Ciência & Tecnologia

Uso da espectroscopia na deteção de cancro é eficaz segundo cientistas da UC

Fotografia cedida por Cristina Pinto

Projeto tem objetivo de auxiliar deteção precoce de cancro. Não há previsão para implementação em Portugal. Por Daniel Oliveira

Um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Coimbra (UC) comprovou a eficácia de técnicas óticas no diagnóstico precoce de cancro. A equipa, liderada por Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques, da Unidade Química-Física Molecular (QMF-UC) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), concluiu que, além de não invasivos, estes métodos permitem analisar informações que não se conseguem obter com as técnicas atuais.

O projeto, denominado “VIBSonCANCER – Diagnóstico de Cancro a Nível Molecular por Espectroscopia Vibracional”, foi criado com o intuito de desenvolver métodos óticos, que recorrem à radiação laser ou infravermelha. O objetivo é, através destes meios, ajudar os médicos na deteção precoce de cancro e avaliar margens cirúrgicas, que são o tecido à volta de um tumor que já não é maligno.

Maria Paula Marques afirma que as clínicas hospitalares detetam casos de cancro através de uma biópsia, ou seja, faz-se a colheita de um tecido biológico, que é observado com o auxílio de um microscópio ótico. Com isto, é possível analisar alterações na morfologia (forma) das células e no seu ambiente, de modo que os patologistas percebam se estas estão normais, alteradas ou cancerígenas, explica a coordenadora do projeto.

A espectroscopia pretende, de acordo com Maria Paula Marques, verificar a composição química celular, que se modifica antes da forma das células. Segundo a também docente na FCTUC, é utilizado para o efeito um equipamento, denominado “espectrópeto”, que recorre a radiação laser e não requer a recolha de tecido de um paciente para fazer a análise, pelo que se trata de um método não invasivo.

O espectrópeto também permite a visualização da forma das células, no entanto, Maria Paula Marques salienta que esta técnica não pretende substituir as práticas atuais, denominadas “histopatológicas”. A informação sobre a morfologia celular obtida através de uma biópsia ser mais rigorosa e detalhada, pelo que o pretendido é utilizar as duas técnicas em conjunto, justifica a coordenadora.

De modo a averiguar a eficácia da espectroscopia, o conjunto de cientistas da UC fez testes com amostras de tecido maligno e margens cirúrgicas. Maria Paula Marques aponta que, a nível das diferenças entre os dois tipos de tecido, verificou-se que há elementos nas células que se alteram mais, denominados “biomarcadores”.

Com os biomarcadores, a equipa pode apurar estas técnicas para serem analisadas por qualquer clínico, mesmo que não seja espectroscopista, menciona a integrante da QMF-UC. Acrescenta que isto permite a utilização destas nos blocos operatórios, para avaliar margens cirúrgicas e fazer a distinção entre tumores malignos e não malignos. é importante, porque a percentagem de erro nas margens cirúrgicas é elevada.

A espectroscopia é uma técnica já utilizada, em fase de estudo-piloto, na clínica de alguns hospitais dos Países Baixos, Inglaterra e Canadá. Maria Paula Marques refere que no âmbito do projeto, financiado pelo Programa Operacional do Centro, Portugal 2020 e União Europeia, está a ser desenvolvido o protótipo de um espectrópeto que possa ser utilizado nos hospitais portugueses, mas não há previsão para se implementar a prática em território nacional.

To Top