Desporto

Miguel Ribeiro: “O mais importante no futebol é ganhar”

Larissa Britto

Em entrevista ao Jornal A Cabra e à Rádio Universidade de Coimbra, o presidente da Associação Académica de Coimbra – Organismo Autónomo de Futebol fez um balanço da época e explicitou os motivos que estiveram por detrás das grandes decisões da direção. Ao longo de quase uma hora, Miguel Ribeiro destacou a determinação de todos os elementos das equipas técnicas e dos próprios jogadores, sem esquecer as grandes dificuldades sentidas nos últimos 12 meses. Nesta versão alargada da entrevista, o presidente, de 52 anos, compara a Briosa com o Belenenses, com o União de Leiria e com o FC Porto, e comenta ainda o que aconteceu com o Di Cardoso, a promessa da época, que acabou por sair do clube. Por Larissa Britto e Fábio Torres

Que balanço faz desta época?

Antes de mais, reconhecer que entrámos para um clube que estava numa situação muito difícil financeiramente e assim permanece.

Como sabem é uma equipa totalmente nova, não nos conhecíamos uns aos outros. Entrámos com situações por resolver. Não tínhamos verba para inscrever a equipa e tivemos que fazer um empréstimo junto da Caixa de Crédito Agrícola para a podermos inscrever na Liga 3. Tivemos que fazer esse empréstimo também para pagar os vencimentos logo de imediato porque o saldo era nulo. Isto para podermos meter a Académica a funcionar minimamente para poder encarar a época.

Mas isso entre os membros da direção ou entre os membros da direção com o staff?

Entre os membros da direção. Conhecia alguns, mas não conhecia outros. Não foi fácil encontrar uma direção. Na primeira data de apresentação de candidaturas não apareceu ninguém, inclusive não compareceu a anterior direção. Teve que ser renovado o prazo para apresentação de candidaturas. Foi aí que eu, juntamente com outras pessoas, tentámos organizar uma lista para que a Académica não caísse num buraco ainda maior. Foi com esse espírito de missão que entrámos todos. Cada um foi dando o máximo de si para que se tornasse viável a Académica competir na Liga 3. 

Obviamente que a nível desportivo coube grande parte a mim. Assumo essa responsabilidade. Um treinador com quem andava a falar há 15 dias disse-me a 15 minutos de eu tomar posse que ia para outro clube. Andei mais pelo futebol de formação, que não tem a mesma repercussão que tem uma equipa sénior e profissional, ainda para mais um clube como a Académica, que é um gigante adormecido, mas que nós queremos recuperar. Fiquei desorientado nesse momento. Tive que tomar posse, já não podia voltar atrás.

[Depois] comecei a pensar: agora já não vou falar com um, vou falar com quatro ou cinco. Alguns aceitaram aquilo que a Académica podia dar, que era muito pouco. Optei pelo Miguel porque na altura, daqueles que se mostraram disponíveis, pareceu-me que tinha a lição estudada para abraçar o projeto. Aquilo que vou continuar a defender é que às vezes a prática não se realiza porque dependemos sempre dos resultados. Se eu conseguisse estabilizar o clube até ao nível técnico era porque os resultados estavam a acontecer e a evolução era sempre positiva.

Por exemplo, o Sérgio Conceição foi para o Porto em circunstâncias muitos difíceis mas foi fazendo o seu trabalho bem, está lá há anos, já bateu recordes. Há uma identificação entre os adeptos com o treinador e com o presidente. Tudo isso tem que ser aplicado para estabilizarmos.

Infelizmente isso não foi possível. O Miguel fez o seu trabalho, tenho aqui que lhe agradecer toda a dedicação que teve durante o período que foi o técnico principal da Académica. Eu defendi-o uma semana antes e fi-lo porque tínhamos um jogo a seguir que era perfeitamente acessível, na minha opinião. O Caldas veio aqui ganhar de uma forma expressiva, porque também veio na melhor altura: estava em primeiro lugar, tinha acabado de quase eliminar o Benfica da Taça de Portugal e portanto chegou aqui com moral muito elevada. Por outro lado nós estávamos com ela em baixo depois de perdermos contra o Fontinhas. A equipa começava já a apresentar bastantes anomalias, o que não apareceu de início com o Leiria nem com o Amora. Começou a descair desde a derrota com o Fontinhas. [Defendi-o] com a ideia de que poderíamos ganhar ao Moncarapachense e ao Setúbal e [assim] retomávamos o caminho da estabilidade e da confiança que deveríamos ter.

