Iniciativa de rede europeia une sociedade e políticos na necessidade de identificar várias realidades precárias. Presidente da EAPN Portugal apela à academia de Coimbra para “desmontar ideologias quadradas”. Por Clara Neto
A cidade recebeu, nos dias 17 e 18 deste mês, a décima quinta edição do Fórum Nacional de Combate à Pobreza e Exclusão Social, uma iniciativa da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal. O evento foi organizado com o intuito de dar palco a pessoas em baixas condições socioeconómicas e de refletir sobre o aumento do custo de vida na sociedade portuguesa. Assim, criou-se um espaço de diálogo para discutir as medidas estruturais necessárias para erradicar a pobreza no país.
O arranque do programa ficou marcado por uma sessão formal de abertura, no Convento São Francisco, que contou com os discursos do presidente da EAPN Portugal, Agostinho Jardim Moreira, de Armando Loureiro, membro do Conselho Local de Cidadãos de Coimbra e da vereadora pela Ação Social do município, Ana Cortez Vaz. O momento foi seguido pela apresentação da campanha nacional #POBREPOVO, à voz do criativo responsável pela campanha, Miguel Januário.
A ação lançada pela entidade organizadora pretende sensibilizar a sociedade e os poderes políticos através de testemunhos reais de cidadãos em situação de pobreza e exclusão social. Deste modo, a campanha #POBREPOVO destaca, por exemplo, que “duas em cada dez pessoas têm sobrecarga financeira com despesas de habitação”. Este é uma das “histórias, mais ou menos próximas, mais ou menos ocultas, mas que existem e dizem respeito a todas e todos nós”, como ressalva Miguel Januário no comunicado à imprensa.
A igualdade de oportunidades, a crise habitacional, o estado do salário mínimo nacional, a instabilidade do setor cultural e situação fiscal do país foram alguns dos tópicos discutidos na mesa-redonda intitulada “O combate à pobreza como desígnio nacional: das palavras aos atos”. Moderada pelo Jornal de Notícias, a conversa contou com representantes dos partidos políticos com assento parlamentar na Assembleia da República e Cidália Barriga, do Conselho Local de Cidadãos de Évora, que fechou a sessão com a apresentação de uma Carta Aberta dos Cidadãos. Entendeu-se, então, que há dois milhões de portugueses em condição de pobreza e risco de exclusão social, dados que foram recolhidos em 2022 pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza da EAPN Portugal.

Clara Neto
Agostinho Jardim Moreira acredita que iniciativas desta tipologia são importantes para “dar lugar a toda a gente de forma democrática”. O presidente da entidade organizadora conta que quando iniciou a rede em Portugal, em 1991, a pobreza era “um não-assunto”, um conceito por estudar e indefinido. “Hoje sabemos que ser pobre resulta, de modo geral, de políticas estruturais que não permitem que todo o ser humano participe, de forma equitativa, no seu desenvolvimento integral”, indica. Defende que o bem-estar de um depende do bem-estar dos outros, daí ser um desígnio nacional.
Ainda sobre o tópico central do fórum, o presidente da EAPN Portugal acrescenta que “sempre se disse que a pobreza se conjuga no feminino”. Desta forma, Agostinho Jardim Moreira aponta para a necessidade de repensar esta realidade, principalmente a da família monoparental feminina, já que, “num país com problemas demográficos, estamos a penalizar a mulher na sua maternidade”. Critica ainda as opiniões partidárias que testemunhou na mesa-redonda ao apelar à academia de Coimbra que ajude a “desmontar ideologias quadradas”.
Ainda no dia 17, a tarde terminou por volta das 17h30 com a cerimónia de atribuição do Prémio do Jornalismo: Analisar a Pobreza na Imprensa 2022 (VI Edição). O galardão foi entregue ao trabalho “Preços a subir: Carteiras dos portugueses sob ataque cerrado”, da autoria de Margarida Vaqueiro Lopes, Marta Marques Silva, Nuno Aguiar e Rui Barroso, da revista VISÃO.
O segundo dia do Fórum Nacional de Combate à Pobreza e Exclusão Social teve lugar no Hotel D. Luís, com a recessão de Luísa Dantas, da EAPN Portugal, e Natália Alves, do Conselho Local de Cidadãos de Coimbra. De seguida, às 9h45, foi apresentado o trabalho sobre o impacto do aumento do custo dos bens nas vidas das pessoas do Conselho Nacional de Cidadãos, intitulado “Que Vida É Esta?”.
Houve, de novo, uma mesa-redonda, desta vez sobre o impacto das medidas políticas na vida das pessoas, moderada por Joaquina Madeira, membro da entidade organizadora. A manhã terminou com a apresentação do Conselho Local de Cidadãos de Coimbra, com um momento para conclusões e comentário, e com um almoço de encerramento.
A EAPN – European Anti Poverty Network (Rede Europeia Anti Pobreza) é a maior rede europeia de redes nacionais, regionais e locais de ONGs, e de organizações ativas na luta contra a pobreza, como refere a nota à imprensa. O mesmo documento contextualiza que, em Portugal, a rede centra o seu trabalho através de ações “nas áreas da participação, investigação, projetos, sensibilização, formação, capacitação e influência política”.
