Ciência & Tecnologia

15 anos de estudo trazem novidades para diagnóstico de esclerose múltipla

Fotografia cedida por Cristina Pinto

Pesquisa garante 80 por cento de certeza na classificação da enfermidade. Descoberta proporciona “novas possibilidades de tratamento”, segundo coautor do artigo científico. Por Larissa Britto

A esclerose múltipla (EM) é uma doença autoimune sem cura que atinge mais de dois milhões e meio de pessoas no mundo. A Universidade de Coimbra (UC) divulgou hoje uma descoberta que auxilia no diagnóstico da EM. O estudo, realizado ao longo de 15 anos pelo Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) da UC, mostra que é possível classificar um doente com EM com 80 por cento de certeza, ao avaliar um conjunto de oito proteínas específicas.

A pesquisa trata-se de uma análise feita a partir de amostras de líquido cefalorraquidiano e pessoas afetadas por EM, bem como por outras doenças que afetam o sistema nervoso central. De início foi feita uma identificação de proteínas, para detetar quais estavam expressas quando as amostras destes grupos de doentes foram analisadas e comparadas entre eles. Desta forma, foi identificado que um grupo de oito proteínas estava alterado, o qual define um novo painel de indicadores de determinadas patologias para a EM.

Ivan Salazar, coautor do artigo, destaca que há uma sobreposição frequente de doenças do sistema nervoso central e, por isso, é “muito fácil diagnosticar uma doença de forma errada”. Desta forma, é evidenciada a importância do estudo feito, sobretudo para “ajudar num futuro próximo a identificar doentes, que sofrem de EM, de forma mais rápida”. O pesquisador explica que a partir das amostras recolhidas de pacientes foi “identificado um grupo de oito proteínas que permitiu evidenciar entre 80 e 90 por cento das amostras de doentes com EM”.

O estudo foi possível através de uma parceria entre o CNC, o Serviço de Neurologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, o Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UC e o laboratório de Neurobiologia Molecular do I3S, localizado na Universidade do Porto. Ivan Salazar entende a parceria como “crucial” para o resultado do estudo e acrescenta que o importante é o resultado que têm a oferecer à população. O pesquisador lamenta a falta de conhecimento do público geral sobre a EM e associa a desinformação à questão da doença não ser comum entre a população portuguesa. “O assunto é apenas abordado uma vez por ano, no dia da esclerose múltipla”, frisa.

O próximo passo do estudo seria a aplicação dos indicadores no diagnóstico da doença, porém “ainda há um um grande caminho para ser percorrido, para que seja de facto implementado”, refere o investigador. Na maioria das vezes, “a doença é identificada por técnicas de imagem cerebral e a sua deteção é feita de forma retrospectiva”, isto é, só após algum tempo é possível ter certeza do diagnóstico. Ivan Salazar afirma que a pesquisa foi feita à “procura do desconhecido”, além de representar um “avanço para o desenvolvimento do diagnóstico ou prognóstico da EM”. O pesquisador ressalta ainda que com esta descoberta existem “novas possibilidades de terapia para esta doença”.

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