Projeto editorial experimental SUBSOLO apresenta livro de contos que se interligam entre si. Iniciativa ‘Short On Stories’ junta 15 autores num exercício de escrita criativa. Por Ana Filipa Paz
O quarto dia de ‘warm-up’ do Festival Apura ficou marcado pela apresentação do livro de contos “O Não-Lugar”, na Galeria Santa Clara, seguida de um momento musical, convívio e partilha de experiências que acompanharam o pôr do sol. O projeto que ganhou vida no mesmo lugar onde foi revelado, juntou 15 amantes da palavra que descreveram este exercício de escrita como “inesquecível”.
Segundo Lia Cachim, criadora do projeto editorial experimental SUBSOLO, fundadora do Festival Apura, editora e escritora do livro “O Não-Lugar”, a iniciativa surgiu em setembro do ano passado, inspirada pelo trabalho semanal que realizava no mestrado em Escrita Criativa. Em março de 2023, foram divulgadas nas redes sociais do SUBSOLO as inscrições para as ‘Short On Stories’, um grupo de escrita preparado para trabalhar num livro de contos durante dois meses.
Na tarde de domingo, sentados pela ordem em que surgem no livro, cada autor fez um breve resumo do texto que escreveu, com cuidado para não estragar a surpresa da leitura. Ao percorrer o caminho pelas páginas do livro, os escritores explicaram que todos os contos, apesar de individuais, se cruzam entre si. De acordo com Lia Cachim, o grupo “apontava as ideias num documento até chegar a um terreno cinzento muito bom que foi o pretexto para conseguirem todos escrever coisas diferentes, mas no mesmo lugar, ou neste caso ‘O Não-Lugar’”.
Palhaços, crianças, ansiedade e paranoia, grupos de amigas e viajantes no tempo são alguns dos diferentes temas que estes contos abordam. Beatriz Ryder, autora de “O Casal”, confessa ter sido um desafio sair da sua zona de conforto. A estudante de Psicologia Camila Rodrigues, autora de “O cromo do Leandro”, partilha que este exercício “foi uma boa forma de conciliar o percurso académico com momentos de lazer e de enriquecimento pessoal, sobretudo na medida em que se adquirem perspetivas derivadas do contacto com outras pessoas de faixas etárias e ramos de interesse distintos”.
Anna Petermanm, autora de “As Hospedeiras”, deixa o seu testemunho: “a criatividade só cresce se temos a oportunidade de trabalhar com um grupo receptivo que possibilita que estas histórias se cruzem”. Ana Carolina Gomes, também aluna de mestrado em Escrita Criativa e autora de “A estafeta da florista”, conta que “o ambiente de comunidade que se formou” permitiu voltar-se a desafiar a escrever criativamente. Findada a atividade, diz “sair com 14 colegas escritores que espera levar para a vida”.
O conto de Lia Cachim, sob o heterónimo “M. M. Quer”, encerra o livro. A editora revela que neste grupo encontrou “a harmonia perfeita entre o trabalho individual e o trabalho coletivo” e, por isso, todas as suas expectativas foram concretizadas. Gerir e escrever ao mesmo tempo foi um dos principais desafios que encontrou. “A ajuda da Julia Peccini, na revisão dos textos em português do Brasil, e do Rodrigo Antas, dos textos em português de Portugal, foi indispensável”, comenta.
No futuro, o projeto SUBSOLO vai procurar recriar a iniciativa, sob outros moldes, “com menos gente e mais tempo”, declara a editora. Apesar de não conseguir investir em todos os livros que gostaria, Lia Cachim mostra-se desejosa de apoiar o percurso destes escritores, em coletâneas, por exemplo. Revela ainda que uma das participantes, Ana Petermann, pediu a Lia que fosse editora fantasma (sem crédito) do livro que quer lançar em edição de autor, trabalho que se disponibiliza a fazer regularmente.
O livro está à venda e tem um custo de 14€.
