Projeto tem objetivo de auxiliar deteção precoce de cancro. Não há previsão para implementação em Portugal. Por Daniel Oliveira
Um estudo conduzido por cientistas da Universidade de Coimbra (UC) comprovou a eficácia de técnicas óticas no diagnóstico precoce de cancro. A equipa, liderada por Luís Batista de Carvalho e Maria Paula Marques, da Unidade Química-Física Molecular (QMF-UC) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC (FCTUC), concluiu que, além de não invasivos, estes métodos permitem analisar informações que não se conseguem obter com as técnicas atuais.
O projeto, denominado “VIBSonCANCER – Diagnóstico de Cancro a Nível Molecular por Espectroscopia Vibracional”, foi criado com o intuito de desenvolver métodos óticos, que recorrem à radiação laser ou infravermelha. O objetivo é, através destes meios, ajudar os médicos na deteção precoce de cancro e avaliar margens cirúrgicas, que são o tecido à volta de um tumor que já não é maligno.
Maria Paula Marques afirma que as clínicas hospitalares detetam casos de cancro através de uma biópsia, ou seja, faz-se a colheita de um tecido biológico, que é observado com o auxílio de um microscópio ótico. Com isto, é possível analisar alterações na morfologia (forma) das células e no seu ambiente, de modo que os patologistas percebam se estas estão normais, alteradas ou cancerígenas, explica a coordenadora do projeto.
A espectroscopia pretende, de acordo com Maria Paula Marques, verificar a composição química celular, que se modifica antes da forma das células. Segundo a também docente na FCTUC, é utilizado para o efeito um equipamento, denominado “espectrópeto”, que recorre a radiação laser e não requer a recolha de tecido de um paciente para fazer a análise, pelo que se trata de um método não invasivo.
O espectrópeto também permite a visualização da forma das células, no entanto, Maria Paula Marques salienta que esta técnica não pretende substituir as práticas atuais, denominadas “histopatológicas”. A informação sobre a morfologia celular obtida através de uma biópsia ser mais rigorosa e detalhada, pelo que o pretendido é utilizar as duas técnicas em conjunto, justifica a coordenadora.
De modo a averiguar a eficácia da espectroscopia, o conjunto de cientistas da UC fez testes com amostras de tecido maligno e margens cirúrgicas. Maria Paula Marques aponta que, a nível das diferenças entre os dois tipos de tecido, verificou-se que há elementos nas células que se alteram mais, denominados “biomarcadores”.
Com os biomarcadores, a equipa pode apurar estas técnicas para serem analisadas por qualquer clínico, mesmo que não seja espectroscopista, menciona a integrante da QMF-UC. Acrescenta que isto permite a utilização destas nos blocos operatórios, para avaliar margens cirúrgicas e fazer a distinção entre tumores malignos e não malignos. é importante, porque a percentagem de erro nas margens cirúrgicas é elevada.
A espectroscopia é uma técnica já utilizada, em fase de estudo-piloto, na clínica de alguns hospitais dos Países Baixos, Inglaterra e Canadá. Maria Paula Marques refere que no âmbito do projeto, financiado pelo Programa Operacional do Centro, Portugal 2020 e União Europeia, está a ser desenvolvido o protótipo de um espectrópeto que possa ser utilizado nos hospitais portugueses, mas não há previsão para se implementar a prática em território nacional.
