Ensino Superior

Associações Académicas retiram-se de ENDA

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Falta de representatividade estudantil apontada como problema. Associações vão reunir com secretário de Estado para apresentar moções “de forma mais robusta”. Por Joana Carvalho com Simão Moura

O Encontro Nacional de Direções Associativas (ENDA), que decorreu de forma extraordinária na passada sexta-feira, em Viseu, ficou marcado pelo abandono de várias associações académicas da reunião. O motivo da saída deveu-se ao chumbo do regimento interno do próprio ENDA na globalidade, que contava com uma proposta de alteração do modelo de voto praticado. Das várias estruturas que abandonaram o encontro consta a Associação Académica de Coimbra (AAC), assim como outras associações de todo o país, desde Trás-os-Montes até à Madeira.

O presidente da Direção-Geral da AAC (DG/AAC),João Caseiro, considera que o atual modelo de sufrágio, em que cada associação de estudantes tem direito a um voto, dá “prevalência às federações académicas”, visto que estas albergam várias associações de estudantes, pelo que cada uma pode votar nas moções que são apresentadas.  O regimento interno do ENDA foi revisto em vários pontos, um dos quais o modelo de votação, durante mais de 18 horas, relata João Caseiro. Segundo o presidente da DG/AAC, foram criadas “comissões de trabalho que estiveram a trabalhar mais de um ano para o efeito”. No entanto, considera que, apesar de a proposta de alteração do formato de sufrágio ter sido aprovada na especialidade, o mesmo foi chumbado na globalidade pelas federações académicas, porque “já estava enredada uma estratégia política” com esse objetivo. 

O dirigente associativo considera que este formato “não é representativo” e justifica ao relembrar que as várias académicas representam cerca de “25 por cento dos estudantes do Ensino Superior, mas que o seu peso de votação é 10 por cento”. Acrescenta ainda que, devido ao peso eleitoral que as federações como a Federação Académica do Porto, de Lisboa e a Federação Nacional dos Estudantes do Ensino Superior Politécnico possuem, detêm um peso eleitoral que “consegue restringir o espaço de atuação de uma academia” no momento em que apresentam uma moção.

João Caseiro relembra a “posição adversa” da AAC ao ENDA “devido a todo o contexto histórico”, visto que  já tinha saído em 2015 e só voltou a participar de reuniões um ano depois. Isto levou, de acordo com o presidente da DG/AAC, a um afastamento da casa em relação às discussões tidas no seio do encontro que, na sua visão, “são muitas vezes demagogas e fecham-se nos centros do Porto, Lisboa ou ensino politécnico”. 

O dirigente associativo considera este panorama “representativo daquilo que é o Ensino Superior” no país. “O ENDA deve ser um espaço de representatividade de todos os estudantes e não apenas dos que estão associados a determinadas estruturas e neste momento há estruturas que devido ao seu modelo federativo saem beneficiadas”, lamenta.

O próximo passo para as associações académicas que abandonaram o ENDA vai ser “contribuir para a política educativa nacional de forma unitária”, acredita João Caseiro. Em relação à AAC, o presidente relembra que a estrutura “tem feito um trabalho muito forte”, como é o caso do desenvolvimento de cadernos reivindicativos próprios, e que “esse vai continuar a ser o caminho traçado porque é a história da AAC”. O dirigente associativo adianta que as várias académicas vão reunir com o secretário de Estado e apresentar as suas moções “de forma mais robusta”, assim como criar uma agenda política “para que sejam atingidas determinadas metas.

No que diz respeito ao futuro no ENDA, João Caseiro manifesta a intenção de continuar a contribuir para o mesmo, por ser “o espaço indicado do movimento estudantil nacional” para o desenvolvimento da unidade do mesmo. No entanto, reforça que as várias associações que saíram “não querem contribuir para um ENDA que não é representativo”, cujo modelo é “enviesado, estagnado e entrópico e não é de todo benéfico não só para as académicas, mas também para o movimento estudantil em si”.

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