Ensino Superior

José Milhazes apresenta “A Mais Breve História da Rússia” à FLUC

Marília Lemos

Autor respondeu questões dos estudantes acerca do conflito bélico entre Rússia e Ucrânia. Historiador defende que “os secretários-gerais da Rússia alteram o passado como lhes convém”. Por Marília Lemos

Na tarde desta quinta-feira, no dia 9 de fevereiro, o historiador e autor José Milhazes conduziu uma palestra acerca do seu livro “A Mais Breve História da Rússia” no Teatro Paulo Quintela, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC). O evento foi organizado pelo Núcleo de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra da Associação Académica de Coimbra (NEFLUC/AAC) e contou com o patrocínio das empresas Leya e CTT.

A abertura da sessão ficou por parte do diretor da FLUC, Albano Figueiredo, acompanhado da presidente do NEFLUC/AAC, Madalena Santos. Ao dar as boas-vindas ao palestrante convidado e ao público, composto por professores e estudantes, o diretor relatou o seu “gosto em receber nessa casa quem pensa e quem escreve”. Além disso, Albano Figueiredo considerou o evento como uma oportunidade importante de “desvendar o passado e entender melhor o presente”.

O debate então seguiu mediado por dois estudantes da FLUC que, após uma breve introdução a respeito de José Milhazes e a sua obra, fizeram perguntas ao autor. Muito bem-humorado, o historiador arrancou risadas do público e promoveu um ambiente leve e intimista com as suas respostas, apesar do grande número de espectadores.

No início da sua intervenção, José Milhazes refletiu a respeito daquilo que o motivou a publicar o livro em 2022, e brincou ao dizer que “não é vidente, nem telefonou ao Putin”, e que “não escreveu para lucrar com a guerra”. O autor revela ainda que, a princípio, esperava que a obra fosse publicada antes da pandemia. Além disso, o historiador explicou que “há muitas obras sobre determinados acontecimentos da História russa, mas não havia ainda uma visão geral”, portanto, o seu livro surge então para “ocupar um nicho que estava vazio”.

A respeito do seu processo de escrita, José Milhazes explica que “tinha 300 páginas nas quais desenrascar a grande história da Rússia”. O autor levou aquele desafio com seriedade, porque considera que “as pessoas não leem obras grandes” e propôs então um livro composto em “uma língua com que as pessoas compreendam a história”, e com uma “seleção daquilo que considerou mais importante”. Para além do que lá escreveu, o historiador propõe também uma lista de títulos em português a respeito do tema, para aqueles que estejam interessados em aprofundar a leitura.

Para além da sua obra, o autor discursou também acerca da sua experiência pessoal na União Soviética, onde viveu por 38 anos. Membro da União dos Estudantes Comunistas, José Milhazes ingressou no ensino superior na Universidade Estatal de Moscovo na sua juventude, quando “estava convencido de que iria para o céu da terra”. Contudo, o autor relata que a sua estadia neste país acabou por provocar uma mudança no seu percurso ideológico e lhe dar “uma ideia completamente diferente daquela que tinha quando para lá foi”. A respeito do seu percurso académico em Moscovo, o historiador considera que foi lecionado por “professores geniais e competentes, mas com disciplinas extremamente ideologizadas”. Considera ainda que, “o futuro da Rússia é sempre radioso e o passado imprevisível, isto é, os novos secretários-gerais alteram o passado como lhes convém”. Reflete, porém, que “os estudantes são pessoas espertas e inteligentes, e não comem tudo que lhes dão, e havia também professores que ajudavam na tarefa de perceber o que era verdade e o que eram fábulas históricas”.

José Milhazes também aproveitou o momento para debater a situação atual da Ucrânia, após quase um ano de invasões. Durante a sua intervenção, o autor retomou por diversas vezes que “a mentalidade russa é muito virada para a expansão”, ligada ao que chama de “internacionalismo proletário, ou a ideia de que a Rússia e o comunismo vão salvar toda a humanidade”. Para além disso, referiu também que “não é possível saber o que realmente se passa na sociedade russa, visto que existe muita repressão”. Defende ainda que “nesse momento não há um movimento de oposição liberal que se possa opor à guerra”.

Para além das questões dos moderadores, o espaço foi aberto para que o público fizesse perguntas. No final da sessão, os interessados tiveram também a oportunidade de adquirir um exemplar de “A Mais Breve História da Rússia” autografado pelo autor.

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