Sente então que foi a altura ideal para despedir o Miguel Valença?

Foi. Porque perder com o Fontinhas da forma que foi… É certo que marcámos um golo de empate, segundo dizem era legal, mas a exibição foi fraca. Continuávamos a ver que a equipa estava sem confiança. O Miguel está a fazer um bom trabalho no Beira Mar, é um jovem técnico com bom futuro. As coisas não correram bem aqui por qualquer motivo. Se calhar também [porque] apareceu numa altura muito difícil para a Académica.

Acredita que esse cair de confiança que culminou na saída do Miguel Valença teve que ver com algum desequilíbrio na preparação do plantel?

Sim. Isso fica evidenciado a partir do momento em que dispensámos 11 jogadores, em janeiro, e contratámos seis. Foram sempre dedicados, profissionais, tentaram defender da melhor maneira a Académica. Nota-se que são pessoas unidas, que gostam daquilo que fazem, não quer dizer que os outros não façam. O que eu reparo aqui é que há uma maior proximidade com o clube. Havia também um gosto por estarem a jogar na Académica. A Académica na Liga 3 é um clube desejado. Eles sentiam orgulho nisso e sentiam que não estavam a corresponder à exigência do clube, mas sempre deram o máximo. As coisas não correram bem, por isso fomos alterando. Houve aqui essa precipitação na construção do plantel. Com o pouco tempo que dispúnhamos, houve quase uma obsessão de termos o grupo fechado. Tínhamos um ou dois jogadores que vinham da época anterior: o Vasco Gomes e o João Tiago. Metemos três juniores também, e isso sem esta necessidade imperiosa talvez não se tivesse construído melhor grupo.

Com os resultados, ao princípio até havia apoio, mas começou a haver contestação, os resultados começaram a não aparecer, começou a haver falta de confiança. Teve que se agitar as águas.

A Académica, como sabem, está em dificuldades financeiras. Tínhamos já há data um processo para declararmos a nossa insolvência e apresentámos um plano de recuperação. O risco disto tudo era a Académica SDUQ ter que fechar as suas portas e nós descermos à distrital e reiniciarmos a nossa caminhada desportiva.

Na Académica, neste momento, há falhas, o clube não está devidamente organizado. Pessoas como o Miguel entendiam isso porque eram da casa. Eu entendi que o Zé Nando, conhecendo os problemas da casa, também iria ser tolerante. [O Zé Nando] tinha contribuído de certa maneira para a construção do plantel a partir de determinada altura e vivia permanentemente perto da equipa. Eu pedi ao Zé Nando se podia assumir, porque não me ia colocar custos. Subiu-se um bocadinho o ordenado dele. É notório que a equipa começou a ser mais forte. Eles abdicaram de verbas até ao final da época, pelo que foram nesse aspeto bastante tolerantes e compreenderam a situação da Académica.

Ganhámos ao Setúbal e empatámos com o Belenenses. Há uma série de coisas aqui que melhoraram. Fomos ganhar ao Amora e ao Sporting. Lembro-me que no jogo contra o Fontinhas estavamos em oitavo lugar e tínhamos passado quase a primeira volta e segunda em último. O Zé Nando fez um bom trabalho.

Vamos pegar no exemplo do Belenenses: era impensável [subir]. Há estes sortilégios. Trabalhou bem porque também tem o mesmo presidente há seis anos. E o Belenenses foi repescado, porque quem subiu foi o Fontinhas e o Moncarapachense, e justifico porquê: há estabilidade. [O Belenenses] é capaz de ter aqui uma ascensão meteórica. Parabéns ao Belenenses e ao Leiria por terem subido de divisão. O Leiria anda há anos para subir de divisão e [conseguiu, porque] desta vez tinham recursos que a Académica não tem.

