Cultura

(A)PURAgora é tudo 

Raquel Lucas

Festival assinalado pela variedade de géneros, constante de uma ponta à outra. Rock alternativo e agitado de Dead Club despertou público no fim da última noite. Por Raquel Lucas e Sofia Moreira 

O terceiro dia de festival foi introduzido no sábado, dia 23 de setembro, como de costume, com um ‘workshop’ no Salão Brazil. Marco Santos, percussionista, baterista e compositor, dinamizou o exercício intitulado de “Workshop Pulsar – Ritmo e Movimento”, das 10h às 15h30, com o objetivo de “explorar a percussão corporal como uma ponte para a dança”. A atividade teve um custo de 30€ e convidou todos os participantes a envolver-se numa “experiência musical e sonora” que estimulou “a liberdade de criatividade, expressão de sentimentos, pensamentos e muito mais”.

Assim como no dia anterior, o novo espaço da Casa das Artes Bissaya Barreto (CABB) manteve-se coberto de cultura, partilha e animação. A primeira performance da tarde teve início perto das 18h e foi protagonizada por Matilde Tarrinha, dançarina, e Assafrão, Dj e produtor musical. Juntos, partilharam com o público, na cave do espaço, um espetáculo de dança contemporânea com um instrumental de fundo. A atuação, preparada pelos artistas numa semana, teve como finalidade ser um projeto multidisciplinar com foco no passado da Casa das Artes. Nesse sentido, a frase “Esta casa, antes de ser das artes, foi abrigo para jovens e crianças em situações de perigo” foi escrita pela artista, no chão e a giz, como elemento simbólico do espetáculo. 

A espontaneidade e a expressão corporal de Matilde Tarrinha foram o centro da atuação que, na sua preparação, fez com que a dupla saísse “da sua zona de conforto”, visto que costumam trabalhar individualmente. Em entrevista ao Jornal A CABRA, ambos admitiram não se conhecerem pouco antes da criação do espetáculo, o que gerou um desafio. Ainda assim, Assafrão confessa que todo o processo “foi fixe”, dado que “uma pessoa também precisa de motivação”. 

Passando da cave ao terraço, Miguel Cordeiro subiu ao palco, perto das 19h, e fez-se acompanhar das guitarras clássica e acústica, assim como do teclado, para embalar a plateia com suaves melodias de jazz e indie folk. O artista cantou temas como “Maria”e “Pó”, do seu quarto álbum digital “Umbigo”, lançado em 2022, e agradeceu a atenção do público em relação à sua performance. 

Com o chegar do fim da tarde, chegou também a vez de Tigre apresentar o seu repertório, apetrechado de memórias e conversas a dois. A dupla, composta por Inês Campos e João Grilo, iluminou o espaço com as sonoridades do violoncelo  e do teclado e, através da harmonia das suas vozes, contou histórias sobre a intimidade, a auto-estima, as emoções e o vício. 

Fotografias por Raquel Lucas e Sofia Moreira

De seguida, Luís Gomes, de nome artístico Lula’s, aproveitou para mostrar à plateia um pouco da sua “Cachupa Psicadélica”, conceito que originou o nome do grupo musical por si criado com Bilan e Danilo Lopes, na sua adolescência. Hoje, atua a solo. No Festival, ao som de uma guitarra desafinada e da alternância entre intensidades de voz, o cabo-verdiano cantou temas como “3/4 de Bô”, “Amor d’1 Laranjeira” e um cover de “Gene”, música do artista brasileiro Tom Zé. Entre brincadeiras com o público, o artista apelou a todos que “fossem felizes” e “encontrassem a shisha boa da vida”, finalizando a sua atuação com os versos “Gente certa é gente aberta” e “Se o amor me chamar, eu vou”, de Erasmo Carlos. 

Roupas vermelhas e uma onda de purpurinas invadiram o palco com o grupo The Rite of Trio, composto por André B. Silva, Pedro Melo Alves e Filipe Louro. Considerados pelo Centro Cultural de Belém como os “mestres do jambacore”, a tríade portuguesa trouxe ao terraço da Casa das Artes uma mescla de jazz, metal, punk e música clássica contemporânea. A performance do grupo constituiu-se numa junção de sons exclusivamente instrumentais com algumas notas amargas que viajaram pela plateia sobre os seus ouvidos e expressões confusas.

A última atuação da CABB foi assegurada pelos Dead Club, duo de punk rock alternativo formado por Violeta Luz na voz e na percussão, e por João Silveira na guitarra. Juntos, rebentaram o palco com o explodir das sonoridades que variaram entre vocais graves, gritos e suspiros. A meio da atuação, e sob o pretexto de o público “estar adormecido”, a artista pegou num timbalão e misturou-se com a plateia, numa tentativa de a reanimar. “Toca aí alguma coisa, pode ser que a malta goste”, brincou a vocalista, dirigindo-se ao colega. Por fim, Violeta convidou o baterista da banda anterior a juntar-se ao palco para a última música do concerto, “Adios Amigos con Amigos”, que acordou a plateia para cantar em uníssono o refrão. 

Já desperto, o público dirigiu-se à República da Praça para a ‘after party’ do festival. Os ‘sets’ noturnos contaram com a Dj Pearte (Joana Castanheira), numa mistura de sons nostálgicos, batidas eletrónicas, funk e ‘rock’n’roll. A programação foi concluída pela dupla The Ema Thomas, formada por Ana Marques e Francisca Sousa. O duo pautou a sua expressão artística em performances físicas: “O confronto com o público é a nossa forma de estar”, revelaram em entrevista à Arte Capital. 

Para um último momento, os Société Étrange, banda composta por Antoine Bellini, Romain Hervault e Jonathan Grandcollot, vão marcar presença no Salão Brazil, às 18h de hoje, domingo, para uma atuação marcada por sonoridades kraut e psicadélicas. O concerto tem um custo de 7€ e, com este, Coimbra despede-se de mais uma edição do Festival APURA. 

Fotografias por Raquel Lucas e Sofia Moreira

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