Com o seu segundo mandato consecutivo pela frente, o reitor da UC faz um balanço positivo dos últimos quatro anos. Foram abordados temas como o edificado da instituição, as repúblicas, a ação social, endogamia e a necessidade do diálogo entre a reitoria e a comunidade estudantil. Por Luísa Macedo Mendonça e Simão Moura
BALANÇO DO MANDATO ANTERIOR
Que balanço faz do mandato anterior?
Creio que o mandato anterior foi muito atípico, não creio que nenhum reitor alguma vez tenha tido quatro anos como eu tive. E, dentro do atípico, creio que correu bem. Se podia ter corrido melhor? Pode sempre, mas não era fácil fazer melhor do que o que fizemos, independentemente de termos corrido erros. Enfim, uma pandemia; na parte final, a guerra; o falecimento de um professor do Conselho-Geral (CG) que era muito importante na nossa estratégia; o falecimento do Cesário Silva, entre outros. Além desses, também houve outros problemas extra, como questões financeiras com o Governo, e questões de outro tipo, como de diplomas legais, portanto, tivemos muitos problemas para resolver e, enfim, gerir uma pandemia é uma coisa insólita. Fala-se na gripe espanhola, mas aí, há cerca de 100 anos, a Universidade de Coimbra (UC) simplesmente fechou. Nós não, mantivemos tudo a andar. Fiz questão sempre de que os estudantes não tivessem o seu percurso académico prejudicado. Prorrogámos todos os prazos para tudo o que era necessário, montámos muito rapidamente o sistema online, ao princípio mais fraco, depois foi melhorando, nunca parámos os exames online, fossem presenciais ou híbridos e, portanto, eu creio que o mandato é positivo nesse sentido.
“Pode sempre [correr melhor], mas não era fácil fazer melhor do que o que fizemos, independentemente de termos corrido erros”
Do ponto de vista financeiro, conseguimos manter bem as coisas, apesar de um enorme impacto que tivemos no turismo, que passou para 0 a certa altura. Não tínhamos turismo nenhum, como é óbvio, o que para as nossas contas faz diferença; Também nos SASUC, onde tivemos uma redução enorme de camas; As cantinas passaram para valores muito baixos, na ordem dos 30% daquilo que era normal, por comparação. Penso que até fomos os primeiros a iniciar o takeaway nas cantinas, portanto, eu acho que fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.
Nunca tivemos surtos, realmente nunca tivemos surtos na UC. Colocámos o sistema dos fluxos unidirecionais, as cancelas, as entradas direcionadas, tudo o que tinha que ver com o que, à época, era o que se sabia, das máscaras, da higienização.
“Do ponto de vista socialização e até de conhecimento da Universidade, das suas tradições, da vivência extracurricular, tudo isso foi profundamente afetado e isso tem um preço que estamos e vamos continuar a pagar”
Paralelamente, fizemos muito trabalho de organização dentro da Universidade e, do ponto de vista digital, fizemos uma transição digital quase à força. Na nossa administração seguramente 70- 80 por cento do papel, hoje, já não se utiliza. Eu praticamente faço 99,9 por cento do que faço não é em papel, é digital. Hoje em dia, entretanto, apareceram aplicações como a UC teacher e a UC student; temos o lançamento das notas online com assinatura digital, etc. Portanto, mudámos muito. Tenho dito, e é verdade, para o bem e para o mal. É óbvio que estamos mais avançados tecnologicamente no nosso ensino digital do que os próprios professores estão adaptados à ideia de que o futuro vai ser bastante diferente do passado, até porque os anos de pandemia afetaram bastante toda a gente, sobretudo os extremos etários. Houve colegas vossos que passaram aqui o curso quase sem terem tido aulas. Do ponto de vista socialização e até de conhecimento da Universidade, das suas tradições, da vivência extracurricular, tudo isso foi profundamente afetado e isso tem um preço que estamos e vamos continuar a pagar no futuro, mas enfim. Isso foi connosco e foi com todos, não há aqui diferenças em relação a isso.
Houve sempre uma preocupação muito grande com a segurança das pessoas, não é? Eu creio que se fez o trabalho que se poderia ter feito. Claro que, dentro do meu programa de candidato a reitor, muita coisa teve que ser adaptada, apesar de termos conseguido uma execução do plano estratégico muito elevada, na ordem dos 90 por cento, o que acho que é importante. Ficaram coisas por fazer e outras que gostava que tivessem sido feitas a ritmos diferentes, mas acho que a Universidade no seu todo, nós, o Governo, a Reitoria, o CG, o Senado e os estudantes tiveram um comportamento impecável. Toda a gente percebeu que era um período excecional e tentamos ajudar-nos todos uns aos outros. O que eu sempre disse é não deixar ninguém para trás e acho que foi conseguido de uma forma exemplar, até do ponto de vista social.
CANTINAS
Uma das questões que também levantou algum descontentamento ao longo do último mandato foi as filas nas cantinas. Nesse sentido, eu perguntava-lhe porque é que algumas cantinas não foram reabertas e se há planos para alargar a oferta do prato social ou abrir mais cantinas.
