Cultura

Novo conselho visa dar voz a grupos académicos

Frederico Cardoso

Ex vice-presidente da DG/AAC garante “dar espaço a grupos para maior harmonização da dinâmica cultural”. Dirigente da SF/AAC considera que criação da estrutura “desvirtua função e seriedade do trabalho” das secções culturais. Por Frederico Cardoso e Mariana Neves

No passado dia 9 de dezembro, em sede da Associação Académica de Coimbra (AAC), foi fundado o Conselho de Grupos Académicos. O dia culminou com a assinatura do regulamento pelos elementos que o compõem: dez grupos académicos, a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC) e o Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra – Magnum Consilium Veteranorum (MCV).

Daniel Aragão, antigo vice-presidente da DG/AAC, refere que este conselho se formou com o objetivo de reunir um conjunto de organizações que “não tinham voz” no Observatório da Cultura da Universidade de Coimbra (OCUC). Neste espaço são discutidas e aprovadas questões associadas à cultura, assim como o Estatuto de Estudante Integrado em Atividades Culturais no âmbito da Universidade de Coimbra.

O anterior vice-presidente explica que, no OCUC, há um representante da DG/AAC e também um representante dos Organismos Autónomos. Salienta ainda que “as secções têm a sua voz representada pela DG/AAC, enquanto atriz da política cultural”. No entanto, refere que “os grupos académicos não têm um assento no observatório”. Na sua visão, tal não faz sentido, já que considera que estas organizações fazem parte da Academia e “apresentam uma produção cultural significativa”.

A formação deste conselho vai permitir que os grupos académicos fiquem com um assento no OCUC, explica Daniel Aragão. Esta representação será feita através de um porta-voz, escolhido de forma rotativa a cada ano, por ordem alfabética e não por nomeação. Este novo conselho “é um espaço de assembleia”, que vai reunir de forma bianual, com uma reunião por semestre, acrescenta.

Daniel Aragão explica que, no passado, a DG/AAC “não tentava interagir com estas organizações”. No entanto, este ano, “foi estabelecido um clima positivo e uma dinâmica de trabalho conjunto”, sublinha.

A presença da DG/AAC, enquanto “membro observador”, vai “aproximar os grupos académicos à reitoria”, garante o ex vice-presidente. Também o MCV faz parte desta assembleia, onde irá “apoiar num sentido secretarial, sem qualquer tipo de voto”, informa.

A formação deste conselho causou algumas reações negativas por parte das secções culturais, em especial a Secção de Fado da Associação Académica de Coimbra (SF/AAC). Daniel Aragão justifica esta consternação pela “falta de informação das pessoas”. Acrescenta ainda que existe “medo de reformas”, mas que não se pode ter “medo de dialogar e de fazer diferente”.

O antigo vice-presidente salienta que a DG/AAC está “apenas a permitir que os grupos académicos também tenham o seu espaço” e que “a dinâmica cultural tenha uma maior harmonização”. Acredita ser “normal haver alguma suspeição”, mas garante que “não estão a ser retirados direitos, financiamento, espaço ou representatividade” às secções da casa.

Quando questionado sobre a falta de consulta à SF/AAC, por parte da DG/AAC, em relação à fundação deste órgão, Daniel Aragão refere que os grupos da SF/AAC fazem parte da AAC. Relembra ainda que as secções culturais “já têm espaço e representatividade, através da Assembleia de Secções Culturais”. O estudante de economia conclui que “não é por também olhar para aquilo que está à volta que a DG/AAC se esquece da própria casa”.

João Sousa, presidente da SF/AAC, manifesta “um profundo desagrado”. O estudante considera que a anterior DG/AAC deveria ter consultado “não só a SF/AAC, mas também o Conselho Cultural, órgão com a competência cultural da AAC”.

Segundo o presidente da SF/AAC, “não se percebe bem o papel da DG/AAC neste conselho nem o seu funcionamento”. João Sousa acrescenta que “nem a anterior DG/AAC o conseguiu explicar”. Até todas estas questões estarem esclarecidas, a SF/AAC “não pode ver com bons olhos a criação deste órgão”, defende.

Os grupos académicos pertencentes a este conselho, para João Sousa, estão a ”imiscuir no campo da AAC que é da responsabilidade da SF/AAC”. Esta medida, tomada pela anterior DG/AAC, “desvirtua a função e a seriedade do trabalho” das secções culturais, segundo o presidente da SF/AAC.

Ao questionar a anterior DG/AAC sobre “possíveis conflitos de atividades entre os grupos académicos e a SF/AAC”, João Sousa revela que a mesma respondeu que “se absteria”. Para o presidente da SF/AAC, é criado “um precedente muito negativo” para as secções culturais da casa, que “roça o anti-estatutário”.

O estudante aponta ainda a “infelicidade” na escolha da data de criação do projeto, uma vez que decorreu “a três dias da tomada de posse de uma nova DG/AAC”. Em reunião com Renato Daniel, atual vice-presidente responsável pela iniciativa, João Sousa explica que este assume “não estar ao corrente” do que foi discutido. “As devidas diligências de informar a DG/AAC em funções, por parte da anterior, não foram tomadas”, declara.

João Sousa demonstra “imensa pena” que a anterior DG/AAC não tenha exibido “o bom senso que se espera da estrutura que é”. Por fim, avisa que “se for necessário tomar medidas mais drásticas, estas vão ser tomadas”.

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