Membro do movimento Porta Adentro acredita que Coimbra sofre crise habitacional. Arrendamento estudantil, repúblicas e ambiente favorável à criação de famílias são ideias destacadas. Por Daniela Fazendeiro
No próximo sábado, dia 1 de abril, vai ocorrer uma manifestação pelo direito à habitação na Praça 8 de Maio, com início marcado para as 15 horas. Esta concentração, organizada pelo movimento Porta Adentro, está inserida na semana de luta pela habitação ‘Housing Action Days 2023’.
Mariana Gaspar, membro do Porta Adentro, defende que “a habitação está no epicentro de todas as crises económicas e sociais contemporâneas”, e que a subida dos preços das casas e rendas está associada à quebra do rendimento real das famílias e à escalada da inflação. Segundo a mesma, esta realidade também se faz sentir em Coimbra e, nesse sentido, deve ser travada com ações locais. “Não faria sentido deixar fora da discussão cidades que há muito sofrem com este problema, como é o caso de Coimbra”, reitera.
A integrante do movimento explica que a cidade, por ser muito ligada à universidade, “sempre teve um problema de habitação e de preços acima da média para a realidade [económica] nacional”. Afirma ainda que o preço do arrendamento entre janeiro e fevereiro de 2023 subiu em nove capitais de distrito e que a cidade coimbrã sofreu um aumento de 0,9 pontos percentuais.
Mariana Gaspar apresenta dados que reforçam a sua crença na crise habitacional vivida em Coimbra. Em 2022, existiam 11 mil focos habitacionais vagos na cidade que não estavam disponíveis para venda ou arrendamento. Acrescenta que o valor mediano das rendas de novos contratos de arrendamentos e alojamentos familiares subiu 15,3 pontos percentuais entre o 2º semestre de 2017 e o mesmo período de 2019. Segundo a estratégia local do município de Coimbra, estão sinalizadas 600 famílias em situação grave de carência de alojamento e 226 em carência de realojamento em habitação municipal, das quais 185 são famílias monoparentais.
Mariana Gaspar salienta o contexto da COVID-19 sentido a nível global. Acredita que a pandemia mostrou que “a falta de acesso a uma casa condigna exacerbou problemas de violência doméstica e de ingresso nos estudos”.
A participante do grupo informa que existem dois manifestos. A nível nacional, é defendida uma luta concentrada pelo direito à habitação, à cidade e pelo fim do aumento do custo de vida. Em Coimbra, foi dado ênfase ao arrendamento estudantil, às repúblicas de estudantes e à criação de um ambiente propício à instalação de famílias jovens.
Além disso, reforça a luta contra a segregação e contra a construção de bairros sociais que afastem as pessoas para a periferia. Relembra também a dificuldade acrescida sentida pelas pessoas com deficiência ou da comunidade LGBT em adquirir uma casa condigna. “Queremos que haja um cumprimento dos direitos consagrados [na Constituição da República Portuguesa]”, proclama.
Mariana Gaspar refere que o movimento nasceu numa reunião aberta organizada pela associação Chão das Lutas, na qual surgiu a vontade de marcar uma concentração e de criar um movimento em Coimbra. Afirma que o nome Porta Adentro é um jogo de palavras com a expressão “porta fora”. Explica ainda que o nome do movimento expressa assim a vontade de “garantir o acesso a uma porta, pela qual as pessoas podem entrar e ter uma casa a que chamam sua, e pela qual podem sair para lutar pelo direito à habitação”. A interveniente explicita que este movimento está em fase de crescimento e que se encontra no processo de marcar reuniões com outras associações na cidade, como a Climáximo e repúblicas de estudantes. Menciona que não existe uma direção executiva e, nesse sentido, todos os membros estão em pé de igualdade.