A cantina da Sereia é um caso à parte, porque tinha uma utilização muito residual por parte da comunidade académica. Para além de estar com problemas estruturais importantes e a necessitar de obras, não era um espaço nosso, mas da Câmara Municipal de Coimbra (CMC). Existia um acordo com a CMC em que uma parte importante das pessoas que iam comer à cantina eram pessoas que trabalhavam para a CMC, ou os chamados “sem-abrigo”. Depois, era uma cantina que estava a servir mais as escolas secundárias daquela região. Portanto, os nossos alunos não iam muito àquela cantina. Nós temos os números, não o tenho de cabeça, mas é residual. Não ultrapassará os 20 por cento. Não era uma cantina que merecesse o nosso esforço, que os recursos humanos eram nossos. A alimentação éramos nós que punhamos lá e as cantinas não são feitas para dar dinheiro, portanto, estávamos a ter prejuízo sem que a CMC tivesse qualquer intervenção na nossa operação. Entre as obras de recuperação e o desequilíbrio que havia entre a procura e a oferta por parte dos estudantes da nossa Academia, não se justificava ter aquela cantina aberta, portanto, essa fechou por esse motivo tão simples, e claro que a pandemia acelerou o fecho: as coisas, quando estão fechadas, degradam-se.
“Existia um acordo com a CMC em que uma parte importante das pessoas que iam comer à cantina eram pessoas que trabalhavam para a CMC, ou os chamados “sem-abrigo”. (…) A alimentação éramos nós que punhamos lá e as cantinas não são feitas para dar dinheiro, portanto, estávamos a ter prejuízo sem que a CMC tivesse qualquer intervenção na nossa operação”.
Em relação à outra parte da pergunta, nós gostávamos (e eu espero) que se consiga abrir mais uma cantina. Aliás, nós gostávamos de ter uma grande cantina no pólo I, mas isso não é possível, já analisámos e não há espaço para o fazer. Portanto, vamos ter que manter as Azuis e as Rosa. Vamos, obviamente, requalificar ambas, assim como as Químicas, e estamos a pensar como é que podemos fazer, visto que há alguma possibilidade, penso eu, de arranjar mais espaço para pôr cantinas no Colégio de Jesus ou mesmo no Colégio de S.Jerónimo. Não é fácil, mas é capaz de ser possível.
“[Nas cantinas Amarelas] Nós alteramos para social a pedido e agora não querem por causa do espaço, assim é difícil. Mas pronto, vamos fazer o que pudermos”
Temos um problema que tem que ver com as Amarelas, que estamos a pensar como é que vamos resolver, mas temos que conversar com a AAC. As Amarelas foram pensadas para não ter refeição social. Depois houve uma exigência da AAC para ter. Nós pusemos lá essa opção e, agora, a conclusão a que se chega é que, se abrimos lá a refeição social, é uma cantina que não tem espaço para os estudantes irem para uma coisa ou para a outra. Esse é um processo que tem que ser negociado com a AAC, perceber se querem lá social ou não. Se não querem, então que se ponha lá outra coisa, enfim, não sei o que lá há porque eu não vou lá, mas há outras coisas, não sei, croissants ou qualquer coisa, para aproveitar o espaço, tendo em conta que há lá uma parte que não está a ser aproveitada. Nós alteramos para social a pedido e agora não querem por causa do espaço, assim é difícil. Mas pronto, vamos fazer o que pudermos.
Em relação às filas, sempre houve filas. Ando aqui há 30 anos e como estudante também tinha filas. Não estou a dizer que é agradável, não estou a dizer que estão melhor, mas houve um problema que eu penso que no próximo ano letivo vai ser corrigido (acho que neste segundo semestre já está a ser corrigido) que diz respeito aos horários dos estudantes nos diferentes cursos e faculdades. Antes de 2019 já tínhamos detetado isso, o problema já existia. Para terem uma noção, nós hoje estamos a 90 por cento do que estavam em 2019, portanto, estamos com menos 10 por cento de pessoas a utilizarem cantinas. Em 2016/2017 fizemos um trabalho junto das faculdades para que, ao fazerem-se os horários, tivessem o cuidado de pôr as aulas a acabar ao meio dia e meia, a acabar à uma, a começar às duas, para não ir toda a gente à uma hora comer. Este ano letivo o que aconteceu foi que as faculdades esqueceram-se disso e voltaram aos horários em que todos saem à uma e, nessa situação, não temos hipóteses nenhumas. É como uma companhia aérea no pico do verão, quer dizer, toda a gente vai de férias e quer fazer voos entre 29 de julho e 2 de agosto. Não há pilotos nem aviões que cheguem. Aqui é a mesma coisa. Nós temos que ter os estudantes a serem libertados para irem comer à cantina de meia em meia hora, e espero que isso aconteça já em setembro. Já pedi aos diretores, portanto também está nas mãos deles fazer isso.
EDIFICADO
Após a queda da pala das cantinas Azuis, a reitoria disse que fez um levantamento dos espaços da UC.
Está a ser feito, começamos pelos pontos críticos.
Pegando por essa questão, qual é que foi a equipa alocada a esse levantamento e a que conclusões é que chegaram e estão a chegar?
