Convento São Francisco desafia AAC para um ciclo de conversas dedicado às causas, inquietações e lutas dos estudantes de hoje. Programação surge associada à exposição “Primaveras Estudantis: da crise de 1962 ao 25 de Abril”. Por Carolina Silva
No final da tarde do dia 17 de abril, por volta das 19h, iniciou-se a mesa redonda: “Novos Valores de Abril”, no Convento São Francisco. Este evento contou com a moderação do Jornal A CABRA, tvAAC e RUC, no intuito de revisitar valores como a justiça, a liberdade e a democracia. Os painelistas convidados foram Rafael Pereira, Maria Carolina, Luís Almeida e Luís Gouveia Júnior.
Rafael Pereira, ativista e voluntário na Rede Ex Aequo, abordou o tema dos direitos LGBTQ+ e a luta pelo seu reconhecimento em Portugal no pós 25 de abril. “A Revolução dos Cravos abriu uma porta, mas foi assim meia cerrada”, uma vez que, como explica, “por vezes, é difícil mudar o que está enraizado na cultura, assim como a moral católica da altura”.
A importância da representatividade do conceito LGBTQ+ também foi mencionado como pilar fundamental na atualidade, uma vez que é “essencial no que toca à autodescoberta, à exclusão de preconceitos e à procura de um mundo diferente do que é imposto”. Rafael Pereira menciona, ainda, a educação sexual como imprescindível nas escolas e nas organizações apoiantes da comunidade.
De igual forma, Maria Carolina, mestre em História da Arte, com estatuto de trabalhadora estudante, voluntária na organização O MAR e membro da República das Marias do Loureiro, levanta a questão feminista no pós 25 de Abril. “A luta começou muito antes de abril de 1974, mas, por alguma razão, o feminismo parece ter permanecido fora da agenda pública, mesmo depois da queda da ditadura salazarista”, refere a estudante.
Em contraste com a atualidade, Maria Carolina menciona também o desconhecimento que existe sobre o feminismo e o que realmente ele defende: “hoje, as pessoas procuram uma luta maior para chegarmos aos direitos que são necessários.” O papel da mulher era baseado na “educação com valores culturais e morais que vêm de uma instituição patriarcal”, destaca. Na visão da estudante, esta condição não permitia a abertura, nem a discussão, mas hoje está modificada porque “a sociedade também está”.
Também nesta conversa interveio Luís Gouveia Júnior, coordenador geral do grupo de Coimbra da Amnistia Internacional de Portugal, que expôs as condições do pós-colonialismo no país. “Há uma grande luta quando estamos a falar de uma situação colonial, pois é importante desmitificar os grandes discursos políticos que voltam a ter força”, explica o painelista convidado.
Quanto à evolução deste tema, em Portugal, Luís Gouveia Júnior dá o exemplo da situação presente na habitação: “as pessoas são forçadas a sair da sua casa e não têm sítio onde morar”. Ao encontro do exemplo dado, o convidado aborda ainda o saudosismo do passado imperialista português, bem como os problemas do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e as condições precárias dos trabalhadores imigrantes.
Por último, discutiu-se a temática da liberdade de expressão por Luís Almeida, licenciado em Jornalismo e Comunicação, trabalhador numa empresa de marketing e dirigente da Associação Académica de Coimbra (AAC). “Temos de medir em que termos exercemos a nossa liberdade, isto é, a minha liberdade termina onde começa a do outro”: conta o convidado na mesa redonda.
Luís Almeida refere que “o conceito de liberdade de expressão foi evoluindo como a sociedade e adaptou-se”, porém revela que não tem a mesma conotação de quando Alberto Martins subiu para a cadeira, uma vez que “os tempos eram outros e o contexto também”. Segundo os convidados, o contexto de liberdade de expressão, de acordo com o 17 de Abril de 1969, é visto dependente do contexto atual, pois “o direito de falar não se sobrepõe ao direito de existir”.
