Objetivo é dar a estudantes da UC soluções face à falta de capacidade dos SASUC. Parceria também prevê formações e workshops gratuitos com estruturas da AAC. Por Daniel Oliveira
A Associação Académica de Coimbra (AAC) celebrou na passada quarta-feira um protocolo com a Mental Health Clinic – Isabel Henriques (MHCIH). Este acordo vai permitir aos estudantes da Universidade de Coimbra (UC) ter um desconto de 50% nas consultas de psicologia na clínica e fazer, de forma gratuita, um rastreio psicológico.
A dona da MHCIH, Isabel Henriques, explica que este rastreio é “o mesmo [que as triagens num hospital], mas focado na parte mental”. Acrescenta que é possível averiguar o estado psíquico do paciente através de um conjunto de “instrumentos de avaliação, em que se mede o grau de ansiedade, níveis de depressão, crenças”, entre outros.
Ainda sobre o rastreio psicológico, Francisco Forte, psicólogo clínico na MHCIH, informa que a sessão tem 30 minutos, nos quais o utente pode “esclarecer dúvidas sobre o processo de admissão na clínica, clarificar o motivo do seu pedido e tirar dúvidas quanto à gestão de expectativas”. Além disso, refere que é possível fazer “um ponto de situação da pessoa” através de um conjunto de inquéritos sugeridos.
Quanto ao protocolo, a coordenadora-geral da Intervenção Cívica e Ambiental da Direção-Geral da AAC, Matilde Azenha, nota que foi a clínica que iniciou o contacto para estabelecer a parceria. Começaram “na Semana da Saúde [de 11 a 14 de abril], onde [a MHCIH] deu algum material da sua campanha ‘Know Your Sh*t’” e, a partir daí, trabalharam na formalização do protocolo.
Francisco Forte, que esteve envolvido no processo, justifica o “interesse direto de comunicar [com a AAC] e permitir o acesso à comunidade estudantil de Coimbra” com “o grande pilar” do ‘Know Your Sh*t’. “Por um lado, a sensibilização para a saúde mental e, por outro, a facilidade do acesso ao mesmo”, desenvolve. Além disso, menciona que “a necessidade estudantil” fica evidente pelo conjunto de notícias veiculadas sobre a saúde mental nos jovens.
Sobre o ‘Know Your Sh*t’, Isabel Henriques conta que o facto de trabalhar com uma equipa “muito jovem” e de ter filhas que “são e já foram estudantes” motivou-a a “entrar pela UC”, porque compreende a “dificuldade que os jovens têm de poder aceder [a serviços de saúde mental]. A essas dificuldades, a psicóloga associa fatores como “o preconceito, a vergonha e até a parte financeira”.
Aprofundando essas questões, a dona da MHCIH crê que a forma como a psicologia é vista “é uma questão cultural”. Nesse sentido, sente que “a psicologia é muito desvalorizada: quando uma pessoa tem sintomas, ela vai ao psiquiatra ou ao médico de família”, e, a isso, associa “o perigo de tanta gente jovem começar a tomar antidepressivos por uma vida fora”. Como tal, Isabel Henriques realça a importância da psicologia na área da prevenção: “se se pode fazer um ‘check-up anual’ [nos hospitais], porque não se pode fazer isso a nível psicológico?”.
Ainda acerca do ‘Know Your Sh*t’, a dona da MHCIH esclarece que o projeto tem “formações e workshops gratuitos por temas, para entrar no caminho da sensibilização [da saúde mental], abordando questões como “quem sou eu?”, por exemplo. É de notar que a clínica já fez, em conjunto com o Núcleo de Estudantes de Direito da AAC, o evento “Um date com a ansiedade” no dia 2 de maio, e, com o Centro de Informática da AAC, uma formação sobre Burnout no dia 30 de setembro.
A AAC também já tinha estabelecido, a 19 de setembro, um protocolo com a clínica médica VitaSlim, que dá aos estudantes da UC acesso a consultas de psicologia clínica, psiquiatria, ginecologia e nutrição por 35 euros. Além disso, Matilde Azenha revela que a DG/AAC está a trabalhar numa nova aba para o site da casa, onde vão ser apresentadas “todas as ofertas de cuidados de saúde, não só a nível mental, como físico”. A estudante frisa que o objetivo “não é substituir” os Serviços de Ação Social da Universidade de Coimbra (SASUC), e sim “dar uma solução a curto prazo que os estudantes consigam usufruir enquanto os SASUC não lhes conseguem dar uma resposta”.