A equipa em concreto são os nossos serviços na área do edificado que têm a tutela do vice-reitor Alfredo Dias. Eu não percebo de engenharia civil, ele é que percebe e ele é que está a gerir o assunto. Aquilo que eu falei com ele, naturalmente, foi logo dar prioridade a todos os locais que nos foram indicados por alguém. Para além disso, o que vos posso dizer é que o edifício das cantinas Azuis foi identificado com necessidade de requalificação, enfim, urgente, no sentido de que daqueles todos que foram vistos, era o que estaria em pior estado. Não da queda de nada, mas de coisas como pinturas, janelas e coisas desse género. A queda da pala foi, de facto, uma coisa insólita. Aliás, andaram a revestir o telhado das cantinas há dois, três ou quatro anos, portanto, não há assim tanto tempo e andavam pessoas em cima da pala.
“[A pala das cantinas Azuis] devia ter dois pilares que nunca teve e, portanto, a pala nunca foi concebida para estar assim, foi concebida para ter pilares.”
Eu naquele dia até estava no Colégio da Trindade, estavam cá a ministra e o secretário de Estado do Ensino Superior da Ciência e Tecnologia a apresentar o novo modelo de entrada na universidade, nos politécnicos e no ensino superior. Eu estava lá sentado e vi a foto e fiquei em pânico. Perguntei se havia vítimas, disseram que não houve nada, felizmente. Eram 15h20 quando aquilo caiu e depois disseram-me que o vice-reitor estava a ir para lá, portanto, se estava o vice-reitor a ir para lá, também não vou para lá fazer nada porque aquela pala há de ser pesadíssima e também não percebo nada. O meu problema era as pessoas, como é lógico, mas vi a foto e fiquei impressionado. Quando a pessoa olha para a parede onde a pala estava, parecia cortada à faca, uma coisa impressionante. Eu perguntei ao vice-reitor Alfredo Dias como era possível uma coisa daquelas cair assim, porque o normal de uma pala, de uma varanda, de qualquer coisa suspensa é começar a ceder, não é? Começa a ceder um bocadinho, a pessoa vê que aquilo está a ceder e mete lá uma estaca. Aquilo não cedeu, aquilo caiu. Depois procurámos e a conclusão a que chegamos é que se tratou de um erro estrutural de origem, ou seja, de há 60 ou 70 anos, quando aquilo foi feito. Supostamente, devia ter dois pilares que nunca teve e, portanto, a pala nunca foi concebida para estar assim, foi concebida para ter pilares. Lá acharam que era feio, não sei, mas foi quando aquilo foi feito. Nós temos as fotos e o plano originais e já está lá a pala. Eu pensava que tinha sido uma coisa posta à posteriori, mas não, é original, e infelizmente caiu.
“Naquela zona ali entre o Departamento de Física e de Química não há risco de queda nenhuma, até porque os pilares impedem qualquer queda.”
Entretanto saiu o comunicado do NEQ/AAC…
Isso não tem nada que ver com a pala. Nem tem que ver com problemas estruturais.
O que dizia lá era que tinha a ver com riscos de queda. Se não é assim, pode esclarecer?
Vamos lá ver, aquela zona ali entre o Departamento de Física e de Química não há risco de queda nenhuma, até porque os pilares impedem qualquer queda. O problema é que nós queremos requalificar a zona, temos um plano para requalificação da parte de cima e de baixo. Não sei se conseguiremos fazê-lo em tempo útil, porque há muitas requalificações a fazer, mas queremos mexer naquilo, nas cantinas das Químicas (que também tem algumas infiltrações), no chão e nos lagos. Aquilo, na minha ótica, tem um aspeto que não é agradável, infelizmente, e num sítio tão bonito, que até tem vista para o botânico é uma pena não ter outro tipo de aspeto. Acontece que, para recuperarmos aquela zona, estamos a falar de uma obra de vários milhões, de receita própria, e não é fácil pegar em dois ou três milhões de euros e meter ali. Por outro lado, do ponto de vista estrutural, se me disser “aquilo precisa de uma pintura, a calçada tinha que ser arranjada”, isso sim, mas cair alguma coisa não cai nada. O que acontece é que, ao longo dos anos, especialmente na parte de baixo, da zona da cantina, junto das oficinas que ali há, entre sem-abrigos e irem para lá fazer necessidades e não sei o quê é, uma barbaridade. É uma zona onde, quando há movimentos deste tipo, fica num estado absolutamente… coiso. Depois tenho queixa dos professores que de manhã querem ir dar aulas e não dão porque dizem que ainda está lá o pessoal aos berros e aos pulos e bêbados. O que foi dito é que não há condições naquele local para fazer esse tipo de atividades. Não é que aquilo esteja em perigo de rigorosamente nada, mal fora, aquela zona do ponto de vista estrutural foi verificada e não tem problemas nenhuns. Daquilo que nós vimos, do ponto de vista estrutural puro e duro, não há nada a cair. Aquilo que há está identificado para ser arranjado.
ACESSIBILIDADE
Relativamente a estudantes com dificuldade motora, foram feitos alguns comentários que a UC não é necessariamente a mais fácil de navegar. Há alguma coisa pensada no sentido de melhorar a acessibilidade para estes estudantes?
