Ensino Superior

Cravos pintam as ruas de Coimbra

Sam Martins

Manifestação de celebração do 25 de abril de 1974 encheu cidade. Aponta-se necessidade de continuar luta pela liberdade. Por Daniela Fazendeiro e Sam Martins

Ao som de “Grândola Vila Morena” e de palavras de ordem como “somos muitos muitos mil para continuar abril” e “o povo unido jamais será vencido”, ocorreu esta terça-feira uma manifestação para celebrar mais um aniversário da revolução dos cravos. Sob o lema “25 de abril sempre!”, os manifestantes desceram da Avenida Sá da Bandeira até ao Pátio da Inquisição. A coordenação foi liderada pelo Ateneu de Coimbra pelo 11º ano consecutivo, e contou com o apoio de 73 outras organizações culturais e artísticas.

A vice-presidente do Ateneu de Coimbra, Beatriz Rosa, explica que esta organização foi “sempre um baluarte de resistência ao regime fascista”, já que diversos sócios e dirigentes foram presos durante a ditadura. “Houve quem lutasse, mas era perseguido, preso, torturado e enviado para o campo de concentração do Tarrafal”, relata.

Beatriz Rosa, que tinha 20 anos na altura da revolução, acredita que, ao fim de 49 anos, existe a necessidade de comemorar a data, porque a democracia está sob constante ameaça. Sublinha ainda a indispensabilidade da vigilância, pois “o fascismo está à espreita e a liberdade não é um dado adquirido”.

A membro da direção relembra que a conquista da liberdade foi um processo lento de consciencialização transversal a todo o povo português. A preocupação de reforçar o dever de defesa e manutenção dos valores de abril, através de uma ponte entre os mais velhos e os mais novos, é apontada por Beatriz Rosa. “Reverter o progresso não é uma opção”, reitera.

O presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra, João Caseiro, defende que a celebração deste dia serve para impedir o esquecimento do passado e para batalhar pela melhoria constante da democracia. Evoca a relevância de transmitir as liberdades conquistadas à comunidade estudantil atual e menciona que existe “uma relação umbilical entre a crise académica de 1969 e a revolução dos cravos”.

Maria Zarro e Leonor Gama, estudantes da licenciatura em Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (UC), partilham da opinião de que é necessário continuar a luta “contra os inimigos da liberdade”. Defendem ainda que o 25 de abril culminou na libertação de Portugal da censura e é o dia mais importante na sua história.

Damas Morais, estudante na Escola Superior de Educação de Coimbra, e Miguel Lopes, estudante na Faculdade de Economia da UC, argumentam que a consciencialização das promessas que ainda estão por cumprir é uma das razões pelas quais saíram à rua. Damas Morais retrata a revolução como “a esperança das chances mais pequenas acontecerem da melhor maneira possível”.

Ricardo Kalash, ator de profissão, assevera que a revolução deu a possibilidade de se poder fazer questionamentos e obter as respostas que se quer. Além do mais, aponta que o crescer dos preconceitos é uma das razões pelas quais não se deve deixar o espaço público vazio. Beatriz Bernardo, estudante na Faculdade de Direito da UC e membro do Movimento Democrático das Mulheres, declara que, para si, este é “o dia mais bonito do ano por tudo o que representa e pelo quanto mudou a vida das pessoas para melhor”.

Beatriz Rosa afirma que a adesão ultrapassou as expetativas e que o número de organizações envolvidas aumentou de 60 para 73. O protesto encerrou em tom de festa com atuações dos L’Echo des Avens e do Grupo de Concertinas “Sons de Casconha”.

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