Ciência & Tecnologia

De Coimbra para o país: jovens juntam-se e discutem a crise climática

Joana Carvalho

Organizadores apontam importância da descentralização do movimento climático. Radicalização da luta e atos de “desobediência civil e pacífica” como estratégias a adotar. Texto e fotografias por Joana Carvalho

Pela primeira vez, Coimbra acolheu o 8º Encontro Nacional pela Justiça Climática (ENJC), que ocorreu nos dias 10 e 11 de fevereiro. Depois de uma tarde de atividades, que se prolongou para um jantar e concertos, no dia 10, o dia de palestras teve lugar no Departamento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra.

O evento, que até agora sempre se realizou em Lisboa, arrancou os trabalhos com uma sessão plenária às 9h30. Pelas 10h, começaram as palestras, nas quais temas como a crise energética, transição justa, radicalização e o perdão da dívida do Sul Global adquiriram um papel central ao longo do dia. Todas as sessões decorreram de forma simultânea, à exceção do plenário “Porquê atirar sopa a quadros”, que decorreu por volta do meio-dia.

Os vários painéis foram organizados por vários coletivos e organizações do movimento climático. O mesmo se aplicou aos oradores que, segundo Ivan Barbeira, membro do coletivo Climáximo e um dos organizadores do evento, surgiram em consequência dos temas de uma forma “muito orgânica”. O ativista refere que chegaram a ser feitas “sinergias” que não sabia que iam ser possíveis, pelo que se encontra “contente com o encontro”.

Sara Baquissy, membro da Greve Climática Estudantil (GCE) de Coimbra, entrou para a organização mais tarde, mas refere que realizar o encontro na cidade foi importante no sentido de “descentralizar o movimento”. Já Matilde Alvim, da Greve Climática Estudantil de Lisboa, considera que realizar o encontro fora de Lisboa permitiu “a participação de pessoas que poderiam não ter vindo”, caso tivesse sido ao contrário.

Nas várias sessões foi criticada a inação por parte dos governos na resposta à crise climática, pelo que na sessão “Porquê atirar sopa a quadros”, na presença de ativistas de campanhas nacionais e internacionais, o foco principal foi a “radicalização da luta”. Fez-se alusão a várias ações disruptivas que foram realizadas ao longo do ano por vários coletivos, e os vários oradores reforçaram o valor da “desobediência civil e pacífica” enquanto ferramenta “que funciona”.

No que diz respeito à radicalização, Ivan Barbeira considera que a conversa em torno das alterações climáticas já se arrastam “há décadas e não se estão a ver soluções”. O ativista acredita que é importante dar um passo em frente e considera que marchas, protestos e petições já não são eficazes. “O que falta é ser criativo e radical e tentar puxar a mudança”, salienta.

Também Matilde Alvim acredita que a “radicalização é essencial”, devido à “falta de medidas”, sobretudo por parte da camada estudantil. A ativista lisboeta relembra a ocupação das escolas pelo fim ao fóssil, que ocorreu em novembro, que considera terem mostrado que “os estudantes também podem estar na linha da frente para impulsionar a sociedade a agir em conjunto”.

Tanto Sara Baquissy como Ivan Barbeira reconhecem alguns desafios que se materializaram ao longo da organização do ENJC. A ativista da GCE de Coimbra aponta que, pelo facto de o encontro ter sido organizado através de esforços voluntários, as disponibilidades e “ter todas as pessoas” eram algumas das dificuldades sentidas.

Já o membro do Climáximo aponta as questões logísticas e a falta de “uma rede em Coimbra” como a que existe na capital. Segundo Ivan Barbeira, “em Lisboa, já se opera de uma maneira diferente e as pessoas já estão mais politizadas”, pelo que foi preciso “criar espaços e sinergias” para manter os envolvidos ativos. No entanto, ressalva que houve “incríveis respostas e pessoas que sempre estiveram presentes”.

O encontro terminou por volta das 19h30, com a sessão plenária final. Esse momento deu lugar a um breve balanço do encontro e também deu a conhecer iniciativas a decorrer já este ano. Estão a ser planeadas mais greves estudantis, a acontecer no dia 3 de março, assim como mais ocupações às escolas, que vão ter lugar a 26 de abril. Já no dia 13 de maio vai ocorrer uma ação por parte do coletivo Parar o Gás na refinaria de Sines.

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