Jorge Paiva e Anabela Azul destacam importância de árvores para qualidade de vida. José Manuel Silva e João Marrana prometem minimizar impacto de obras ao máximo. Por Daniel Oliveira
O abate de árvores na sequência da construção de linhas para o Sistema de Mobilidade do Mondego (SMM) foi o tema da conversa “SOS Árvores: Coimbra precisa de reforma?”. O debate, promovido e moderado pela Associação Coimbra Cooletiva, realizou-se no dia 26 de outubro, com início às 18 horas, no Seminário Maior de Coimbra.
Marcaram presença no evento o presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), José Manuel Silva, Jorge Paiva, biólogo e docente na Universidade de Coimbra (UC), Anabela Azul, investigadora do Centro de Ecologia Fundamental da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC, e o presidente do conselho de administração da Metro-Mondego, João Marrana. Além, dos oradores, foi possível o público intervir no debate, através de duas rondas de questões.
Jorge Paiva fez a primeira intervenção da conversa, e considera que o município “não tem qualidade de vida” em comparação a outros, como Almada, por exemplo. O biólogo explicou que uma das causas é a arborização, porque “as câmaras têm um departamento que trata disso e não pode haver erros, como plantar plátanos em ruas estreitíssimas”, como, de acordo com o próprio, acontece em Coimbra.
Um dos contributos mais importantes das árvores é a produção de biomassa, explicou Jorge Paiva. Anabela Azul ressaltou essa questão e acrescentou que o património arbóreo contribui para a biodiversidade e prevenção de pragas. No entanto, alertou que, em relação a estes aspetos, é preciso ter em conta as espécies de árvores que podem ser plantadas.
De seguida, foi dada a palavra a José Manuel Silva, que começou por afirmar que “todos estão de acordo sobre a importância das árvores” e que a CMC está a “analisar cada árvore” antes de decidir se a vai abater ou não. Nesse sentido, o presidente do município garantiu que o executivo está a fazer os possíveis, já que entraram em funções “com um projeto já aprovado e em obra”. Além disso, referiu ter sido evitado o “corte de uma série de árvores” na praça 25 de abril e no parque da Solum.
José Manuel Silva considera que não tem havido problemas de diálogo com a MetroBus e apontou para o efeito desse meio de transporte no ambiente, já que, segundo o mesmo, são produzidas menos vinte mil toneladas de dióxido de carbono, o que corresponde ao efeito de 750 mil árvores. O autarca ressalva que isto não é o mesmo que produzir oxigénio, mas que, para tal, vai ser plantado o triplo do número de árvores que forem abatidas.
Em relação às rondas de questões do público, destacou-se a intervenção de Miguel Dias, membro do movimento ClimAção Centro. O mesmo afirmou que tanto a Metro-Mondego como a CMC não foram capazes de lançar a questão do abate de árvores a discussão pública, além de a MetroBus ter desconsiderado um projeto do ClimAção Centro e ter recusado reuniões com este. Miguel Dias também referiu o facto de o município de Coimbra ter abatido todas as árvores da praça 25 de abril, exceto quatro.
Em resposta à intervenção, João Marrana garantiu que “não há secretismo no projeto” e que a Metro-Mondego está a fazer esforços para contactar a população. Frisou que, para isso, a empresa tem uma linha de telefone e e-mail, pela qual “sugestões são bem vindas”. O presidente do conselho de administração da MetroBus acrescentou que este é um sistema de mobilidade “estruturante para a cidade e para a região” e que o impacto ambiental está a ser minimizado ao máximo.
Acerca do impacto da introdução do meio de transporte no concelho, José Manuel Silva referiu que as árvores que forem plantadas no seguimento dos abates vão ter 27 anos em 2050, ano em que a União Europeia pretende atingir a neutralidade carbónica. Não obstante, mencionou que, além de plantar o triplo do património arbóreo que for cortado, vão ser germinadas cerca de mil árvores em Coimbra, de acordo com o plano municipal de arborização.
Num segundo momento, Jorge Paiva levantou a questão do abate de plátanos na avenida Emídio Navarro, motivada por uma alegada contaminação dos espécimes por um fungo, caso que foi a tribunal. O docente na UC apontou para uma proposta que fez de uma rota que passasse pelo local sem requerer o abate das árvores, que não foi concretizada.
Anabela Azul voltou a intervir na conversa ao reforçar as considerações que fez no início, no que diz respeito ao planeamento da rearborização, pois, segundo a mesma, o facto de as árvores plantadas terem 27 anos em 2050 é muito relativo em termos de impacto, uma vez que depende das espécies de árvore. A investigadora também questionou a quantidade de pessoas que vão usufruir do MetroBus e a necessidade de manter certas faixas de automóveis, já que “é desejável que em 2050 o automóvel não seja o principal [meio de transporte]”.
Na sua última intervenção, José Manuel Silva defendeu, no contexto dos tipos de árvores que são plantadas, a necessidade de criar um programa nacional para a plantação de espécies autóctones. Também garantiu que vão ser plantados 43 plátanos na avenida Emídio Navarro, em compensação dos 5 espécimes que foram abatidos, e reforçou que a CMC está a “trabalhar para ter um município mais verde”.
Neste momento, as obras para a implantação do SMM estão a ser efetuadas na avenida Fernando Namora e na rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes. Os trabalhos na avenida Fernando Namora vão durar cerca de 10 semanas, enquanto a rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes vai sofrer alterações até maio de 2023.
