Público ferveu com atuações interativas de Cows Caos e Victor Torpedo and the Pop Kids. Entre apresentações, artistas elogiaram iniciativa e apelaram a que todos se envolvessem no espírito ‘underground’. Por Raquel Lucas e Tiago Paiva
Esta sexta-feira, dia 22 de setembro, o público de Coimbra foi convidado a reunir-se para receber o segundo dia do Festival APURA. À semelhança da tarde anterior, o evento arrancou no Salão Brazil. Desta vez, com um ‘workshop’ de Danças Tradicionais Portuguesas, organizado pelo Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra. A atividade decorreu entre as 14h e as 17h e atraiu os mais interessados para um arrasta-pé apenas a troco de boa disposição.
Após essa hora, todos os caminhos foram dar ao novo espaço da Casa das Artes da Fundação Bissaya Barreto (CABB). Ao longo da tarde, o público foi-se juntando para comemorar, como de costume, a cultura do “subterrâneo”, ao som de toda uma panóplia de géneros e expressões musicais. O primeiro artista a pisar o palco foi Rodrigo Silveira que, apenas com a sua voz e uma guitarra, convidou o público a embarcar numa onda de sonoridades marcadas pelo estilo bossa nova. Com os originais “Vem matar minha saudade”, “Casa muda de lugar” e “Fica mais”, o artista fez da sua atuação um contar de histórias que, juntas, formam a base para o seu primeiro álbum “Pensamento Voa”.
Farofa seguiu-se no programa com a atuação mais extensa do dia e, com cerca de 2h de música eletrónica popular brasileira, fez com que a plateia despertasse. O artista, que já atuou várias vezes em Coimbra, em espaços como o Salão Brazil e a CABB, estreou-se no festival APURA para misturar vários estilos e expor o seu “selo do ‘underground’”. Em 2011, ao vir para Portugal, o Dj cruzou-se com uma “chama de luta e amor” para dar a conhecer a sua cultura. Hoje, marcou presença no evento para apelar a todos que abraçassem o espírito valorizado pela iniciativa e para mostrar a necessidade de se “ter carinho por artistas locais”, visto que, atualmente, “o dinheiro manipula a cultura”.


De seguida foi a vez de Cows Caos mostrar à plateia o seu reportório, numa atuação marcada pelos movimentos exóticos e pela euforia da voz de Rute “Tenor Titz Vagabond”, vocalista da banda, ao som das vibrações do saxofone, da guitarra, da bateria e do baixo. O género musical do coletivo é caracterizado pelos membros como sendo uma mescla de “surf & space rock, psychedelic, tropical, eastern & western”. De acordo com a vocalista, esta designação “muito específica, mas, ao mesmo tempo, bastante vaga” surge da necessidade do grupo de possuir um “rótulo que não seja limitador, mas um abrir de portas para que as coisas possam surgir”.
Em relação ao concerto, a banda prometeu “caos e galhofa submarina e intergaláctica”. Nesse sentido, temas como “Madame Ching Shih”, “Já vi filmes começarem assim”, “Camel toe”, “Cows Caos #1” e “Sunrise Bang” agitaram o terraço da CABB que, mais tarde, foi envolvido num brinde coletivo proposto por Diogo Esparteiro, guitarrista do grupo. Em entrevista ao Jornal A CABRA, o artista referiu que, “após uns valentes anos” sem fazer música, Cows Caos está oficialmente de regresso, tanto que aproveitou a atuação para anunciar o novo EP, “Inspiración”. O projeto consiste num aglomerado de ‘covers’ baseados em temas de inspiração para a banda.
O “cenário caótico” da atuação anterior, instaurado no exterior da CABB, estendeu-se para a atuação de Victor Torpedo and the Pop Kids, com Victor Torpedo e Miguel Cordeiro a vibrarem nas guitarras, acompanhados de Pedro Calhau no baixo, Miguel Benedito na bateria e Ricardo Brito no teclado. Não tardou para que alguns membros do público se apoderassem do palco e tomassem conta da atuação com o grupo. Tanto o seu microfone como os seus instrumentos foram partilhados com a plateia que, sem hesitação, conduziu o fim do concerto num delírio coletivo. Abraçados ao estilo nativo da banda, ambos despediram-se do terraço por volta das 23h30, num ecoar do rock’n’roll por toda a CABB.




Fotografias por Tiago Paiva
Aida Santos, trabalhadora na banca do CoolaBoola Colab, entidade comercial parceira do evento, aproveitou o intervalo entre concertos para falar sobre o ambiente e os artistas que compõem o cartaz do festival. A vendedora referiu que “este tipo de iniciativas é muito importante a nível cultural”, e que “é disto que esta malta precisa, não é só de discotecas”. De seguida, viu a plateia dirigir-se para a cave para assistir a uma performance a solo de Misse Portugal. Com apenas um microfone e alguns instrumentais no fundo, o artista usou a palavra falada para partilhar com o público alguns dos trechos do seu álbum digital, autointitulado. Durante o espetáculo envolveu os presentes num momento pessoal e introspetivo.
O culminar do segundo dia de festival deu-se na localização do costume, a República da Praça, com uma primeira atuação de Instrumental Violence, coletivo composto pelos Djs Operário Febril, Migas, Midori, Spinning Jenny, Bernardo Matos, Fuinki e Ponto. Alternados, trouxeram para a pista sonoridades que variaram entre o techno, o acid house e o trance. Não parando por aí, seguiu-se a performance de Arcana, que fez o público mover-se ao som de batidas que cruzaram o funk, o dance-pop e o reggaeton. Para encerrar a noite, o Coletivo Lenha envolveu o espaço nas suas sonoridades frenéticas, assentes no eurodance e na música techno.
