Estreia celebra centenário de José Saramago com reflexão sobre vida, morte e suas intermitências. “Transformar linguagem literária em algo mais ativo e interativo” é intenção de encenador. Por Lucília Anjos e Mariju Tavares
No dia 14 de fevereiro, às 21h30, a Cooperativa Bonifrates levou ao palco da Casa da Cultura o romance adaptado de José Saramago “As intermitências da morte”, fruto da participação do grupo nas comemorações dos cem anos do autor. Encenada por João Paulo Janicas e adaptada por João Maria André, a peça divide-se em dois atos e tem a duração de cerca de duas horas.
Segundo o encenador, a ideia de criação do espetáculo surgiu pelo seu antigo desejo de dar vida à obra e “ganhou um novo significado com a questão da pandemia e a ocasião do centenário”, destaca. João Paulo Janicas acrescenta que todo o processo de criação e encenação foi demorado, com a duração de cerca de um ano, uma vez que o grupo de atores tem uma vida laboral ativa, preenchida com a paixão que sentem pelo teatro.
O membro da Cooperativa Bonifrates compara a realização do projeto a uma “maratona”, difícil de conciliar com as vidas paralelas de cada ator. Contudo, sente que é algo “muito prazenteiro”. João Paulo Janicas remata que “é gratificante quando o espetáculo chega ao fim e se vê o resultado de todo o esforço”.
A adaptação teatral sofreu ligeiras alterações no processo de filtragem de elementos e na valorização de determinadas personagens do romance, de forma a “transformar a linguagem literária em algo mais ativo e interativo”, acrescenta o encenador. No que toca à estreia, este considera que as reações do público o surpreenderam pela espontaneidade, o que leva a um bom balanço do projeto, que descreve como “intermitente”.
Cristina Janicas, figurinista e atriz, comenta que o objetivo principal da apresentação da peça passa, em primeiro, por “homenagear Saramago e integrar as comemorações do escritor”. Além disso, a obra “coloca questões atuais”, uma vez que “o Homem é um ser finito e a questão da morte permanece inerente à vida humana”, completa.
A integrante do elenco, que representou a Gadanha, acredita que todas as peças de teatro são especiais e esta não é exceção. Cristina Janicas destaca o prazer “em tratar o tema da morte e dos jogos do poder”, que faz com que esta peça se torne única e revela que foi a primeira vez que deu “vida a um objeto”. A atriz confessa ainda que, na criação da sua personagem, o mais desafiante foi “fazer com que esta não passasse grandes sentimentos, sem muitas modelações”.
As próximas exibições do espetáculo vão decorrer dia 16, 22, 24 e 28 deste mês, assim como em março, na Casa da Cultura. O grupo Bonifrates não afasta a hipótese de levar a apresentação além Coimbra. O convite é direcionado para qualquer pessoa que tenha interesse, goste de arte e “esteja disposto a estar duas horas numa sala de teatro”, brinca Cristina Janicas. A atriz revela ainda que a próxima peça é de Garcia Lorca, a “Casa de Bernarda Alba”.
