“Cogumelos do Prado ao Prato” desenvolve pesquisas de cultivo sustentável. Investigadora Ana Marisa Azul propõe fungo como alternativa proteica à carne. Por Mariju Tavares
No dia 28 de fevereiro a Universidade de Coimbra (UC) recebeu uma bolsa no valor de 400 mil euros para o desenvolvimento de cultivo sustentável de cogumelos para consumo. Este projeto enquadra-se no programa Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) e pretende oferecer receitas e protocolos de matéria orgânica para a valorização da cadeia de produção de cogumelos a longo prazo.
Ana Marisa Azul, coordenadora e investigadora do projeto, explicou que o país importa muitos substratos para produção agrícola e que, através desta iniciativa, a matéria-prima “vai poder ser trabalhada em diferentes valências”. A investigadora declarou que a equipa tem trabalhado de forma a criar “protocolos que permitam incorporar matérias-primas que, de alguma maneira, vão aumentar a eficiência biológica”.
A investigadora do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC) esclareceu que este projeto tem caráter transdisciplinar, no sentido em que procura “dar respostas a uma cadeia de produção na totalidade”. Acrescentou que este projeto contribui para a validação da “caracterização da atividade biológica, nutricional e fitoquímica” dos próprios cogumelos.
A coordenadora deste projeto considera ser importante a “noção do que se está a consumir”, tal como ter “associada uma segurança alimentar”. A mesma revelou que os cultivos tradicionais de cogumelos apresentam “substratos com eficiência biológica muito baixa, em termos de produção”. Deste modo, o objetivo é “trabalhar fórmulas de resíduos agroflorestais no sentido de aumentar a eficiência biológica na produção”.
O projeto que pretende melhoria do metabolismo dos indivíduos permite, segundo a investigadora, fazer um balanço entre “a quantidade de proteínas que se está a ingerir face à quantidade de gordura”. Além disso, estes cogumelos apresentam-se como uma alternativa à proteína, como a carne. Desta forma, a coordenadora do projeto considera que estes são uma possibilidade com “um impacto ambiental tremendo”.
A coordenadora perspetiva que as expectativas de sucesso do projeto são “as melhores”, uma vez que as pesquisas “não estão a começar do zero”. Considera também que um paradigma pode vir a ser criado, no sentido em que, a médio e longo prazo, “vai proporcionar indicadores que podem estimular os produtores a ter outro tipo de abordagem no seu cultivo”.
Ana Marisa Azul mencionou ainda que a equipa pretende sensibilizar os vários tipos de públicos, de modo que os cogumelos sejam “incorporados como integrantes da cultura e da dieta mediterrânica”. A investigadora expressou o entusiasmo de toda a equipa na realização do projeto e rematou que gostaria de “ver os cogumelos incorporados nas cantinas da Universidade”.
