Simpósio incide sobre importância das plataformas digitais na intervenção no comportamento alimentar. Projeto eBEfree demonstra impactos positivos em distúrbios alimentares. Por Mariana Neves e Ana Vidal
Hoje realizou-se via on-line um simpósio organizado por investigadores da Universidade de Coimbra (UC) com o objetivo de divulgar os resultados do projecto eBEfree. O evento centrou-se na importância das plataformas digitais na intervenção no comportamento alimentar. As inscrições para o mesmo eram gratuitas, mas obrigatórias.
O projeto eBEfree foi desenvolvido por uma equipa de investigação multidisciplinar do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra (FPCEUC). O programa de intervenção psicológica é direcionado a pessoas com excesso de peso e com hábitos de ingestão alimentar compulsiva.
José Pinto Gouveia, investigador e professor catedrático jubilado da FPCEUC, e líder do projeto explica que este é uma continuação de um programa anterior, o BEfree. Este era composto por várias componentes de estratégias de regulação emocional, desde o ´mindfulness´ à psicoeducação.
Estas estratégias de intervenção psicológica são importantes uma vez que “muitas vezes as pessoas comem para lidar com as emoções negativas”, de acordo com o investigador. No fim deste programa “as pessoas tinham diminuído de forma significativa os episódios de ingestão compulsiva” e “melhorado a sua regulação emocional e qualidade de vida”.
Após estes resultados, o antigo chefe do serviço de psicologia do Centro Hospital da UC (CHUC) referiu que o passo seguinte se centrou em “como fazer chegar este tratamento a um número maior de pessoas”. Nasceu assim o projeto eBEfree, uma aplicação para telemóveis, onde foram incluídos as componentes do projeto anterior que se tinham mostrado eficazes. A aplicação conta com doze sessões, composta por vídeos, áudios e exercícios que “as pessoas podem fazer sozinhas com o mínimo apoio”, segundo José Pinto Gouveia.
O simpósio teve início às 09h30 e contou com a presença de investigadores nacionais e internacionais, onde não só foi discutido este projeto mas também a eficácia de outros programas digitais e aplicações móveis. Para o coordenador, o foco foi “intervir e ajudar a população”, com o tema da obesidade infantil e o trabalho com os pais em destaque.
Em relação ao projeto em si, José Pinto Gouveia afirma que os resultados preliminares “continuam a ser muito animadores”. O mesmo baseia a sua opinião no facto de que a maioria das pessoas que completou o programa teve “uma redução significativa dos episódios de ingestão compulsiva” e “o seu peso diminuiu”. O projeto contribui também para a diminuição do estigma associado à obesidade e ajuda a diminuir a autocrítica.
O antigo professor da FPCEUC relembra ainda que esta aplicação não substitui a intervenção de uma equipa especializada. Salienta que é “um complemento do tratamento dadas as dificuldades que hoje o Serviço Nacional de Saúde tem”.
