Debate sobre edifício-sede da AAC, Jardins e antiga Cantina dos Grelhados reúne investigadores e docentes da UC para debater degradação do património. António Pedro Pita, docente da FLUC, reforça necessidade de integrar estudantes na discussão sobre alterações no espaço. Por Ana Filipa Paz
Esta segunda-feira realizaram-se três sessões ao longo do dia, sob o tema “A Academia e a Cidade III: Os Jardins e Edifícios da Associação Académica de Coimbra | Debate – Edifício da AAC Bloco 2/Grelhados”, no âmbito do programa científico que integra as comemorações do 10º aniversário da inscrição do bem Universidade de Coimbra, Alta e Sofia na lista do Património Mundial da UNESCO. A parte da manhã ficou marcada pela intervenção de investigadores e docentes convidados, que apresentaram um contexto histórico do edificado sob tutela da AAC e alertaram para a degradação e negligencia do património. A exclusão dos estudantes nos processos de decisão foi também motivo de discussão.
Com início às 10 horas, a parte da manhã abriu com um discurso do reitor da Universidade de Coimbra (UC), Amílcar Falcão, que sublinhou a importância da criação de momentos de debate como este “para criar mais espaços e condições, em particular para as secções culturais da Associação Académica de Coimbra (AAC)”. Segundo o reitor, a discussão deve ser pensada no sentido de “partilhar e requalificar o espaço, procurando a convergência de entendimentos”.
O reitor mencionou ainda a ajuda fulcral da Direção-Geral da AAC (DG/AAC) na “mobilização das suas gentes” e na passagem de informação sobre o projeto de renovação dos espaços aos estudantes que se seguirem: “Se cada vez que as direções mudarem, as opiniões também mudam, torna-se mais difícil”. Por fim, reforçou a necessidade de diálogo entre os diferentes organismos. A colocação da chapa, a dividir a antiga cantina, não foi mencionada por Amílcar Falcão.
Byrne: “o projeto existe há 15 anos”
Gonçalo Byrne é o arquiteto que estava à frente do projeto para a requalificação dos Jardins da AAC e respetivo edifício-sede pedido e contratado pela AAC há 15 anos. Byrne revela que, na altura, este se encontrava pronto para avançar, mas, por alguma razão que desconhece, acabou por não acontecer. No início do ano, o arquiteto foi contactado pela reitoria da UC para resumir o trabalho no edificado. Contudo, segundo o mesmo, “a universidade e a AAC mudaram, e é necessário perceber o que aconteceu para se adaptar o projeto”. Na sua intervenção na parte da tarde, César Sousa, secretário-geral do Conselho Cultural da AAC, aponta o facto de não ter conhecimento da existência de um projeto para o espaço dos Grelhados e da decisão por parte da reitoria da UC de contratar o arquiteto não ter sido dada a conhecer aos elementos da direção da AAC.
De acordo com Susana Constantino, docente convidada na Amsterdam Academy of Architecture, na altura da realização do projeto que serviu de base à construção original do edificado, foi preenchido um onograma com as necessidades que cada organismo da AAC queria ver satisfeitas na realização da obra. Hoje, com o espaço sobrelotado, devido ao crescente número de estudantes matriculados na UC e pessoas envolvidas na vida da AAC, Gonçalo Byrne apela à DG/AAC que faça o levantamento das necessidades atuais das estruturas da casa. Na sua intervenção, Byrne enfatiza a importância de incluir os estudantes neste processo.
Em entrevista ao Jornal Universitário de Coimbra – A CABRA, Gonçalo Byrne assegura o envio dos desenhos originais já existentes para a AAC. Na mesma linha, anuncia que vai ser elaborado uma tabela com as necessidades das secções culturais, tal como foi feito originalmente, bem como disponibilizar um documento de como usar os espaços do edificado, com saídas de emergência e novas formas de acessibilidade. O arquiteto estima que o projeto “deve ficar definido nos próximos três meses”. O problema reside na duração das obras e consequente aprovação do projeto, “que deve durar no mínimo três anos”.


A resposta à divisória dos Grelhados
Susana Lobo, vice-diretora do departamento de Arquitetura (DARQ) da UC, defendeu que “o espaço da antiga Cantina dos Grelhados tem um potencial tremendo de trabalho no futuro, uma vez que é o único espaço na AAC que tem uma relação direta com o jardim, e querer dividir isto é assustador”. A par disto, a docente lamenta o estado “degradante” das infraestruturas e dos espaços verdes a ser utilizados pela AAC, terminando com uma mensagem de idealização de um jardim mais próximo do projeto original.
Seguiu-se António Pedro Pita, docente da Faculdade de Letras da UC (FLUC), que convidou os presentes a refletir sobre o contributo artístico e cultural que a AAC tem promovido até então, dos problemas e preocupações que foram surgindo e das transformações observadas no seio da academia, à luz do contexto cultural da própria cidade. “As instalações académicas contribuíram para a vivência cultural da cidade”, que foi, “durante muitos anos, produzida pelas secções e organismos da AAC”, relembra.
Desta forma, o professor defende a participação dos estudantes e seccionistas na tomada de decisões que dizem respeito ao programa cultural da academia, validando a luta que a AAC tem levado a cabo nos últimos anos: “Os estudantes têm toda a razão em não querer ser figurantes de um filme que desconhecem. Ou são considerados as personagens centrais da identidade cultural da cidade, ou vão ser sempre aqueles cuja atividade e cujos calendários podem mudar ao sabor de iniciativas várias”.
O passado dos Grelhados
As intervenções de Nuno Rosmaninho, docente da Universidade de Aveiro, e de Susana Constantino, procuraram dar um contexto histórico da obra sob reflexão, lembrando os dois nomes que estiveram na sua origem: os arquitetos Alberto Pessoa e João Abel Manta. Susana Constantino fez ainda a ressalva de que “o primeiro projeto pensado para este espaço incluía as secções desportivas e culturais, com um ginásio e salão de festas”. Neste projeto, “eram previstos três volumes com espaços direcionados aos estudantes, para produção cultural, desportiva, espaço de cantinas, lazer e convívio”.
Luís Reis Torgal, docente aposentado da FLUC, partilhou a sua experiência pessoal e fez um apelo aos estudantes para que assegurem a manutenção e qualidade dos espaços, que, nestas condições, “não reconhece”. José António Bandeirinha, docente no DARQ, denuncia algumas das “malfeitorias indesculpáveis sobre as quais a reitoria não assume culpa e que não podem continuar”.
Podes ler a reportagem sobre a divisória de chapa colocada nos Grelhados no link que se segue: https://jornalismofluc.shorthandstories.com/cortina-de-chapa/