Há aqui algumas lutas um bocado desiguais. Por isso é que disse: o quarto lugar primeiro. O Belenenses reforçou-se muito bem em janeiro, que era o que poderíamos fazer também eventualmente, com uma dinâmica de vitórias. [Assim] poderíamos ter mais apoios da região, da cidade, e talvez ter dinheiro para ir buscar jogadores e ter uma equipa muito mais forte para atacar a subida de divisão.

Houve ali uma melhoria nessa altura mas depois há uma quebra novamente com o Zé Nando. A que é que isso se deveu? Teve que ver com o extrafutebol? Acha que o processo jurídico pode ter tido alguma influência?

Há coisas que a própria razão desconhece. O facto é que havia aqui um certo receio de a equipa poder cair, então foi aí que dissemos que se calhar temos que agitar as águas outra vez. Não foi uma posição que pessoalmente quisesse. O presidente não é autocrático, tem que ouvir o que as pessoas pensam. A decisão foi tomada, e a partir daí fui à procura de um novo treinador. Apresentei o Tiago Moutinho e foi aceite. 

O Tiago Moutinho foi a primeira opção?

Não. Era difícil vir para Académica na condição em que a Académica estava. Houve nomes que contactei e a aposta no momento era que tinha que ser um nome forte. Acabou por vir o Tiago Moutinho, que já tinha feito um bom trabalho na Sanjoanense e teve coragem de vir para cá. Veio sozinho, não trouxe ninguém da equipa técnica. Teve coragem e eu admiro-o por isso.

Ele disse logo: “treinador, eu quero ir treinar a Académica e vamos arranjar aqui uma solução”. São estas pessoas que são precisas, pessoas corajosas, como nós, que em junho do ano passado tivemos que partir para esta demanda, que foi exigente.

Houve um treinador bastante conhecido, que até já subiu equipas, que se virou para mim e disse: “ó presidente, se fosse em janeiro eu ia já, mas agora já é tarde. Foi mais ou menos isso: o timing. Quando perdemos aqui em casa com o Real Massamá tive quase duas semanas a receber nomes de treinadores para virem substituir Zé Nando e mantivemo-lo. Naquela altura tínhamos uma ideia definida daquilo que pretendíamos.

Sentiu que as pessoas não estavam a perceber o estado em que a Académica se encontrava? Sentiu o apoio dos adeptos? Sentiu que houve ali algum ressentimento de ambas as partes?

O mais importante no futebol é ganhar. Fiquei triste por termos perdido este jogo, aqui em casa, com o Moncarapachense e o resultado em termos de efeitos práticos era zero, mas a Académica tem que ganhar. O que os adeptos querem é que o clube ganhe. Se nós entramos em campo e perdemos, ficamos tristes. Há alturas em que ficamos mais porque são decisivos, o que não era o caso. É certo que quando se perde é colocado tudo em causa. Quando se ganha nem tudo está bem. É preciso perceber porque é que ganhámos, tal como reparamos que quando perdemos nem tudo está mal. Se calhar temos que proceder a alterações, ou sermos mais resilientes e tenazes no sentido de aguentarmos as críticas, sabendo que estamos bem. Os adeptos contestam mesmo que estejam os salários em dia, como é o caso. Esta época podemos garantir que chegamos a junho e todos os jogadores receberam os prémios e os salários e os trabalhadores também: isso não acontece na Académica há anos. Isto foi tudo um processo evolutivo. Eu em maio do ano passado não era presidente. Hoje estou numa posição completamente diferente. Já sei onde é que temos que melhorar e onde é que podemos ser mais exigentes.

Foi isso que o Tiago Moutinho trouxe à equipa, confiança?

