Cultura

Festival APURA regressa à cidade

Clara Neto

Diversidade de expressões artísticas inaugurou quarta edição do festival. Público teve encontro marcado no novo espaço da Casa das Artes. Por Raquel Lucas e Clara Neto

A quarta edição do Festival APURA, organizada pela Associação Cultural APURA, teve início na quarta-feira, dia 21 de setembro, e juntou no mesmo espaço a expressão artística, o convívio e, como é hábito, o espírito ‘underground’. O evento foi inaugurado com um ‘workshop’ de Dança Contemporânea e Exploração Física orientado por Saeira, artista performativa, acolhido pelo Salão Brazil, entre as 10h e as 14h.

Perto das 17h abriram-se os portões do novo espaço da Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto (CABB) com a inauguração de uma exposição de arte que veio cruzar nomes como Zabeth, Jonathan Miranda, Tu Metes Nojo – Kiss My Vómito: Last Nojo on Earth, Coletivo Gambozino, Coletivo Zás, Babu, Brutto (João Freire), Maria Palma e Inês Santos. A iniciativa pretende refletir “em diversidade os ecos culturais que transbordam as fronteiras físicas e imaginárias que separam (unem) Coimbra do (ao) resto do país e do mundo” através de várias obras plásticas. A mostra engloba “imaginários, técnicas, gerações e mensagens” e vai preencher o espaço até dia 19 de outubro.

A primeira atuação do dia foi a de Saeira, perto das 18h, que trouxe à cave da CABB uma performance de “sexualidade da pedra”, como descreveu a artista, baseada num poema da sua autoria. Rodeada pela luminosidade discreta do local, Saeira fez uso da sua voz e da dança contemporânea para trazer ao público uma construção artística com base no mito português das mouras encantadas, “mulheres presas na pedra”. Em entrevista ao Jornal A CABRA, a intérprete referiu que a sua inspiração proveio do interesse no contraste entre a pedra, objeto inanimado, e a libertação da mulher associada à sensualidade e emancipação femininas.

De seguida, a sala subterrânea encheu-se de rostos vendados, prontos a emergir numa experiência sonora desenvolvida por Luís Antero. Durante a atuação, o público foi convidado a entrar numa viagem sensorial através da audição de uma mistura de sons processados, gravados pelo artista nas repúblicas Rápo-Táxo, da Praça e dos Fantasmas, em 2014 e no presente ano. De acordo com Luís Antero, os ruídos apresentados são uma “versão marada”, com a qual se identifica, daquilo que, no futuro, “vai ser parte do do Arquivo Sonoro do Centro Histórico de Coimbra”.

Fotografias por Clara Neto

O fim da tarde

Chegou a vez do público passar para o exterior e começar a apoderar-se do terraço da CABB para receber GUME, um coletivo que trouxe a palco uma mistura de sonoridades que cruzaram o jazz com o afrobeat e um pouco de groove. Para isso, os músicos fizeram-se acompanhar da serenidade das melodias do trompete, das congas e da guitarra, numa atuação à luz do pôr-do-sol.

Após a hora de jantar, o rubro noturno instalou-se com Lucifer Pool Party, uma banda oriunda do Porto caracterizada por juntar o rock progressivo “esquizofrénico” ao ‘noise’ e à música de improvisação. Durante o concerto o grupo fez uso do saxofone, do teclado, da bateria e do baixo para dar a conhecer ao público alguns temas do seu primeiro álbum, autointitulado. De acordo com José Vale, guitarrista da banda, tanto o seu reportório musical como a atuação no APURA permitiram ao grupo a expressão de uma panóplia de influências que caracteriza cada um dos seus membros. “Superou as expectativas”, adiciona o artista.

The Black Wizards pisaram o palco por volta das 22h30 e trouxeram consigo o avivar do rock e groove psicadélicos característicos das décadas de 60 e 70. Saídos de uma série de concertos em tour, o trio veio despedir-se do verão no festival APURA, fazendo mexer o público e enchendo o terraço da CABB pela noite dentro. De seguida, a plateia foi encaminhada de volta à cave para receber Synapse Archives com uma performance marcada por sonoridades analógicas acompanhadas por efeitos de nevoeiro artificial.

À semelhança da edição anterior, o culminar do primeiro dia do festival deu-se na República da Praça com uma sessão de “clubbing”. Com início perto das 00h, as atuações de Van Der e Photonz animaram o público no desenrolar da noite.

Fotografias por Clara Neto

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