Cultura

Multidão recebe Festival APURA  em três palcos diferentes da cidade 

Raquel Lucas

Diversidade de estilos musicais convida diferentes públicos a “Estar em Apura”. Primeiro dia de festival marcado pela vontade de “cantar mais uma hora”, conta Pedro Sáfaro. Por Raquel Lucas e Filipa Paz

A terceira edição do Festival Apura teve início esta sexta-feira, dia 23, e foi repleta de música, conversa e partilha. No Largo do Poço, no centro de Coimbra, o Palco Apura recebeu três performances musicais e dinamizou um debate entre jovens. Os restantes palcos preencheram a primeira noite do festival com música de estilos diversos e muita energia. Focado na promoção de artistas locais da cidade de Coimbra, este dia foi marcado pela diversidade de temas e de géneros musicais, pela representatividade e criatividade.

O Palco Apura arrancou às 15 horas com a realização de uma tertúlia com repúblicas de Coimbra, seguida da atuação do DJ e promotor David Rodrigues. João Bargão sobe ao palco às 18 horas e começa a atrair cada vez mais público. Aqueles que circulam pelas ruas da baixa da cidade  interrompem as suas atividades mundanas para usufruir das melodias serenas do cantautor. O espaço minimalista e sóbrio harmoniza com as letras introspetivas e intimistas de João Bargão. Apenas com uma guitarra, o músico albicastrense apresenta as suas composições do E.P. “Melodias de Rancor”, das quais o público destaca “Coimbra”, “Sand”, “Tela sem tinta” e “Mártires”. À medida que o tempo avança, as pessoas dispersam-se, mas as que ficam cantam as músicas de João Bargão e usufruem do concerto e do convívio.

No Largo do Poço, às 19 horas, crianças, jovens e adultos juntam-se para ouvir Pedro e Mel e o seu convidado Felipe Barão. A dupla Pedro Sáfaro e Mel Costa foi formada nas ruas de Coimbra, onde regressam para apresentar as suas novas produções no âmbito do festival. “Conhecemo-nos na rua há quase dois anos, foi o destino”, conta a artista. Pedro Sáfaro é reconhecido pela comunidade local, e admite “ter aprendido a ser músico nesta cidade”. A atuação chamou um público maior e mais velho, em contraste com o concerto anterior. Os artistas terminaram a performance radiantes, com vontade de “cantar mais uma hora”, reconhece Pedro Sáfaro.

A hora de jantar na baixa de Coimbra foi marcada por pessoas a dançar ao ritmo das maracas e da música brasileira. Amigos reencontram-se ao som de Pedro e Mel e o ambiente que se vive neste espaço  torna-se cada vez mais vibrante. Mel Costa define o estilo musical do grupo como “samba, bossa nova e jazz”. As letras que acompanham as melodias atribuem um tom satírico às composições, focadas em desconstruir as diferenças sociais da sociedade contemporânea portuguesa e brasileira. “Luta de classes” é um dos singles mais afamados nas redes sociais e no público do Festival Apura, que aplaude de forma entusiástica. A dupla é reconhecida pela sua performance expressiva e interação com a plateia. “Poesia, filosofia e música, ou arte em geral”, são as principais fontes de inspiração dos artistas.

O grupo acaba o concerto com o tema “Olhos de Cobra” a pedido de um membro da audiência, que implora por mais. No final, em entrevista ao jornal A Cabra, Pedro Sáfaro diz ter esperança de que “Coimbra consiga tornar-se no centro cultural que é” para que “novas iniciativas como o Festival Apura continuem a acontecer”. É essencial para ambos os músicos que os artistas locais continuem a ser valorizados nestes eventos. “Em Coimbra é possível porque Coimbra pode mais”, defendem. Pedro Sáfaro adiciona que “a cidade tem potencial para ser um lugar ainda mais forte em termos culturais e isso às vezes é desperdiçado”.

A atuação de MaZela veio estrear o palco Salão Brazil perto das 20 horas com Maria Roque na voz e na guitarra em conjunto com Alexandre Mendes, no mesmo instrumento. A dupla foi marcada pela criação de um ambiente escuro e silencioso que levou a plateia numa “viagem pelo silêncio”, como conta Diogo Ferreira, membro do público. Após o concerto, o jovem agradeceu aos artistas pela atuação.

Já eram perto das 21h30 quando o trio conimbricense Mike Vhiles deu entrada no palco e, mesmo com um ligeiro atraso, fez o espaço encher para assistir a rock de garagem. Formado em 2020 por Miguel Vale (voz, guitarra) e João Vilas Boas (bateria), a banda integrou André Figueiredo (baixo) e, juntos, vieram para marcar uma performance descrita como “inovadora, excitante e apelativa” pelos membros do público. Os risos, gritos e a intensidade de luzes deram ao concerto um teor psicadélico e eletrificante que fez a multidão saltar e chegar-se mais à frente. 

A boa presença de palco e a interação com a plateia também foram aspetos destacados por quem ali passou e “voltaria a repetir”, como é o caso de Tomás Santos, Samanta Fernandes e Rodrigo Queirós, integrantes do público. Decididos a ficar, os jovens juntaram-se ao resto da multidão, que aparecia cada vez mais para ver Fjords, dupla formada em 2019, composta por André Figueiredo, desta vez na bateria, e Rafael Borges, no baixo. Assim como a performance anterior, o duo agitou o espaço com uma sonoridade descrita pelos próprios artistas como “capaz de cortar montanhas”, caracterizada pelo “stoner, psychedelic post-rock”.

O culminar do primeiro dia de festival deu-se por volta das 00 horas no palco Lúcia-Lima, na República da Praça, local que já havia sido casa da última edição do APURA. As atuações de Vitor Torpedo, Dj A Boy Named Sue e Le Cirque du Freak conseguiram mover a plateia até depois das cinco horas do dia seguinte. 

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