O Tiago Moutinho trouxe um discurso ambicioso. Não entro em balneários, não ouço o que é dito lá, a minha filosofia de trabalho é deixar cada um no seu lugar e que assumam as responsabilidades de trabalho. Mas, obviamente, as coisas são faladas por ‘staffs’. O discurso é ambicioso, positivo, de confiança. Ganhou sete jogos e perdeu este último. Empatámos no Fontinhas, onde é extremamente difícil jogar, porque há ali [diversas] situações… Isso para mim não é futebol: andar a agredir os colegas de profissão. Ser agressivo é uma coisa. Agora ser violento e usar a sua capacidade física para agredir… Não aceito uma coisa dessas. O Tiago acabou por ser expulso numa situação dessas. Aquele empate pareceu ouro, porque depois garantimos a manutenção. Nós nunca devemos facilitar no futebol. O Oliveira do Hospital não desceu no último minuto e estavam em melhores condições que nós. Acabou por perder, mas marcou um golo aos 89 minutos que os safou. Nesse dia houve também motivação por parte dos jogadores e empatámos. Foi uma festa como se tivéssemos ganhado. Mas é assim, é um sabor agridoce. A Académica joga para a manutenção na Liga 3, mas com as circunstâncias em que isso decorreu – o contexto eleitoral, o quanto andámos a perder, com contestação máxima. Acabámos por ganhar ao Amora. Eu imagino se não tivéssemos ganhado o que me teriam feito.

Correu tudo bem, tivemos tempo para treinar, empatámos e conseguimos a permanência. Depois fomos ganhar ao Caldas, com quem na primeira volta perdemos duas vezes e agora ganhámos duas. No entanto, isto do Moncarapachense foi imperdoável porque acho que, com todo o respeito, foi a pior equipa da Liga 3 que eu vi jogar.

Podemos ver o Miguel Ribeiro durante mais 5 anos, à frente da Académica?

Não sei quanto tempo vou cá ficar. No dia em que o Miguel Ribeiro achar que a sua presença não é boa para a Académica, eu saio ou não me candidato. Eu só estarei aqui enquanto achar que sou útil, que posso contribuir para o projeto que temos para a Académica. Estou aqui no lugar de presidente para recuperar o clube que é a minha paixão. Desde que me conheço que vivo a Académica com intensidade, quer em funções, quer como adepto. Às vezes perder leva-me às lágrimas, mas também há lágrimas por ganhar – como foi na final da taça em 2012. Há cinco meses pediram a minha cabeça, não sei se ainda pedem. A única coisa que têm da minha parte é seriedade, transparência na forma como lido com as pessoas, credibilidade, bem como dar à Académica e aos adeptos condições para que cada fim de semana vivam o prazer da vitória.

Aos dias de hoje, como considera que é a relação entre os membros da direção?

As divergências existem até nos seios das famílias. As pessoas analisam as coisas em perspectivas diferentes, porque são sensibilidades e idades diferentes. É lógico que existem divergências, mas o que pode circular pela cidade não tem fundamento. Não venham dizer que a direção da Académica é a única em que não existe unanimidade. Uma coisa é certa, remamos todos para o mesmo lado para cumprirmos o mesmo objetivo. Não há aqui nenhum objetivo pessoal de ninguém, o que nos interessa é colocar a Académica no rumo certo.

Quando nos apresentámos às eleições foram feitas promessas. Recordo-me perfeitamente que uma das promessas dizia que em quatro anos gostaria de colocar a Académica na primeira divisão e ainda é possível. Isso é uma opção? Não é. É um desejo. Se eu deixar a Académica na Liga 2 ou em condições excelentes para subir à Liga 2 ou à Liga 1, já está cumprido o meu objetivo. Nós temos que pôr os nossos níveis de exigência elevados para conseguir, pelo menos, atingir um bocadinho melhor do que onde estamos. É essa a luta.

Uma das promessas que foi feita e uma das coisas que foi muito falada ao longo da campanha do ‘Roadshow’ e as questões dos investidores?

Essa, efetivamente, foi a criação de um departamento de ‘scouting’, que está em formação, porque as coisas também não são em um estalar de dedos. Por isso que existem os mandatos, para podermos saber as coisas que estão bem, para mantê-las e implementar novas ideias, isto em qualquer ramo de atividades, inclusivamente na política, na gestão, etc.

Isto também acaba por ser gestão desportiva e financeira. Eu na altura tive uma série de pessoas que viram que era possível fazer um RoadShow. E tentar cooperar/recuperar empregos da região para uma futura ação. Mas eu não disse que era a única solução, inclusive, eu, em várias Assembleias Gerais, disse que estava em conversas com Dª Ana Guerreiro.

Ela já respondeu aos e-mails?

