Cultura

Mosteiro de Santa Clara-a-Velha abriu portas para discussão sobre clima e património

Gabriela Moore

Espaço esteve inundado por três séculos antes de secagem realizada há duas décadas. Alterações climáticas prejudicam manutenção do património. Texto e fotografias por Gabriela Moore

Há cerca de dois anos fechado para obras, o Mosteiro de Santa Clara-a-Velha abriu ontem de forma excecional para assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios. O coordenador do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, Humberto Rendeiro, considerou a reabertura temporária um “marco importante”, pois pôde-se “ver de novo vida nestes espaços e sentir que o espaço está vivo”.

O dia contou com duas visitas guiadas, uma oficina pedagógica sobre restauro e conservação, um debate sobre o impacto das alterações climáticas no património e um concerto nas ruínas da igreja. De acordo com Humberto Rendeiro, o público superou as expectativas.

Mosteiro vs. Mondego

O debate, realizado às 15 horas, foi encabeçado por Júlia Oliveira, conservadora restauradora do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e Pedro Redol, conservador do Mosteiro da Batalha. Com a temática do impacto das alterações climáticas no património, a conversa focou-se nas especificidades do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha e nas ameaças que este mais sofre.

Gabriela Moore

Sabe-se que no momento da fundação do mosteiro, em 1330, este ficava a três metros acima do nível do rio. No entanto, a margem do Mondego subiu de forma considerável ao longo dos anos, o que levou a constantes inundações. O abandono completo do espaço deu-se em 1677, após a mudança definitiva das freiras clarissas para o Mosteiro de Santa Clara-a-Nova.

O mosteiro de Santa Clara-a-Velha passou então mais de três séculos debaixo d’água. Na década de 1990 decidiu-se pela secagem do terreno para recuperar o património e o espólio que estava ali preservado – mas escondido – pela água e pelo lodo. O monumento está agora exposto aos efeitos naturais do clima e a sua manutenção é ainda mais complicada quando se pensa nas alterações climáticas.

D.R.

Pedro Redol mencionou o facto de se esperar que Portugal fique com o clima mais seco. Isto provoca “mais incêndios florestais, que resultam em desmatamentos e que levam a uma perda de controlo do ciclo hidrológico”, explica o conservador do Mosteiro da Batalha. O orador alertou também que, caso a seca cause uma diminuição no volume de água do Mondego, a base da barragem de contenção da água para a área do mosteiro pode ser afetada e o local inundado de novo.

Atividades com grande adesão

A oficina pedagógica “O que faz o conservador restaurador?”, realizada às 11 horas, foi pensada para o público infantil. Humberto Rendeiro considera que é preciso “sensibilizar os mais pequeninos para a importância da preservação do património desde cedo”. Além disso, acredita que é necessário fazer ações de consciencialização para “garantir que as gerações vindouras também possam usufruir do património”.

O coordenador do Mosteiro de Santa Clara-a-Velha constatou que o público “superou as expectativas”. Com a inscrição prévia necessária para algumas das atividades, o espetáculo musical da noite estava lotado e o número de inscritos para a visita guiada da tarde ultrapassou o planeado. “Para não deixar ninguém de fora”, Humberto Rendeiro explicou que alargaram o número de pessoas na visita e ainda justificou esta decisão com um mote: “o património é de todos e para todos”.

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