Cultura

Teatrão estreia espetáculo no criptopórtico romano

Peça representa experiência de arqueólogo que abre “olhos e ouvidos para perceber histórias que pedras escondem”. Lotação já se encontra esgotada. Texto e fotos por Débora Cruz

O Teatrão vai estrear amanhã, dia 20 de abril, o espetáculo “Viajantes do Tempo – Visita Guiada”, no âmbito do projeto Marcos Históricos – Romanização. A criação consiste numa visita guiada teatralizada pelo criptopórtico romano do Museu Nacional de Machado de Castro. A encenadora da peça, Isabel Craveiro, sublinha que a história contada tem uma “reverberação com o tempo presente”.

Na visita guiada, os espectadores acompanham um jovem estudante de arqueologia durante as suas escavações. No decurso da peça são introduzidas novas personagens que estabelecem com o criptopórtico e com os “cacos” encontrados pelo arqueólogo uma ligação. “Todas as personagens criadas são escravas, são aquelas que aparentemente não interessam”, explica a encenadora. Isabel Craveiro assevera que se pretende transmitir a ideia de que “a cidade é feita de muitas pessoas e quem a construiu não foram os poderosos”.

A encenadora esclarece que a postura inicial do jovem arqueólogo na peça é “descrédula” por querer apenas descobrir “coisas muito importantes” e, por isso, não dá importância aos “cacos” que encontra. Porém, durante a encenação, o estudante aprende a “abrir os olhos e os ouvidos para perceber as histórias que as pedras escondem”, como afirma uma das personagens. Para Isabel Craveiro, a criação relaciona-se com o presente devido ao “foco no consumo e no dinheiro” que é feito pela sociedade e a consequente “desvalorização de outras coisas”.

Isabel Craveiro destaca que a tradição do curso de Arqueologia de Coimbra, com várias gerações de arqueólogos envolvidos de forma direta na escavação do criptopórtico foi uma inspiração. A encenadora salienta também que o trabalho e percurso de Jorge Alarcão, professor catedrático aposentado do Instituto de Arqueologia da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foram também recursos importantes.

O projeto Marcos Históricos – Romanização é realizado em parceria com o Município de Coimbra e financiado por fundos europeus. A iniciativa compreende uma programação cultural em rede, visto que conta também com a participação dos Municípios de Penela e de Condeixa. Destaca-se no projeto a dimensão patrimonial, cultural e histórica associadas aos vestígios da romanização destes concelhos.

O espetáculo vai ser representado pelos atores Afonso Abreu, David Meco e Diogo Simões, do Teatrão. Existem sessões destinadas ao público geral, programadas para os dias 24 e 30 de abril, e à comunidade escolar a partir dos seis anos, nos dias 20, 21 e 26. Apesar dos diferentes públicos, a abordagem e o enredo da peça vão ser os mesmos.

“Cantos das Pedras – Percurso pela cidade”

Para o mês de maio está planeada uma segunda criação designada “Cantos das Pedras – Percurso pela cidade”. A atividade consiste num percurso que vai ter início no Aqueduto de São Sebastião e terminar junto ao rio Mondego.

O público vai, durante uma hora, percorrer a Alta e a Baixa à procura dos vestígios da Aeminium, antiga cidade romana construída em Coimbra. “A ideia é conseguir imaginar aquilo que existia”, sustenta Isabel Craveiro. Durante o percurso, o público é guiado por ‘audio walks’ e vai assistir a encenações durante algumas das paragens.

A lotação para as atividades existentes já se encontra esgotada, mas a encenadora afirma que a equipa está a ponderar repetir a programação no futuro. Tendo em conta o “investimento significativo” feito no projeto, a “vontade é que o maior número de pessoas possa ver e desfrutar”, conclui.

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