Não, neste momento ainda não respondeu. A partir de uma altura que deixou de responder. Com todo o respeito que merece, a pessoa apresentou um projeto para a Académica que, em determinados aspetos, não seria bom e eu queria discutir isso com ela e ela comigo. Não chegámos ao ponto de podermo-nos encontrar para discutir esses planos, mas foi sempre correta e eu com ela. Houve sempre aqui nenhum tipo de tensão ou conflito.

Durante o período, o que aconteceu, que me impediu, foi precisamente o processo de insolvência, porque quando surge o processo de insolvência ninguém quer negociar com uma Sociedade que pode vir a ser declarada insolvente, que não foi o caso felizmente. Então, o que aconteceu? Tive esse período em que não tive nada de concreto, tem havido uma ou outra negociação, mas está tudo em aberto.

30 de abril, salve o erro, foi quando transitou o julgar do processo. Estamos em maio e continuamos em conversações. Essa questão do ‘RoadShow’ não está posta de lado, como é evidente, mas podem vir as empresas da região, como pode vir um projeto, que pode até ser melhor. Um projeto que dê mais garantias de poder atingir os objetivos a que nos propusemos, mas sempre garantindo aquilo que é fundamental para Académica, que é o seu nome e o seu símbolo.

Podemos esperar alguma novidade em relação ao modelo societário e investimentos até o início da próxima temporada?

O que lhe posso dizer é que foi mesmo uma oportunidade e eu quero fazer mais uma vez um louvor público ao Doutor Luís Filipe Pirré, que foi fundamental para o êxito deste processo. De facto, hoje estamos numa posição muito melhor graças ao Dr. Luís Filipe Pirré, porque se ele não conseguisse essa vitória, se calhar neste momento a Académica estaria na distrital. Isso deve-se também ao Doutor João Cruz. Quero dar-lhe um louvor público, que foi o administrador judicial durante este período.

O que eu posso dizer é que neste momento, na Académica, está muito mais fácil falar com as pessoas do que estava antes. Nós neste momento devemos pegar neste dinheiro e investir na equipa porque a Académica tem condições de pagar as suas dívidas. Uma coisa é certa: eu gostaria de cumprir uma promessa, a de tentar pagar o que está para trás dos funcionários. Não é fácil, mas eu acho que quem trabalhou tem que receber. Eles têm que pagar as responsabilidades de casa, [cuidar] dos filhos, [tratar] da alimentação e a Académica está em dívida para com os seus trabalhadores.

Então não há garantia que haja novidades em relação ao modelo societário?

Pode haver, não vou assumir aqui. A única coisa que eu posso assegurar e afirmar é que tenho falado com pessoas.

Até agora temos falado da época que aconteceu, como é que está agora a preparação para a próxima?

A nossa vontade é que o Tiago Moutinho permaneça, estamos em conversações, mas estas não passam só por questões monetárias, existem outros tipos de itens. Depois, também temos noção do que é preciso e o nosso ‘scouting’ também já tem analisado alguns casos. Tem que haver decisões rápidas para não perdermos tempo, porque se calhar há ouros clubes que já se estão a organizar. Esta decisão tem que ser tomada o mais rápido possível para podermos avançar com a nova época, que também concebe a existência de um diretor desportivo, que é também para libertar o presidente para outras ações.

Do atual plantel, quantos têm contrato para próxima temporada?

Neste momento, acho que são três ou quatro que têm contrato, portanto a grande maioria está em fim de contrato e terá que ser renovado. Já foi iniciada a renovação de alguns jogadores.

Qual é o objetivo para a próxima temporada?

Na próxima temporada, o objetivo é o mesmo da época passada: chegar aos quatro primeiros lugares. Para o ano vai ser um formato diferente. Vão ser dez equipas em cada Série e o formato vai ser diferente quer na despromoção, quer na promoção (na próxima época, a fase de promoção vai contar com as quatro melhores equipas de ambas as séries numa série de oito). As pessoas, às vezes, não viam a dificuldade. Eu refiro circunstâncias e contextos. Parece que estava tudo mal para a Académica. Reparem só: ano de eleições, sai uma equipa que esteve aqui seis anos a dirigir a Académica para entrar uma totalmente nova; o plantel são dois ou três jogadores; temos que pagar a todos os jogadores para podermos competir; e entramos com menos um ponto, sem termos responsabilidade por isso; jogamos à porta fechada, também sem ter responsabilidade nisso; ainda para mais, acresce uma situação que é descerem o dobro das equipas; e além disso nós passamos a época quase toda em último lugar. Não imaginam o sofrimento dos adeptos e o meu.