Eu aceito essa crítica, mas é muito difícil de a aceitar. Tenho duas coisas a dizer sobre isso. Primeiro, quando nos focamos no Pólo I, é preciso pensar que isto é um pólo classificado pela UNESCO, portanto, não é fácil superar problemas de acessibilidades. Uma coisa é pôr uma rampa, isso é fácil (apesar de, mesmo assim, termos que pedir à Direção-Geral da Cultura para pôr uma rampa), já pôr elevadores, por exemplo, é um pesadelo. Nós já pusemos um aqui para a reitoria e temos um segundo a ser terminado no Colégio de Jesus. Não é fácil colocar elevadores por várias razões. Não é fácil porque não é mesmo fácil: estruturalmente os elevadores têm que ter uma caixa para baixo, tem que abrir um buraco. Onde se abre um buraco de dois metros, há ossos e ossadas e cacos e não sei o quê, portanto a Direção-geral da Cultura fica ali três anos se for preciso a classificar essas peças. Portanto não é fácil arranjar local, não é por nós não querermos.
[Quanto à possibilidade de colocar elevadores nos espaços]: “Onde se abre um buraco (…) há ossos e ossadas e cacos, (…) a Direção-geral da Cultura fica ali três anos se for preciso a classificar essas peças. Portanto não é fácil arranjar local, não é por nós não querermos”
Em relação ao resto, eu sempre disse, e tenho pedido aos diretores de unidades orgânicas, especialmente aqui no Pólo I, para que, onde existam problemas de acessibilidades que sejam simples de resolver, como é o caso de rampas, que se faça. Uma rampa é uma coisa fácil de fazer. Demora o seu tempo, nós não conseguimos fazer o processo em menos de 6 meses, não a rampa, mas fazem-se e acho que já fizeram muitas. Se vocês forem por aí, verão muitas. Se me disserem assim: “no terceiro andar da FDUC há algum canto onde não está uma rampa”, pois, é capaz de haver, mas o que eu peço é que a listagem chegue à Reitoria, porque nós vamos certamente… desde logo, que chegue ao diretor, porque os diretores também têm, digamos, responsabilidades sobre os edifícios que tutelam. Se me disserem: “há zonas onde não há rampas”, é verdade. Estávamos a falar das Químicas, a passagem para a cantina das Químicas tem previsto um elevador. Portanto, quem está no edifício de medicina e olha para o botânico, do lado esquerdo ao pé das escadas. Espero ainda fazê-lo no meu mandato, ter um elevador que permita às pessoas descerem para a zona das cantinas e para o anfiteatro, mas não é fácil porque, de facto, no Pólo I não é fácil. Nos outros pólos é mais fácil: onde estiverem a identificar as situações, nós iremos, certamente, agir. Já agimos, mas iremos continuar a agir.
TAGV
[Quanto ao conselho consultivo do TAGV]: “É um assunto que podemos revisitar”
Pegando agora noutro tema, do TAGV, que é algo que tem dado muito a falar, começamos por perguntar qual é que é a sua opinião acerca das críticas feitas pelos estudantes face à reduzida acessibilidade dos estudantes ao TAGV e se a reitoria pode fazer alguma coisa quanto ao voto dos estudantes nas decisões da direção do TAGV que só foi reduzida por causa dos estatutos do próprio teatro terem mudado.
Quem está com essa área é o vice-reitor Delfim Leão, da cultura, aquilo que eu sei é que foi criado um conselho consultivo onde os estudantes têm assento.
Mas é consultivo, antes havia uma comissão administrativa onde os estudantes tinham um voto nas decisões do TAGV.
Sim. É um assunto que podemos revisitar, mas também não sei se adiantamos muito com isso porque também não é um voto que vai alterar nada, apenas para dizer quem é que vota contra, mas tudo bem, mas eu convivo bem com tudo isso. A questão que se levanta no TAGV é outra, é que o TAGV tem custos, pessoal e equipamentos. E é uma sala que tem uma programação até muito rica e, portanto, não é uma sala que possa ser usada por toda a gente a toda a hora. Não me refiro às secções culturais, mas a toda gente a toda a hora. Mesmo nós, Reitoria, quando queremos a sala (e às vezes queremo-la por questões que têm que ver com coisas da reitoria), já compramos penso que 16 dias ou 20 dias do ano, para dizer, enfim, com muita antecipação “olhe precisamos disso para o dia não sei quê de maio ou junho ou setembro” para eventos que acontecem. A questão das secções culturais, eu acho que elas têm razão, não é isso que está em causa. A questão é como se resolve. E como é que se resolve? Como nós estamos a tentar resolver. Efetivamente, eu acho é que houve, não “acho”, eu sei que houve, diálogo e depois falta de diálogo dentro da AAC. Ou seja, a ideia é dividir aquela zona da cantina dos grelhados, que está bastante maltratada. Um elemento da AAC, que eu não sei dizer o nome, falou connosco e estivemos reunidos com ele. Um elemento, suponho eu, da área cultural ou… da DG, de certeza. E ele é que não terá falado lá com os amigos, com os colegas, mas isso é outro tema.
