Cultura

Sereias e Mondeguinas voltam a cantar

Sofia Moreira

Festival trouxe tradição ao TAGV em celebração à voz feminina. TFAAUav foi grupo mais galardoado da noite. Por Raquel Lucas, Sofia Moreira e Ana Filipa Paz

Depois de parado durante a pandemia, o Canto da Sereia volta a remar até ao Teatro Académico de Gil Vicente (TAGV) pelo rio de Coimbra, na voz das Mondeguinas, tuna feminina de referência para os estudantes da cidade. Estiveram ainda presentes outros grupos vindos de várias partes do país. O fim de semana de festa ficou marcado por uma atividade de recolha de bens alimentares na noite de serenatas. 

A XXVII edição do festival começou no dia 27, no Centro Cultural D. Dinis, com uma noite de serenatas que juntou vários grupos a concurso e convidados. A festa continuou até ao dia seguinte, com coreografias, pandeiretas e a característica flor malmequer a enfeitar a Praça da República. 

Ao longo da última noite de espetáculos, no dia 28, a tuna anfitriã foi recuperando a história da sua formação. A fundação d’As Mondeguinas remonta o ano de 1993 e fica na história como uma das primeiras tunas femininas de Coimbra. Foram convidadas a subir a palco, para falar com a apresentadora, figuras que marcaram este percurso. 

Para inaugurar a noite de espetáculos foi convocado o Grupo de Cordas da Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra. Acompanhados do cajón, do bandolim, do cavaquinho e das violas, os cinco membros fizeram uso da sua voz e trouxeram ao público o ‘medley’ “Madness”, assim como o tema de abertura de Dragon Ball, habitual nas suas atuações.

De seguida, foi a vez da EST’eS La Tuna Feminina – Tuna Feminina da Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa dar a conhecer o seu reportório. Nascidas em 1997, vieram da capital para embalar a plateia do TAGV ao som das suas vozes harmónicas e dos violinos, bandolim e pandeiretas. Incluíram na sua performance uma adaptação da mais popular música do grupo, “Ronda da Madrugada”, e o tema “Hoje”, criando um ambiente cosmopolita, assim como aquele da capital de onde vêm, com canções tanto brasileiras quanto austríacas. 

A terceira atuação da noite foi da autoria da Tuna Feminina do Orfeão da Universidade do Porto – TUNAF, primeiro grupo académico de vozes femininas do país. Entre sonoridades e canções inspiradas no além-fronteiras, a tuna trouxe a palco temas sobre o amor e a saudade, assim como uma canção dedicada ao grupo anfitrião. Com o seu típico malmequer amarelo na orelha, o grupo “irmão de flores” das Mondeguinas apresentou o tema, escrito no autocarro a caminho do festival, que animou o público e encerrou a sua performance. 

Por Sofia Moreira e Raquel Lucas

Entre as tunas em concurso, a FAN-Farra Académica de Coimbra foi a palco no ritmo de animação e festejo deixado pelas estudantes portuenses. Em meio a declarações de amor direcionadas às Mondeguinas, amor este datado à fundação da tuna anfitriã, os trovadores conimbricenses apresentaram um repertório original cujo cerne foi a paixão. Cantaram “Ana Maria”, de 2007, a mais recente “Amores de outrora”, de um disco ainda não lançado, e um ‘medley’ do Mondego, intitulado “Lenda encantada”, tão cativante que as antigas mondeguinas da plateia se levantaram para dançar. 

Seguiu-se a atuação do terceiro grupo a concurso, a ATITUNA – Tuna Feminina da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Criada em 2006 na Cidade Invicta, trouxe a palco ritmos latinos da Bolívia e o espírito académico do norte do país, enchendo o espaço de tons negros e cor-de-laranja. Cantaram os temas “Leve Como Uma Pena” e “Porto Amado”, de autoria própria, “O Que Foi Que Aconteceu”, adaptação da canção da artista Ana Moura e um instrumental boliviano, para “honrar sua história e essência boémia”. 

Vindas da terra dos ovos moles e do moliceiro, as vozes femininas da TFAAUav – Tuna Feminina da Associação Académica da Universidade de Aveiro introduziram sua performance com o original “Ria Sentida”, seguida pelo também autoral instrumental “Corcunda”, e deram continuação ao concerto com a adaptação de uma canção de Dulce Pontes, “Garça Perdida”. O espírito das estudantes aveirenses era mágico: o palco inundado por bolhas de sabão, a baixa iluminação onírica e as bandeiras em tecido transparente, tudo aludindo às rias aveirenses. Para concluir, cantaram outra adaptação dedicada às demais tunas em concurso. 

A última atuação da noite foi levada a cabo pelo grupo anfitrião, que se apresentou em palco de vela na mão e iluminou a sala de espetáculos do TAGV. Como habitual, o grupo deu início à sua performance com a adaptação do tema “Senhora do Almortão”, seguido da canção “Trovador da Liberdade”, em homenagem a Zeca Afonso e ao mês de abril. De vozes intercaladas, voltaram às suas origens com a peça autoral “Escadas de São Tiago” e o findaram a sua atuação com o hino “Mondeguinas”.

No bater da meia-noite, e após alguns agradecimentos, deu-se início à entrega de prémios do Canto da Sereia, que veio encerrar a noite de espetáculos e o festival. A TFAAUav destacou-se no concurso: recebeu os prémios de Melhor Serenata, Melhor Passa-Calles, Melhor Original, Melhor Adaptação e Melhor Tuna. Entretanto, os prémios de Melhor Instrumental e de Tuna mais Tuna foram entregues, respetivamente, à TUNAF e à EST’eS La Tuna Feminina. De acordo com as Mondeguinas, o objetivo deste festival foi, sobretudo, “celebrar a mulher” e divulgar a música tradicional portuguesa. 

Por Sofia Moreira e Raquel Lucas

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