Capacidade de as instituições se adaptarem às circunstâncias sociais e educacionais alvo de debate. João Caseiro teceu críticas aos entraves que os jovens enfrentam no ensino e no mercado de trabalho. Por Fábio Torres
A Universidade de Coimbra (UC), em parceria com o Jornal Expresso, organizou a conferência “Criar para Renovar: os desafios do Ensino Superior”, com o intuito de dialogar sobre os avanços e os entraves do ensino superior, tanto nos últimos anos, como no futuro. O evento decorreu no Colégio da Trindade, às 11 horas de hoje. O reitor da UC, Amílcar Falcão, abriu a cerimónia que teve como último interveniente o secretário de estado do ensino superior, Pedro Teixeira.
Discursos Individuais
O reitor da UC começou por avisar que, embora se tenha superado uma pandemia, esta ainda está presente na vida diária de todos. Ao mesmo tempo, para demonstrar que ainda se vivem tempos conturbados, deu o exemplo da guerra na Ucrânia e que as consequências que se verificam, como a inflação e a crise energética, são apenas o início. Amílcar Falcão encerrou a sua participação a relembrar que os estabelecimentos do ensino superior vão ter que se adaptar às circunstâncias.
O segundo discurso do dia veio de Ana Cristina Araújo, historiadora da UC, que deu uma pequena palestra sobre a reforma pombalina, que aconteceu em 1772, e o que representou para Portugal. “Ontem, como hoje, a universidade é um polo incomparável de criatividade, liberdade de espírito e paixão pelo conhecimento”, salientou. Na apresentação, Ana Cristina Araújo, demonstrou que depois de 1772 ocorreram inúmeras mudanças, tais como o aumento do número de faculdades, a duração dos cursos, o aumento das propinas e o decréscimo do número de matrículas. Por outro lado, mesmo depois da reforma pombalina, a estrutura social manteve-se, o corpo docente continuou dominado por homens e a universidade manteve-se regida por uma falta de tolerância.
Hora do Debate
A terceira parte da conferência contou com a presença do presidente da Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), João Caseiro, que se juntou a Ana Cristina Araújo. Guilherme d´Oliveira Martins, administrador da Fundação Calouste Gulbenkian e a reitora do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), Maria de Lurdes Rodrigues, concluíram o painel de debate. Os quatro dialogaram sobre as mudanças que ocorreram no ensino em Portugal desde a reforma pombalina e os atuais desafios dos estudantes.
Maria de Lurdes Rodrigues referiu terem ocorrido outras reformas depois da pombalina tão importantes como esta. A introdução do Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior (RJIES) em 2007 foi um dos exemplos dados. Salientou ainda que “não houve nenhuma mola de impulsão do país que não tivesse partido do ensino superior”. Guilherme d´Oliveira Martins acredita ser necessário reforçar a ligação entre o ensino secundário profissional e o superior pois, segundo o mesmo, só assim pode haver uma boa relação entre a sociedade e o ensino.
A primeira intervenção de João Caseiro assentou no título atribuído à atual geração: “a mais qualificada de sempre”. Segundo o presidente da DG/AAC, os jovens apostam na formação para poderem contribuir para a sociedade e para terem oportunidades no marcado de trabalho. No entanto, o mesmo afirmou que os indicadores de emprego são preocupantes. Admite ainda que a UC providencia espaço e ensino para cada estudante adquirir ferramentas mas que também é possível obtê-las fora do ensino superior. Uma das suas críticas foi de que o contacto entre universidades e empresas e outras instituições é fraco. Por fim, afirmou que a oferta de progressão na carreira continua a ser melhor fora de Portugal e que continua a ser importante oferecer aos recém-estudantes condições para preferirem ficar no país.
Segunda ronda do debate
Após uma pequena intervenção de Ana Cristina Araújo, que referiu que o objetivo do ensino é “criar massa crítica e educar para a participação e para a liderança”, a segunda ronda de debate começou pelas mãos da reitora do ISCTE. De acordo com Maria de Lurdes Rodrigues, a geração “mais qualificada de sempre” tem a competição de uma geração não tão qualificada, mas com experiência prática.
Guilherme d´Oliveira acredita que é necessário estarem atentos para que não se criem becos sem saída para os jovens que entram no ensino superior. “Há desafios e estímulos e os jovens estão atentos” às oportunidades que existem.
A última intervenção veio do presidente da DG/AAC, que reforçou o papel do estudante como agente ativo do ensino superior. Para além disso, salientou que o custo para uma família suportar o ensino de um jovem continua a ser dos maiores entraves à entrada de alunos. Há formas de contornar alguns problemas financeiros, como o prato social e as residências, no entanto, João Caseiro acredita não serem suficientes.
Encerramento
O secretário de estado do ensino superior, Pedro Teixeira, começou o discurso de encerramento da conferência a enaltecer as instituições de ensino superior: “têm memória, valores e missões que transcendem em muito o que é ser uma instituição”. No que toca à reforma pombalina, o mesmo referiu ter sido possível introduzir reformas a uma universidade que se tinha fechado e, por isso, os estudantes e os professores são agora “mais do que clientes e funcionários”, pois fazem parte de uma comunidade. As universidades foram capazes de se adaptar ao longo dos séculos mas continuam a ter que estar atentas às evoluções europeias e mundiais, segundo o mesmo. Por fim, o secretário de estado assumiu que as instituições de ensino superior têm capacidade de dinamismo para resolver os problemas e que o importante é a sociedade renovar a confiança nelas.