“A ideia é dividir a zona dos grelhados em 2, mais ao menos (se não é em dois, é quase na metade). Do lado do TAGV, criar um mini auditório (…) e ter, pelo menos, espaço para fazer ensaios”
A ideia é dividir a zona dos grelhados em 2, mais ao menos (se não é em dois, é quase na metade). Do lado do TAGV, criar um mini auditório, chamemos-lhe assim, com cerca de 100/120 lugares, com uma bancada rebatível, para que essa sala à qual chamaremos “Sala B” fique ligada, do ponto de vista tecnológico, à principal e permita 2 coisas: espetáculos para um número de pessoas muito mais reduzido, ou seja, 30/40/100 pessoas (não vamos usar o TAGV para estarem lá 10 pessoas a ver o espetáculo); e permitirá, rebatendo o anfiteatro, que se tenha uma sala mais ao menos ampla para que haja espaço para fazer ensaios. Essa é a nossa proposta: haver ali, pelo menos, um espaço para ensaios. Pelo menos esse espaço. Ainda há outra possibilidade relacionada com a Casa das Caldeiras, mas primeiro queríamos esgotar esta solução, que nos parece ser a melhor, uma vez que utiliza meios técnicos do TAGV e permite a ligação interna com o TAGV. Permite ainda, enfim, ainda que a palavra não seja exatamente esta, quase duplicar os espetáculos. Poderá haver um espetáculo nessa sala, ao mesmo tempo que está a haver outra no TAGV, para um público mais pequeno.
Já estão planeadas as obras no espaço dos Grelhados? Quando vão avançar com as obras? E o que têm a dizer aos estudantes que estão descontentes com esta situação?
Honestamente, até ao dia de hoje não sei qual é a situação ao nível de planeamento daquilo. Eu sei que a divisória apareceu lá e teve uma contestação enorme. Eu próprio olhei para a fotografia que me enviaram e também não achei piada, especialmente porque foi feita, pelos vistos, sem os estudantes saberem. Portanto, acho que isso nem tinha razão de ser, nem foi essa a instrução que dei para aquilo acontecer. Aquilo que eu sei é que, depois disso, já houve reuniões com a DG/AAC, onde tem andado a ser discutido o assunto e, honestamente, no dia de hoje não sei dizer se já há algum tipo de pedido de financiamento a correr. Penso que ainda estamos na fase ainda de discussão do conceito, do que lá se vai colocar, e de que forma. Naturalmente, envolvendo os estudantes, porque aquela sala B é, justamente, para responder a essas questões principais que os estudantes têm.
“Não vou fazer aquilo se os estudantes estiverem contra, como é lógico, mas depois não podem dizer que não havia solução”
Portanto, penso (não posso garantir a 100 por cento, mas garanto a 97 ou 98) que não temos nada. A 100 por cento posso-vos dizer que não está nada fora da UC, portanto, não há na CMC, nem na Direção-Geral da Cultura. Ainda não foi para aí. Agora, se já há esboço para a sala, provavelmente já haverá alguma coisa, porque, na altura, a razão de se fazer a divisória foi porque houve estudos para o anfiteatro e da sala rebatível. Aquele foi o sítio considerado mais apropriado para isso, mas não há nada ainda decidido definitivamente e espero ter isso a andar com o apoio dos estudantes. Não vou fazer aquilo se os estudantes estiverem contra, como é lógico, mas depois não podem dizer que não havia solução. Nós temos ali uma solução interessante.
REJUVENESCIMENTO DO CORPO DOCENTE E ENDOGAMIA
[Quanto ao rejuvenescimento do corpo docente]: “É um assunto que se resolve com o tempo, tem que se dar tempo ao tempo”
Um dos temas que tem sido falado tem sido uma certa noção de que o ensino superior na UC é um bocado antiquado, onde entra também a questão da endogamia. Eu perguntava-lhe, então, duas questões: está a ser feita alguma coisa para resolver este problema? E se acha que esta questão da endogamia também contribui para a noção de “ensino superior antiquado” na UC?
São duas questões diferentes: a endogamia é uma coisa e o rejuvenescimento é outra. Vamos começar pelo rejuvenescimento: este é feito com base nas saídas das pessoas. Eu não posso matar ninguém, nem despedir. Portanto, o rejuvenescimento vai sendo feito à medida que as pessoas se vão aposentando ou jubilando. Portanto, nós temos uma saída prevista de 1/3 dos nossos professores até final da década, estamos a falar por volta de 300 pessoas, portanto, esse número de pessoas que vai sair vai injetar sangue novo na Universidade. Qual é a minha preocupação em relação aos últimos cinco anos? Nós detetámos que, nos últimos cinco anos, nós abrimos novas vagas e entraram pessoas de 50 anos. Isso não é rejuvenescer. Isso aconteceu porque, basicamente, estivemos décadas (quase) sem abrir concursos, pelo menos uma, e essa década fez com que pessoas com 35 anos tivessem agora 45. Obviamente que um investigador agora com 45 anos, mal fora se não tivesse mais produção científica do que um com 30. Tem 15 anos de avanço, o que é uma imensidão para produção científica. A nossa preocupação é que, independentemente da idade – porque a idade nunca é critério para se contratar, ou não, alguém – se analise os últimos cinco anos de trabalho de produção pessoa – se tivermos uma pessoa com 50 anos que tenha tido uma produção muito boa nos últimos cinco, vale a pena a contratação. Se, por exemplo, tivermos uma com 50 e outra com 35 e eu olhar para os últimos cinco anos dos dois e os últimos cinco do de 35 derem uma noção de produção idêntica à do outro e tem 35 anos (e, portanto, uma perspetiva muito mais promissora para o futuro) eu escolho o de 35. Claro, se tiver melhor currículo, como é óbvio. Aqui a questão é tentar rejuvenescer o mais possível. Forçando, fundamentalmente, a qualidade. Portanto, se a pessoa estiver aí, não é a idade que conta, mas a qualidade. Mas não deixar que a classificação seja feita por – enfim, eu estive como júri de um concurso em que votei em primeiro lugar o que ficou em segundo lugar, que tinha menos 12 anos do que o que ganhou e tinha quase a mesma produção científica. Se ele tinha quase a mesma produção científica e tinha menos 12 anos, quer dizer, qual é o potencial desta pessoa quando comparada com a outra? Eu contratava o mais novo. Mas há muitas universidades a fazer isso, nem estamos a ser originais nem a ideia foi nossa. O currículo vale por todo, mas atenção aos últimos cinco anos. Esta questão é de rejuvenescimento. Como eu digo, não a posso apressar porque depende da saída das pessoas, não está na minha mão. Temos mapas de pessoal de todas as faculdades e cursos, sabemos quem sai até 2030, mas não as podemos tirar do sistema. É um assunto que se resolve com o tempo, tem que se dar tempo ao tempo.
