Investigadores da UC levam a cabo estudo que tem como um dos objetivos finais a prevenção de doenças como Alzheimer em pessoas mais velhas. Equipa aceita voluntários para participar até final do ano. Por Luísa Macedo Mendonça
O estudo coordenado por Maria Ribeiro, investigadora na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC), pretende avaliar o modo como a função do sistema noradrenérgico muda com a idade. A partir disso, vão procurar medir como essa mudança vai influenciar o declínio cognitivo com o envelhecimento. A investigação, feita em colaboração com o laboratório do professor alemão Tobias Donner, pretende avaliar “as alterações cerebrais associadas à tomada de decisão ao usar imagens cerebrais adquiridas por ressonância magnética, que permitem estudar a estrutura e função do cérebro de forma não-invasiva”, como refere a coordenadora em nota de imprensa. O estudo está a ser financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.
Até à data, de acordo com Maria Ribeiro, os estudos acerca do assunto são poucos. Porém, a investigadora indica que estudos já feitos em animais mostram que “lesões no sistema da noradrenalina fazem com que a doença de Alzheimer progrida mais rapidamente”. Assim, a hipótese que guia a investigação é que “se calhar, as pessoas mais velhas têm o sistema noradrenérgico menos ativo do que as mais novas, menos modelável com a presença de noradrenalina”, pelo que pode haver uma “menor proteção do cérebro associada à diminuição de sistemas protetores como o noradrenérgico”. O défice neste sistema pode, de acordo com a equipa de investigação, estar “associado ao surgimento de doenças neurodegenerativas, como Alzheimer”. Como sugere a nota de imprensa, “esta investigação pretende desvendar os processos cerebrais que explicam as mudanças na tomada de decisão associadas ao envelhecimento”.
A noradrenalina é a responsável pelas reações das pessoas em situações de alerta ou perigo. Deste modo, o estudo pretende, através da ressonância magnética, “medir e analisar os dados do tronco cerebral (onde está alojado o núcleo que liberta a noradrenalina)” e comparar resultados entre os voluntários mais velhos e mais novos “a ativação do núcleo enquanto envolvidos numa tarefa de tomada de decisão, o que modela o nosso sistema de alerta”, como explica Maria Ribeiro. Acrescenta ainda o facto da medição da função cognitiva não-invasiva em pessoas (e não animais), é “bastante desafiante”, daí a parceria com o laboratório alemão, que possui “experiência na deteção de sinal, em particular, no sistema noradrenérgico”, conclui. Em nota de imprensa, a coordenadora ressalta ainda que, ao longo do dia, a pessoa depara-se com várias decisões para tomar, mas que “o modo pelo qual ajustamos este processo ao contexto é afetado pelo envelhecimento”.

O grupo de investigadores associados ao Centro de Imagem Biomédica e Investigação Translacional do Instituto de Ciências Nucleares Aplicadas à Saúde (CIBIT/ICNAS) da UC pretende também avaliar o declínio cognitivo natural da pessoa humana. Para isso, estão a ser procurados voluntários saudáveis (sem “historial de doença neurológica ou psiquiátrica, traumatismo craniano ou consumo atual de substâncias psicoativas”, como indica a nota de imprensa), entre os 20 e os 30 anos, e entre os 50 e os 70, de Coimbra. A coordenadora esclarece, no entanto, que quem se voluntariar pode não ser de Coimbra, mas que os custos das viagens não serão cobertos pelo estudo.
Ao longo do processo, os voluntários vão ter de ir três vezes ao laboratório para serem sujeitos, primeiro, a um teste visual à frente de um computador. As pessoas vão deparar-se com imagens e responder a questões, numa situação que as vai obrigar a “processar a incerteza do contexto para conseguir otimizar a performance na tarefa”, como indica a investigadora da FMUC, em imagens onde “nem sempre a resposta é óbvia”. Em segundo lugar, vão fazer o mesmo, mas na ressonância magnética, de modo a permitir a avaliação da atividade cerebral na hora da tomada de decisão. Em terceiro, a equipa de cientistas vai avaliar o nível cognitivo da pessoa em questão. O objetivo passa por avaliar a cada ano, no espaço de tempo de dois/três anos, o declínio da função cognitiva nos mais velhos.
“Se nós conseguirmos ver que há uma correlação entre a função noradrenérgica e o declínio cognitivo, então podemos ter identificado um biomarcador que possa identificar quais são as pessoas que estão com maior risco de desenvolver um nível de declínio cognitivo que possa ser problemático”, ressalta Maria Ribeiro. Assim, a investigação, ao confirmar-se a relação, pode ser essencial para o surgimento de terapias “focadas na ativação noradrenérgica ou farmacológicas que potenciem este sistema”, um passo grande na ajuda da manutenção da função cognitiva na terceira idade.
A equipa de investigadores está a aceitar a inscrição de voluntários até ao final do corrente ano de 2022.
