Evento marcado por homenagem a Cesário Silva e sessão sobre crise académica. João Caseiro menciona dificuldades ainda enfrentadas pela academia. Por Daniel Oliveira
A Câmara Municipal de Coimbra (CMC), em conjunto com a Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (DG/AAC), realizou esta quarta-feira um evento no Salão Nobre da CMC. A cerimónia foi marcada por uma homenagem a Cesário Silva, pela atuação da Secção de Fado da AAC (SF/AAC) e por uma sessão evocativa da crise académica.
Com início às 15 horas, o evento começou com a atribuição a título póstumo da medalha da cidade, grau prata, ao antigo presidente da DG/AAC, Cesário Silva. O presidente da CMC, José Manuel Silva, que atribuiu a condecoração, afirmou que Cesário Silva, “apesar do mandato curto, mostrou forte empenho” e deixa “um legado inesquecível”.
José Manuel Silva também considerou que “a CMC não podia deixar de se associar a um líder que partiu de forma dramática, mas que deixou uma marca pelos seus traços de personalidade”. Mencionou ainda, em relação à atribuição da medalha da cidade, que caso o antigo presidente da DG/AAC tivesse continuado o seu mandato, “mereceria muito mais do que isso”.

Seguiu-se uma atuação do grupo de cordas da SF/AAC, às 15h30. Após o término do momento musical, deu-se a sessão evocativa dos 60 anos da crise académica, na qual participou Teresa Carreiro, investigadora dedicada ao estudo das repúblicas de Coimbra.
Teresa Carreiro começou a sua intervenção por dar contexto à luta dos estudantes da década de 1960. Explicou que o resultado das eleições de 1958, nas quais os estudantes de Coimbra mostraram apoio ao General Humberto Delgado, foi “semente de mau estar, descontentamento e ceticismo face ao cenário político nacional”.
A investigadora assinalou que “a educação se tornou num instrumento de contestação”, e que para esse efeito foi marcante a ação do Conselho de Repúblicas, que era muito influente. Segundo Teresa Carreiro, o Conselho de Repúblicas incitava estudantes habituados a discutir o estado do país a usar o seu conhecimento da cidade para pôr em causa o regime.
Os movimentos de reivindicação estudantil da época levaram a punições aos estudantes de Coimbra como, por exemplo, a integração dos mesmos no exército, referiu a investigadora. Salientou ainda que a repressão da comunidade académica por parte do regime causou descontentamento a nível nacional.
De acordo com Teresa Carreiro, a ideologia dos estudantes de Coimbra espalhou-se pelo exército português, devido à deslocação dos mesmos para a Guerra Colonial, o que foi fundamental para a revolução de abril de 1974. Assim, a investigadora frisou que os academistas “ameaçaram, abalaram e fizeram tremer os alicerces do Estado Novo”.
O evento no Salão Nobre da CMC terminou com a intervenção de João Caseiro, vice-presidente da DG/AAC, na qual manifestou o seu orgulho pelo legado dos estudantes da década de 1960. Também afirmou que, apesar da comunidade académica não sentir as dificuldades então vividas, existem outras preocupações, como a propina zero, mais ação social, melhores alojamentos e preços mais acessíveis.
Salientou ainda a importância da AAC como motor desportivo e cultural da cidade e que a Associação deve ter espaço para crescer. A maior abertura e sinergia com os diversos agentes desportivos e culturais da cidade é para João Caseiro uma forma de promover o crescimento da AAC.