Endogamia
A questão da endogamia é uma história diferente. Fala-se em endogamia não só em Coimbra, mas em todo o lado. Às vezes parece que é só em Coimbra. Quando se compara as percentagens de endogamia em Coimbra com as de Lisboa ou Porto, a diferença é de 94 por cento para 92 por cento, bem, também não me parece que seja assim tão relevante. Seria relevante se em Lisboa fosse 50 por cento e, em Coimbra, 98 por cento, mas não é, são coisas muito próximas, as percentagens desviam muito a ideia. E a questão da endogamia tem duas visões:
Primeiro, há uma endogamia que eu abomino, detesto completamente, mas que são muitas vezes resultado da forma como as pessoas fazem as coisas ao arrepio das instruções da própria Reitoria, porque há um encosto. A pessoa está a trabalhar, está a fazer uma tese de mestrado, depois faz uma tese de doutoramento, depois há um post doc, depois há um projeto não sei do quê e a pessoa depois fica lá a trabalhar, depois a certa altura é muito amiga do orientador, jantam juntos, depois convidam-na a dar umas aulas, dá umas aulas como convidada, dá três anos ou quatro de aulas como convidada e, depois, entretanto, vamos abrir um concurso. Depois dizem “esta pessoa trabalhou aqui, tem bom ambiente, dá bom ambiente, trabalha bem, até já cá deu aulas, deu bem as aulas, …” e é quase uma inevitabilidade a contratação dessa pessoa. Eu acho isso errado.
“Isso (quatro anos passados a lecionar fora do país) faz com que não me considere parte da percentagem da endogamia, embora tenha, de facto, feito o curso aqui e ficado aqui”
Depois, temos que perceber o que é a endogamia. Eu sou endogâmico. Eu licenciei-me na UC, doutorei-me na UC, mas eu estive quatro anos fora do país, portanto, eu vi o mundo. É completamente diferente pegar numa pessoa que saiu de Coimbra, foi à sua vida, como eu fui, para Espanha, Suécia, no meu caso, outros foram para a Holanda, EUA e voltam, essa gente é de cá, formou-se cá, mas tem que ir lá fora, tem que ter rede, tem que conhecer outras pessoas, outros sistemas. A endogamia, para mim, deve ser vista como aquelas pessoas que fizeram cá a escola primária em Coimbra, o secundário, doutoraram-se em Coimbra, são de Coimbra e nunca de cá saíram. Isso é que é endogamia. O resto, é uma questão de mobilidade. Por isso, nós estimulamos a mobilidade, estimulamos muito a mobilidade, como com o ERASMUS também para os professores, não só estudantes, porque esta é fundamental para quebrar essa ideia da endogamia, embora, como eu digo, tenha dois conceitos. Eu adoro esta Universidade, é a minha Alma Mater, pelo que não é assim tão estranho que eu tentasse ficar em Coimbra. Agora, eu tinha qualidade para ficar em Coimbra? Tinha porque eu ganhei o concurso. Tenho mundo? Tenho. Estive fora do país durante quatro anos, sei como funcionam outros sistemas, como se tratam, como se organizam, as redes que têm, as redes que eu tenho com eles, etc. Isso faz com que não me considere parte da percentagem da endogamia, embora tenha, de facto, feito o curso aqui e ficado aqui. Acho que a minha passagem pelo mundo me deu uma visão completamente diferente daquela que é a de Coimbra, que não é a única, nem a melhor, seguramente. Portanto, eu acho que temos que pôr as pessoas fora de Coimbra. Se, depois, voltarem, tudo bem. Ainda agora estivemos quase a contratar duas pessoas dos EUA que se formaram cá e que são investigadores do mais altíssimo nível. Não vêm por causa de questões familiares, mas a verdade é que são duas pessoas que se formaram cá, estão nos EUA, se regressassem cá, seriam endogâmicos? Eh pá, não. Pessoas que estiveram vinte anos nos EUA não são endogâmicas. Trazem uma cultura completamente diferente.
