CEC/AAC considera que reconhecimento vem “reativar um espaço de memórias feito por várias vozes”. Diretor apela maior envolvimento dos estudantes. Por Ana Filipa Paz
No final do mês de março, os cinemas Millenium, dos quais fazem parte as salas de cinema do Edifício Avenida, foram colocados à venda através de um leilão online. O processo não chegou a ser concluído e o leilão foi interrompido. No dia 11 de maio, a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) anunciou, em conferência de imprensa, a compra das duas salas, geridas e programadas pelo Centro de Estudos Cinematográficos da Associação Académica de Coimbra (CEC/AAC), pela Caminhos do Cinema Português – Associação de Artes Cinematográficas e pelo Fila K Cineclube.
Tiago Santos, membro da direção do CEC/AAC, reflete sobre a primeira fase do processo, quando surgiu uma potencial ameaça de ficarem sem espaço para desenvolver os seus projetos. O dirigente confessa que receava a “passagem de posse das salas para um grupo privado que não se sabe quem seria nem quais as suas intenções”. Apesar da instabilidade que a situação proporcionou, o CEC/AAC não suspendeu o seu trabalho.
Face à possibilidade de perder a Casa do Cinema de Coimbra, o CEC/AAC focou-se em mostrar que “há um espaço para várias vozes do ponto de vista da curadoria do cinema singular no país”. Numa tentativa de resolver alguns problemas com a infraestrutura das salas, o CEC/AAC pediu apoio ao Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA). Segundo Tiago Santos, a primeira “salvaguarda” a que recorreram foi a CMC, “porque acreditavam que este executivo estaria sensível para adquirir o espaço, como sinalizou durante o processo eleitoral”.
Na conferência de imprensa, José Manuel Silva afirmou que “com estas características e valências, as salas podem ser ainda um espaço de promoção laboratorial em articulação com os estabelecimentos de ensino e universitários”. Tiago Santos complementa que “não há mais nenhuma situação em que três associações estejam a exibir ao longo da semana, num sítio partilhado”, o que torna o projeto “invulgar”. A CMC oficializou a intenção de compra na passada quarta-feira, e ainda vai fazer a sua escritura e tomar posse das salas. De acordo com o dirigente, resta cumprir alguns requisitos legais para licenciar os espaços.
O que vem a seguir?
A iniciativa da CMC “é uma mudança radical do paradigma de apoio cultural na área do cinema”, sublinha Tiago Santos. As salas de cinema do Edifício Avenida vão passar a ser um equipamento municipal, o que traz vantagens e desvantagens para o grupo. O membro do CEC/AAC admite que o projeto ganha pelo facto de “as associações que gerem este tipo de espaços ficarem em pé de igualdade”. No entanto, mantém-se ciente de que “neste momento ainda é cedo para auspiciar que políticas culturais e respectivos apoios poderão existir no futuro”, apesar de conhecer “a realidade dos apoios atribuídos a outras associações que gerem equipamentos culturais municipais”.
Tiago Santos regista que “as pessoas procuram o cinema Avenida e não associam ainda o espaço com a Casa do Cinema de Coimbra”, pelo que continuar o projeto é também “reativar um espaço de memórias feito por várias vozes”. No que diz respeito ao futuro destas salas, o CEC/AAC pretende “arranjar forma de dar resposta às necessidades estruturais, garantir a segurança do espaço e do centro comercial” e retomar o seu projeto de formação. Relata ainda que “é uma sala que tem as condições adequadas para programar dentro do estilo do CEC/AAC” e para “manter o crescimento de um sítio de comunidade”.
Segundo o dirigente, o apoio a iniciativas culturais de cinema devia “ir ao encontro daquilo que já existe para o teatro, a música e as artes visuais”. Na sua perspetiva, é necessário “haver um financiamento que seja competitivo e que permita estar dedicado à gestão de projetos”. Tiago Santos reforça que “enquanto existir precariedade, o trabalho vai ser feito no imediato e é preciso estabilidade a longo prazo”. O CEC/AAC é apenas amador “no sentido de quem ama aquilo que faz”, declara.
Tiago Santos faz um apelo à comunidade académica para se envolver mais no projeto da Casa do Cinema de Coimbra. O dirigente admite que a adesão estudantil tem sido maior desde que começaram o trabalho fora da AAC, o que o leva a questionar “a forma como os estudantes se relacionam com as estruturas da casa”.
