Filme pretende dar voz a migrantes. Produção conimbricense tem antestreia no Festival Política, em Lisboa. Por Fábio Torres
A Universidade de Coimbra (UC) e a cooperativa Propella produziram o documentário “My heart is there, my body is here”, sobre pessoas com estatuto de refugiado e as suas histórias. O documentário tem a sua antestreia dia 22 de abril, no Cinema São Jorge, em Lisboa, e vai estar disponível ‘online’ no dia 26.
O filme vem na sequência do projeto europeu TEACHmi, no qual o Observatório da Cidadania e Intervenção Social da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da UC (FPCEUC) está inserido. A coordenadora da equipa portuguesa da iniciativa, Clara Cruz Santos, refere que “o documentário surgiu como complemento do projeto”.
O documentário, realizado pelos fundadores da Propella, João Doce e Pedro Cruz, foi filmado em Coimbra. Para Pedro Cruz, co-realizador do filme, o objetivo era o de “dar voz aos migrantes que estão em Coimbra e em Portugal”.
Parceria entre o TEACHmi e a Propella
Segundo a coordenadora nacional, o TEACHmi é “um projeto de intervenção que nasceu dentro do programa Erasmus+ com a finalidade de potenciar a integração educativa e social de jovens refugiados no ensino escolar”. Tem como principal objetivo o de “fornecer matrizes para os professores de como administrar práticas inclusivas”, explica Clara Cruz Santos. Ana Cristina Almeida, Ana Paula Couceiro, Helena Reis Amaro da Luz e Vanessa Nunes, também docentes da FPCEUC, são os restantes membros da equipa.
Por sua vez, a Propella é uma cooperativa cultural fundada por Pedro Cruz, cineasta e psicólogo, e João Doce, interventor social e músico. “É uma forma jurídica de concretizar projetos pessoais”, admite o primeiro. O documentário nasceu após os realizadores terem identificado aquilo que João Doce refere como “uma lacuna no projeto”. O músico refere que “havia uma falta de registo da parte dos próprios migrantes”.
Clara Cruz Santos confessa que “o público-alvo do TEACHmi são os professores”, mas que “não fazia sentido impor uma conduta sem ouvir os alunos com estatuto de refugiados”. Desta forma, à equipa Propella foi sugerido fazer um documentário sobre o processo de integração.
“My heart is there, my body is here”
A docente da FPCEUC considera que “a mais-valia do documentário é a hipótese de se discutir como é a vida destes jovens”. Clara Cruz Santos acrescenta que “eles não existem no vácuo, têm rosto e voz e vivenciaram algo que a maior parte dos jovens não vivenciou”.
Segundo os cineastas, a maior complicação foi “a questão da língua”. Pedro Cruz confessa que “deu para sentir durante aquele tempo o que eles sentem todos os dias”. O também psicólogo acrescenta que “é fundamental criar uma relação para se conseguir colaborar, mas não há tempo para aprender uma língua nova”. Para além disso, o realizador refere a diferença cultural, a dificuldade em conseguir emprego ou a de fazer novos amigos como exemplos de obstáculos acrescidos para os migrantes.
Pedro Cruz admite que a necessidade de ter tradutores e, em geral, de uma equipa maior deixou-os com “medo de tornar o processo mais artificial”. No entanto, o psicólogo salienta que “a força com que as coisas eram ditas e a emoção, o olhar e o suspiro das pessoas permitiu perceber a intenção”.
A presença no Festival Política
O documentário enquadra-se na Sessão Refugiados do Festival Política às 18h30 de quinta-feira, na sala 3 do Cinema São Jorge, em Lisboa. Segundo Pedro Cruz, o documentário foi criado “com uma linguagem que fosse acessível a qualquer pessoa”, pelo que fazia “todo o sentido colocá-lo em festivais”.
Neste mesmo festival, a produção concorre ao Prémio do Público e ao Prémio Filme do Ano. Caso a produção conimbricense saia vencedora, os realizadores acreditam que vai permitir que “o filme tenha mais mediatismo e que suscite mais interesse”. Para Pedro Cruz, é importante que “o maior número de pessoas tenha contacto com estas histórias”. A partir do dia 26 de abril, o filme está disponível de forma gratuita em www.propella.pt e https://www.teachmi.eu.