REPÚBLICAS
“As repúblicas falam, falam, falam, mas nunca me apresentaram uma coisa que eu lhes pedi, que é quantos estudantes têm lá em cada uma”
A Reitoria está a par da situação das repúblicas relativamente aos SASUC, nomeadamente o plafond reduzido, os alimentos já enviados perto do fim da validade, a falta de uma carrinha, entre outros? Existe algum tipo de plano por parte da Reitoria para responder a estes problemas? O que é que tem sido feito nesse sentido junto das repúblicas e dos SASUC?
Quanto à questão dos alimentos, no ano passado pediram-me um reforço para isso e eu autorizei-o. Houve um aumento de dinheiro, por um lado. Por outro lado, é preciso perceber que estamos a falar de um valor que é equivalente ao preço de custo que nós, que já conseguimos preços bons por comprarmos em grande quantidade, fazemos. Depois é assim, as repúblicas falam, falam, falam, mas nunca me apresentaram uma coisa que eu lhes pedi, que é quantos estudantes têm lá em cada uma. Isto porque há repúblicas que nem estudantes têm, ou andam lá perto. Portanto, as repúblicas que têm estudantes é um tema, as que não têm é outro tema completamente diferente. Mas se, na verdade, nem entre elas se entendem, como é que eu hei de saber se, mesmo pedindo os números, ninguém nos dá os números? Portanto, acho que há uma falta de diálogo, mas há uma falta de diálogo por radicalismo. Para as repúblicas, o reitor é sempre, digamos, uma pessoa indesejável, seja eu ou outro qualquer. Com isso eu vivo, agora, eu gostava que houvesse mais diálogo. Havendo mais diálogo, seguramente poderíamos resolver as coisas de outra forma. Agora, também vamos pôr as coisas assim: imaginem uma república com dez pessoas, dois estudantes e oito não estudantes. Nós estamos a dar comida a um preço de custo, nem sequer vêm buscar a comida, somos nós que a vamos entregar a comida, eh pá, também não me parece que tenham razões de queixa. Querem comprar o edifício onde estão, ajudamos e até metemos dinheiro, 15 por cento, como já o fizemos (este ano que passou fizemos em duas). Acho que fazemos o nosso papel. Agora, se calhar, se também fossem um bocadinho mais simpáticos também não se perdia nada, não é?
“Portanto, acho que há uma falta de diálogo, mas há uma falta de diálogo por radicalismo”
Então, basicamente, se apresentarem os números todos certos haverá uma maior facilidade na resposta a estes problemas?
Claro, eu não sei se estou a alimentar cem ou mil. Vocês têm noção de que há comensais? Eu no meu ano tive amigos repúblicos, um deles até era mor, eu ia lá às vezes comer, eram outros tempos, e, de facto, éramos todos estudantes. E, portanto, esse é um tema, e era tudo clarinho. Outro tema diferente são outras situações que a gente sabe que acontecem e que eu acho que deveriam ser corrigidas até a bem da comunidade académica.
PERSPETIVAS DE MANDATO
Quais são as perspetivas para o novo mandato, que perspetivas tem quanto à relação entre os estudantes e a Reitoria? Que mensagem gostaria de deixar aos estudantes da UC?
Em relação a este mandato, eu não espero um mandato fácil, vai ser exigente, para mim é claro, não por causa das exigências do primeiro mandato (espero que sejam outras, embora a guerra esteja aí, com a guerra temos inflação, com a inflação temos problemas orçamentais a todos os níveis e a outros níveis também). Vai ser exigente porque há alterações legislativas em cima da mesa profundas, e, portanto, isso vai obrigar a ter outro tipo de atividade de influenciar, esclarecer, trabalhar diplomas legais e discutir esses assuntos, que é muito importante para a Universidade de Coimbra. Neste momento, está-se cada vez mais a tornar o Porto e Lisboa como pólos, os outros são paisagem, pelo que nós estamos numa situação aqui a meio. Temo-nos mantido relativamente bem, mas, obviamente, é muito visível a forma como o Governo tem privilegiado as instituições de Lisboa e Porto e isso seca o país em geral. Há uns que vão sofrer primeiro que nós, mas nós também vamos sofrer. Este é um aspeto em que eu tenho especial atenção para que a Universidade possa continuar a crescer e a ser cada vez mais forte. Isto em termos de mandato.
“Espero conseguirmos manter o nosso nível de ação social ou superar”
Em relação àquilo que eu espero que possa acontecer relativamente à ação social, que me preocupa bastante, espero conseguirmos manter o nosso nível de ação social ou superar. Nós temos, claramente, a melhor ação social do país, por mais que façam protestos, é comparar com os outros. Aliás, eu não percebo muito bem o porquê de, em Coimbra, as pessoas falarem da refeição social como se fosse quase um crime ser a dois euros e quarenta, enquanto outra instituição de Coimbra é outro o valor, e nunca vi ninguém queixar-se dele. Há aqui qualquer coisa que eu ainda não consigo perceber muito bem o que se passa. Ou vêm comer às nossas cantinas ou não sei, porque uma diferença de 30 ou 40 cêntimos por refeição é dinheiro e, para nós, ao comprar e a colocar as refeições nas cantinas é muito dinheiro.
Continuar a tentar requalificar as nossas cantinas, previsivelmente no Pólo III, estádio universitário iremos mexer, aqui também, até por questões que tenham que ver com o edifício das Azuis (esse, seguramente), as Amarelas vamos ver como vamos fazer, também vamos melhorar as Rosa. Portanto, acho que vamos ter aqui imensas movimentações.
