Alojamento estudantil foi tópico central no debate. Líder bloquista e AAC posicionaram-se perante proposta socialista de devolução da propina. Por Alexandra Guimarães
A Associação Académica de Coimbra (AAC) recebeu, na manhã desta quinta-feira, a visita da coordenadora nacional do Bloco de Esquerda (BE), Mariana Mortágua. A deputada da Assembleia da República esteve reunida com o presidente da Direção-Geral (DG) e os representantes responsáveis pela política cultural, que, no último ano, têm vindo a procurar transmitir algumas preocupações da comunidade académica e respetivas propostas de soluções a vários líderes parlamentares. Em entrevista ao jornal A CABRA, Mariana Mortágua alerta para as principais dificuldades dos estudantes e sublinha a importância do papel dos jovens na gestão política do país.
Habitação
Em entrevista, Mariana Mortágua explica que a reunião com a DG/AAC teve como principal propósito discutir o tópico do alojamento estudantil. “Há milhares de estudantes no Ensino Superior que enfrentam o problema dos custos associados à frequência universitária e o maior desses custos é o da habitação”, destaca a vice-presidente do grupo parlamentar. A líder do BE acrescenta que “o número de quartos disponíveis para estudantes reduziu em 68% entre 2021 e o momento atual, o que fez aumentar os preços”.
Face a esta situação, visível também noutras cidades do país, a bloquista refere que “é preciso encontrar alojamentos disponíveis de imediato”, como, por exemplo, quartéis e edifícios associados ao ministério da defesa. “Os alunos que hoje estão no Ensino Superior não podem esperar por 2025, por uma residência que chega quando acabarem o curso”, frisa Mariana Mortágua. A dirigente sugere ainda que sejam feitos protocolos com unidades de turismo, para alocar parte desses edifícios a alojamentos estudantis a preço acessível. “Situações emergenciais requerem uma resposta de emergência”, salienta a deputada.
Propina
Outro dos problemas em debate prende-se com a propina do ensino superior. O secretário geral do Partido Socialista, António Costa, anunciou ontem medidas sobre a devolução da propina aos estudantes por cada ano de trabalho. No entanto, Mariana Mortágua considera que “prometer coisas para o futuro, sem impacto agora, é uma forma distorcida de apresentar medidas que não vão ao centro do problema, que é o salário, a propina e o preço da casa”. Na opinião da coordenadora nacional do BE, “o salário, em Portugal, não paga a vida”.
Por outro lado, a dirigente denuncia a “discriminação desta medida pelos jovens obrigados a emigrar”, que não são abrangidos pela devolução da propina. “Se queremos que o ensino seja gratuito e universal, a propina tem que ser gratuita para todos os estudantes e não apenas para os que conseguem ficar no país”, reforça.
Em comunicado, a AAC também já se posicionou em relação a esta nova proposta. Nas palavras do presidente da DG/AAC, João Pedro Caseiro, “a medida apresenta traços positivos na valorização do começo das carreiras qualificadas, mas deve complementar uma medida central que vise a propina zero”.
Quanto ao acesso ao ensino superior, Mariana Mortágua aponta a necessidade de pensar o peso excessivo dos exames, no sentido de que pode condicionar toda a carreira académica e criar injustiças e limitações a quem acede. “Uma democracia forte requer uma educação pública forte e uma das funções do Estado é garantir que há uma universidade de qualidade para todos”, assegura.
Os jovens de hoje
No que respeita à saúde mental dos estudantes, a dirigente política ressalva “a necessidade de garantir que há acesso a serviços de saúde para jovens”. A deputada mostra-se ainda preocupada com a influência dos fatores sociais na saúde mental, como a pressão para o sucesso ou a falta de correspondência entre as imagens de competitividade e de felicidade.
Como balanço desta primeira visita à AAC enquanto coordenadora nacional do BE, Mariana Mortágua valoriza “a boa relação dos jovens da casa com a política e o seu papel interventivo”. Rejeita a ideia de que os jovens não querem saber de política e dá como exemplo a preocupação dos mais novos quanto às questões climáticas. “Em muitos casos, os jovens estão a tentar trazer grandes debates políticos que os adultos ignoram”, sublinha a deputada do BE.
Embora o BE não tenha uma juventude partidária, Mariana Mortágua considera que esta é uma forma de integrar os jovens na política, na medida em que estes podem ocupar qualquer posição no partido e não limitar-se a pertencer a uma quota destinada. A deputada critica o facto de os partidos travarem propostas das juventudes partidárias e defende que, no BE, haja uma partilha entre o que os jovens e o partido defendem. “A lógica de transformar as juventudes partidárias em partidos dos pequeninos é desrespeitadora dos programas políticos trazidos pelos jovens”, conclui.