Face a essas circunstâncias e todo esse contexto, [o fim da época] foi um descarregar, um alívio, porque eu estava a ver que as coisas podiam realmente piorar e aí as dificuldades iam triplicar ou quadruplicar. Felizmente não. Terminamos bem a época, com uma série de vitórias, exceto o último jogo.

O que aconteceu no último jogo, que foi entrada gratuita, foi algo que o União de Leiria fez durante a época toda. É possível com as ajudas financeiras e com o apoio da CMC fazer algo parecido, para ter mais pessoas nos estádios?

Se o Leiria conseguiu, porque é que nós não conseguimos? Eu tenho que ver a abertura de toda a gente. Eu lembro-me, há uns anos, que o Sérgio Conceição, na Primeira Liga, comprou uma bilheteira. Não sei quanto dinheiro que deu. O Sérgio Conceição também podia comprar uma bilheteira [da Académica] e depois falar com os Xutos e Pontapés para vir aqui fazer um concerto gratuito à entrada, porque o Zé Pedreira era sócio da Académica, inclusivamente foi mandatário de uma lista do Doutor Sampaio Nora. A Câmara dá apoio, no sentido de dar a parte logística. Colocamos ali um palco fora, ou no final ou no início e vinha aí muita gente. Há muitas formas de mobilizar, basta que as pessoas se disponibilizem. E existem ideias nesta casa. Às vezes encontram-se alguns obstáculos. Logicamente não somos o único clube da cidade, mas somos de longe o mais representativo e, sobretudo, a nível regional, nacional, ao longo deste ano, consegui perceber, com todo o rigor, enquanto presidente, pois nunca tinha tido este papel, a dimensão nacional e internacional que a Académica tem. Adoram a Académica, mas depois dentro de campo, só nos querem é ganhar.

O que falta para termos a cidade unida em torno da Académica?

Falta acreditar que é possível. Com pequenos contributos de cada um é possível acelerar aquilo que todos nós desejamos: ter uma cidade, como Coimbra, com a história de Coimbra, que já foi capital de Portugal e ganhou duas taças de Portugal, unida. É mantermos a nossa Queima das Fitas, mantermos a nossa Universidade [de Coimbra] com o prestígio que tem e mantermos a nossa Académica com o prestígio que merece ter, que sempre teve, mas que neste momento foi um bocadinho abaixo. [A Académica] estava em coma e nós queríamos retirá-la do coma. Ainda está a cambalear, precisamos de dar mais umas injeções de adrenalina e daí preciso solicitar a todos que nos ajudem. E quando peço ajuda, não é uma coisa simples. [É claro que] também temos que procurar a cidade, como é evidente, porque não é só pedir. [Ainda assim] gostávamos de ter a recetividade que às vezes falta.

O que se passou com o Di Cardoso?

É assim, o Di Cardoso teve uma lesão muito chata num jogo-treino com o Oliveira do Hospital. Teve ali um bocado para recuperar. Provavelmente a exigência que foi colocada ao Di Cardoso pode ter-lhe tirado a ‘performance’ que vinha a ter. Aqui, publicamente, digo que [os juniores que subiram] são três jogadores que interessam à Académica: o Stitch, o Diogo Amaro (Duce) e o Di Cardoso. O futebol tem momentos bons e maus e nos momentos maus também temos que estar aqui para dar a mão. Quando as coisas não correm bem, não basta só acusar, não basta só lançar às vezes boatos. Quando não se sabe da verdade por completo, claro que pode haver uma ou outra tensão, o que é normal em todos os clubes, mas estamos interessados que o Di Cardoso volte a brilhar com a camisola da Académica.

Este ano três juniores jogaram a época toda com os seniores e todos foram titulares. O Stitch quase sempre foi titular. O Duce quase que já assumiu a posição dele. Acho que isso não acontecia na Académica há anos. Temos juniores a serem apostas efetivas e queremos mais.

Com ajuda de Pedro Andrade (RUC)

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