Em relação às residências, vamos ter novas residências nos combatentes e na Luís de Camões, no âmbito do PRR; a requalificação de outras tantas, mais até. Nos combatentes e na alegria a requalificação já está a ser começada, ou irá começar brevemente.
Ao nível do nosso orçamento para apoio social, nós temos sempre aumentado todos os anos desde que começou a pandemia, a todos os níveis. Curiosamente, nós tínhamos um orçamento de 300 mil euros e só foram pedidos 128 mil, portanto, isso não é culpa nossa, pelos vistos os estudantes não precisam.
“Curiosamente, nós tínhamos um orçamento de 300 mil euros e só foram pedidos 128 mil, portanto, isso não é culpa nossa, pelos vistos os estudantes não precisam”
MENSAGEM AOS ESTUDANTES
“Se os estudantes querem determinado tipo de coisas, eu acho que devem falar antes de irem para os jornais ou televisões fazerem figuras tristes”
A mensagem que eu deixo aos estudantes é sempre a mesma. São os estudantes que fazem da Universidade o que ela é, têm no reitor sempre uma pessoa dialogante e aberta a resolver os problemas. Tenho muita dificuldade em tratar com pessoas que não têm palavra ou que fazem traição. São duas coisas na vida com as quais eu tenho muita dificuldade em lidar, seja com estudantes ou com outra pessoa qualquer. Portanto, se os estudantes querem determinado tipo de coisas, eu acho que devem falar antes de irem para os jornais ou televisões fazerem figuras tristes, que é a minha opinião. Portanto, não se esqueçam que, quem se forma em Coimbra, fica para toda a vida com o selo da UC na sua carreira, pelo que dizer mal da instituição onde estão não me parece muito inteligente. O que me parece inteligente é, se uma coisa está mal, peçam pelos canais próprios que essa coisa seja resolvida, através do diálogo. Posso estar enganado, mas não me lembro de, enquanto reitor, ter havido uma reivindicação justa que em diálogo não tenha sido resolvida.
“Tenho muita dificuldade em tratar com pessoas que não têm palavra ou que fazem traição”
Aliás, eu orgulho-me de, em 1998 (90 e tal), eu era presidente do Conselho Pedagógico da Faculdade de Farmácia, onde eram, na altura, quatro estudantes, quatro docentes e o presidente, eu, com voto de qualidade. Durante dois anos fizemos alterações profundas nos horários, avaliações, trabalhadores estudantes e, durante esses dois anos de mandato, tudo passou com unanimidade, precisamente, porque eu ouvia uns, ouvia outros e arranjava um equilíbrio. Aqui é exatamente o mesmo, mas a uma escala completamente diferente. Mas quer dizer, se me vierem aqui com problemas que tenham te ter uma solução e eu entender que a solução é esta ou aquela, eu dialogo com elas e, certamente, resolveremos os problemas. Dificilmente encontrarão alguém que tenha mais carinho pelos estudantes do que eu. Eu tenho a noção exata. Vocês todos têm idade para ser meus filhos e eu tenho filhas também, portanto, eu trato-vos e estimo-vos porque sei como é que funcionam as pessoas da vossa idade. Enfim, com as distâncias etárias que existem e com o salto geracional que existe, o que significa que eu tenho que fazer um esforço para me adaptar, mas tenho pessoas novas à minha volta também a ajudarem-me e a trazerem-me informações e a explicarem-me como é que as coisas funcionam na geração atual.
“Dificilmente encontrarão alguém que tenha mais carinho pelos estudantes do que eu”
Eu percebo que há diferenças, formas diferentes de pensar, percebo tudo isso. Eu acho é que há sempre um espaço fundamental para o diálogo, diálogo que nos permita resolver as situações. Não estou, quanto a isso, nada pessimista. Eu tive um primeiro mandato em que só posso elogiar os estudantes, que foram absolutamente excecionais durante a pandemia, estiveram com a Academia, souberam sofrer com todos os outros, passaram também provações, conseguimos, todos juntos, sair da pandemia melhor. Portanto, estou agradecido à Academia e aos estudantes pela forma como se comportaram durante esse período negro. Espero que agora na fase do segundo mandato eu possa fazer as reformas que gostaria de fazer, contando com os estudantes e trabalhando para os estudantes.
“Eu tive um primeiro mandato em que só posso elogiar os estudantes, que foram absolutamente excecionais durante a pandemia”
Portanto, é uma mensagem positiva, de otimismo, que eu acho que podemos pensar que vamos ter uma Academia, daqui a quatro anos, mais contente do que aquela que está hoje, sendo certo que há lugar para o descontentamento, para não estarmos de acordo, para ideias diferentes, tudo isso. Eu acho é que isso deve ser primeiro discutido e apresentado à equipa reitoral. Depois, se a equipa reitoral disser que não quer saber disso para nada (o que não vai acontecer) então façam os protestos, digam mal de mim, o que quiserem. Dêem é, pelo menos, a oportunidade de conseguir ir de encontro às ambições e expectativas dos estudantes. É isso que eu peço aos estudantes, e desejo, naturalmente, a maior felicidade para todos eles.
Algo a acrescentar?
Não.
