Pesquisa garante 80 por cento de certeza na classificação da enfermidade. Descoberta proporciona “novas possibilidades de tratamento”, segundo coautor do artigo científico. Por Larissa Britto
A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune sem cura que atinge mais de dois milhões e meio de pessoas no mundo. A Universidade de Coimbra (UC) divulgou hoje uma descoberta que auxilia no diagnóstico da EM. O estudo, realizado ao longo de 15 anos pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, mostra que é possível classificar um doente com EM com 80 por cento de certeza, ao avaliar um conjunto de oito proteínas específicas.
A pesquisa trata-se de uma análise feita a partir de amostras de líquido cefalorraquidiano e pessoas afetadas por EM, bem como por outras doenças que afetam o sistema nervoso central. De início foi feita uma identificação de proteínas, para detetar quais estavam expressas quando as amostras destes grupos de doentes foram analisadas e comparadas entre eles. Desta forma, foi identificado que um grupo de oito proteínas estava alterado, o qual define um novo painel de indicadores de determinadas patologias para a EM.
Ivan Salazar, coautor do artigo, destaca que há uma sobreposição frequente de doenças do sistema nervoso central e, por isso, é “muito fácil diagnosticar uma doença de forma errada”. Desta forma, é evidenciada a importância do estudo feito, sobretudo para “ajudar num futuro próximo a identificar doentes, que sofrem de EM, de forma mais rápida”. O pesquisador explica que a partir das amostras recolhidas de pacientes foi “identificado um grupo de oito proteínas que permitiu evidenciar entre 80 e 90 por cento das amostras de doentes com EM”.
O estudo foi possível através de uma parceria entre o CNC, o Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e o laboratório de Neurobiologia Molecular do I3S, localizado na Universidade do Porto. Ivan Salazar entende a parceria como “crucial” para o resultado do estudo e acrescenta que o importante é o resultado que têm a oferecer à população. O pesquisador lamenta a falta de conhecimento do público geral sobre a EM e associa a desinformação à questão da doença não ser comum entre a população portuguesa. “O assunto é apenas abordado uma vez por ano, no dia da esclerose múltipla”, frisa.
O próximo passo do estudo seria a aplicação dos indicadores no diagnóstico da doença, porém “ainda há um um grande caminho para ser percorrido, para que seja de facto implementado”, refere o investigador. Na maioria das vezes, “a doença é identificada por técnicas de imagem cerebral e a sua deteção é feita de forma retrospectiva”, isto é, só após algum tempo é possível ter certeza do diagnóstico. Ivan Salazar afirma que a pesquisa foi feita à “procura do desconhecido”, além de representar um “avanço para o desenvolvimento do diagnóstico ou prognóstico da EM”. O pesquisador ressalta ainda que com esta descoberta existem “novas possibilidades de terapia para esta doença”.
