Abandono de redes sociais explicado por “falta de diálogo na passagem de pasta”. Alunos conselheiros reivindicam maior representatividade estudantil no órgão. Por Alexandra Guimarães e Raquel Lucas
Constituído por um total de 35 membros, o Conselho Geral da Universidade de Coimbra (CGUC) conta com cinco estudantes na sua composição, além de professores, investigadores, trabalhadores não docentes e entidades de mérito externas à instituição. Em conjunto, formam um órgão cujas competências se centram na eleição do Reitor da UC, na apreciação dos seus atos e, ainda, em tudo o que envolve o bom funcionamento da universidade. No sentido de escrutinar a ausência de informações acerca do trabalho desenvolvido pelo CGUC, o Jornal A CABRA foi à procura de testemunhos junto de alguns dos seus membros estudantes.
A divisão do trabalho
Catarina Melo, presidente da lista vencedora na candidatura para o CGUC no passado ano letivo, explica que o objetivo do órgão é “certificar-se que a UC está a funcionar no seu todo”. Nesse sentido, todo o trabalho é segmentado e desenvolvido no seio de comissões dedicadas a áreas específicas. Quando questionada sobre os últimos projetos do CGUC, a estudante de Ciências Farmacêuticas adiantou a intenção de desenvolver ações no âmbito dos Estatutos da UC. No entanto, este é um projeto que ficou “em ‘stand-by’” e ainda não possui data prevista para anúncio público, pelo que a jovem não expôs mais detalhes.
Também Carlos Magalhães, estudante conselheiro, se pronunciou sobre as ações desenvolvidas por aquele que considera ser “o órgão máximo de gestão e de decisão da UC”. Na Comissão de Inovação, Serviço e Relação com a Comunidade, da qual faz parte, o foco principal é “a atração de empresas para o crescimento da UC e da região de Coimbra”, assim como “a divulgação do trabalho feito pelos centros de investigação”, esclareceu. Já na Comissão de Ensino, Inovação e Desenvolvimento, que também integra, o combate “pela equidade de propinas” e os preparativos para o evento Inovação@UC têm sido as principais preocupações.
Na mesma comissão, o estudante José Gama destacou como “evento do ano” o colóquio sobre qualidade pedagógica “Melhor Ensino, Mais Universidade”, realizado em fevereiro. O jovem conselheiro integra ainda a Comissão ad hoc para Revisão dos Estatutos da UC, sobre a qual prefere manter sigilo. No que toca a futuras ações, confessou sentir-se “de mãos atadas”, dado que o trabalho da comissão está dependente das discussões acerca do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES). “O CGUC é um órgão que gere assuntos a longo prazo e não no imediato”, reforçou.
Do sigilo ao anúncio público
O último plenário ordinário do órgão teve lugar no passado dia 2 de outubro, mas nenhum dos entrevistados se disponibilizou a revelar o que saiu dessa reunião até a ata ser pública. De acordo com Carlos Magalhães, a aprovação desse documento vai ter de esperar até à próxima reunião plenária, agendada para 11 de dezembro. No entanto, o conselheiro adiantou que foram alvo de debate temas como a receção aos novos estudantes, a semana de abertura das aulas e os próximos eventos da UC, bem como a aprovação da ata da última reunião plenária, realizada a 26 de junho.
Em relação às redes sociais geridas pelos estudantes conselheiros, inativas desde junho de 2022, Carlos Magalhães mencionou a “falta de diálogo na passagem de pasta” como a causa para a situação. Também José Gama comentou que a transferência das ‘passwords’ de acesso por parte dos membros anteriores “ficou ao abandono”. O estudante aludiu ao “fraco nível de divulgação” nas redes sociais e admitiu ser “algo a melhorar”, embora reconheça que é um assunto do qual “não se tem falado muito”. Como alternativa, os conselheiros sugerem que os estudantes se informem através dos comunicados enviados por correio eletrónico, das notícias partilhadas no site da UC ou das atas públicas no site do CGUC.
Entre eleições e representatividade estudantil
No que toca à reeleição de Amílcar Falcão como Reitor da UC por parte do CGUC, nenhum dos entrevistados pretendeu deixar declarações de voto, por este ter sido secreto. Carlos Magalhães confessou que a maioria absoluta na votação era “expectável por não haver outro candidato”. Mesmo assim, Catarina Melo assegurou que “o programa eleitoral foi escrutinado de maneira meticulosa, para esclarecer todas as dúvidas”.
Quanto à representatividade estudantil no seio do CGUC, a conselheira realçou o esforço por parte dos alunos na sua distribuição pelas várias comissões, mesmo estando em minoria em cada uma delas. “É uma questão de equilíbrio e os restantes membros estão sempre disponíveis para ouvir a opinião dos estudantes sobre a realidade com que contactam todos os dias”, frisou Catarina Melo. Para José Gama, é importante aumentar a quantidade de estudantes no órgão, embora já tenham o número máximo permitido por lei. “A única forma de alterar essa situação é através de uma revisão do RJIES”, alertou.
Ainda que sejam apenas cinco, Catarina Melo garantiu que os estudantes conselheiros “estão presentes ao máximo e têm tentado fazer-se ouvir neste órgão bastante complexo”. Já José Gama sente que “as contribuições de todos os membros do CGUC ficam um pouco aquém do que poderiam ser”, por só assistirem às reuniões das respetivas comissões. “Mesmo que se queira intervir noutra comissão, a única coisa que se pode fazer é dar um parecer, por exemplo, numa reunião plenária”, lamentou.
Além do trabalho no CGUC, discute-se a possibilidade de ver o nome de Carlos Magalhães na lista candidata à Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC) presidida por Renato Daniel. Porém, o estudante conselheiro não adiantou informações: “é preciso esperar até à entrega das listas”. Apesar de sublinhar a diferença entre um órgão da UC e um da AAC, Carlos Magalhães apontou que “a sua coexistência e colaboração podem proporcionar um crescimento saudável à Casa”.
