Ciência & Tecnologia

Docente da FMUC premiado por 15 anos de investigação sobre o autismo

Fotografia cedida por Catarina Ribeiro

Novas formas de terapia para indivíduos com neurodivergência desenvolvidas no projeto. Prémio BIAL para a Medicina Clínica laureia Miguel Castelo-Branco com 100 mil euros.  Por Frederico Cardoso

Miguel Castelo-Branco, professor na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), é o vencedor da edição de 2022 do Prémio BIAL para a Medicina Clínica. A cerimónia de entrega do prémio, que contou com a presença do Presidente da República, decorreu hoje, pelas 18 horas, na cidade do Porto.

O docente, atual coordenador científico do Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional (CIBIT) e do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (ICNAS) da UC, distinguiu-se pela obra “Os desafios da Neurodiversidade: um percurso na área da medicina personalizada e de investigação no autismo”. Este trabalho, resultante de 15 anos de investigação na área da neurociência, foi premiado, pela Fundação BIAL, com 100 mil euros. A sua obra pretende “oferecer uma perspetiva sobre o trabalho realizado neste campo da neurodiversidade”.

O investigador explica que o autismo é considerado “uma perturbação no neuro-desenvolvimento”, com três características “essenciais”: a tendência para comportamentos repetitivos, a dificuldade na comunicação e em interações sociais, assim como na regulação emocional. Apesar de exibirem todas estes traços, as pessoas com autismo “são bastante diferentes”, complementa Miguel Castelo-Branco. O docente esclarece que alguns indivíduos que sofrem desta condição possuem “elevados défices cognitivos”, embora haja outros que têm “bastante sucesso, apesar das dificuldades”.

Apesar de não existir uma cura, o foco da investigação foi “oferecer ferramentas de estimulação cognitiva”, refere o investigador. A mitigação das perturbações no neuro desenvolvimento é  “bastante complexa, como se fosse uma viagem ao passado”. Ainda assim, garante que é “sempre possível melhorar as aptidões de um indivíduo”.

Pai de um jovem com autismo, Miguel Castelo-Branco revela que, em conjunto com os desafios na área da neurociência, esse foi “um elemento decisivo” que o levou a realizar este trabalho. Também esse fator irá pesar na aplicação do prémio recebido, apesar deste “ser pessoal”, elucida o investigador.

A causa biológica do autismo é, segundo o neurocientista, “um mistério que se tentou perceber ao nível molecular”. Apesar de grande parte do trabalho ter sido sobre essa vertente, ainda foram realizados estudos cerebrais “enquanto esses indivíduos realizavam tarefas”, explica Miguel Castelo-Branco. O processo permitiu desenvolver “novas terapias de reabilitação, com recurso a jogos e a realidade virtual, explorando diversas técnicas de estimulação cerebral”, acrescenta.

Este trabalho de investigação surgiu fruto da colaboração de diversas instituições, entre elas o Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra e a Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo. O objetivo futuro passa por “levar para o terreno e disponibilizar, às pessoas, estas ferramentas e terapias que desenvolvemos”, finaliza Miguel Castelo-Branco.

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