo Canto Polifónico da Associação Cultural e Recreativa de Oliveira de Frades. Este projeto intermunicipal fundado em 2021 tem como objetivo “apresentar o que é característico da região de Lafões”, abrangendo os concelhos de Sever do Vouga, Oliveira de Frades, Vouzela e São Pedro do Sul. Para fazer jus à época do ano, o grupo trouxe temas como “A folha do castanheiro” e “A carqueja”. Mesmo numa atuação sem acompanhamento instrumental, ainda deu voz às músicas “Santa Combinha” e “Os carneiros”.
Apesar de vários estudantes do Porto, vindos no âmbito do Comboio do Caloiro, ocuparem o Jardim da Sereia para atividades praxísticas, o público do ENEF não se afastou. Seguiu-se então o Rancho Folclórico Lírios do Nabão, grupo de Ourém fundado por resineiros. “Tremoço rechonchudo” foi um dos temas ouvidos, em alusão ao alimento cultivado no Vale do Nabão, assim como “A padeirinha”, relacionada com os moinhos de água dos afluentes da região. De saias em roda e a dançar a ritmo rápido, os músicos afastaram o frio da tarde com “Verde-gaio” e encerraram a atuação com a “Marcha do resineiro”.



Fotografias por Raquel Lucas
Entre comes e bebes, os espectadores tiveram a oportunidade de assistir ao Rancho Folclórico Verde Pinho, grupo criado em 1989, que quis “trazer a cultura do Ribatejo à cidade dos estudantes”. Dos mais miúdos aos mais graúdos, dançaram em palco “Aqui chega o nosso Rancho” e “O carrapito da Dona Aurora”. O rancho quis também transmitir ao público o retrato do quotidiano de um moleiro e de uma padeira com a música “Ora bate, Padeirinha”. Para terminar esta sua primeira atuação no ENEF, despediram-se com o “Vira do Verde Pinho”, em homenagem ao nome do grupo.
Foi então a vez da Orquestra Típica e Rancho da SF/AAC pisar o palco para apresentar “temas de Coimbra e arredores que remontam ao século XIX”. O primeiro deles, dedicado às meninas, foi “O lencinho”, seguido de “A porta do Lúcio”. O grupo, composto apenas por estudantes do Ensino Superior, não esqueceu os membros antigos e chamou-os a palco para interpretar “Caiu a laranja”. Para Ricardo Vieira, integrante entre 1991 e 1995, esta reunião representa o “recordar de bons momentos” e o reviver de memórias de um tempo que considera inesquecível. “Juntar a vida académica com os velhos costumes pode ser muito rico, e é isso que estes estudantes fazem ao replicar as canções, as danças e os trajes de antigamente”, exprime.
Também Cristina Correia, membro do grupo entre 1996 e 1999, expressa o seu orgulho pelo trabalho destes alunos que “mantêm viva a tradição e modos de vida diferentes” dos atuais. Em conjunto, os antigos relembram como era feito o trabalho de pesquisa e intercâmbio realizado: “as músicas eram transmitidas de forma oral e, com isso, vinham muitas histórias”, conta Ricardo Vieira. De acordo com Liliana Pereira, também antiga integrante, vários alunos de grupos folclóricos do país eram albergados pela Típica e traziam consigo os costumes das suas zonas, assim como “o bichinho do gosto pelo folclore”, espalhando-o por Coimbra.
Mesmo sem estar previsto no alinhamento, a Orquestra Típica e Rancho da SF/AAC animou os espectadores com a música “Fogueiras de São João”, levando-os a juntarem-se em roda na plateia para dançar, o que se manteve até ao último tema, “Vira de Coimbra”. O grupo anfitrião confessou ter um “enorme gosto” em acolher este evento, que “promove e divulga a música e os cantares populares do país, assim como o artesanato e a gastronomia”.




Fotografias por Raquel Lucas
Após uma pausa para petiscar na Tasca Típica, teve início, perto das 21h30, o baile mandado com o Grupo Folclórico de Coimbra, que convidou o público a envolver-se na sua atuação. Por entre palmas, braços dados e vira-pés, toda a plateia se reuniu à frente do palco para dançar ao som da tradição. Dos mais pequeninos aos mais adultos, o Jardim da Sereia não parou de mexer até ao findar da noite, que se deu por volta das 23h, com o encerrar do evento.

Por Raquel Lucas
