Ensino Superior

Movimento estudantil sai à rua em comemoração do 24 de Março

Sara Sousa

Sexagésimo aniversário da crise académica de 1962 deu-se nas ruas de Lisboa. Desde o Terreiro do Paço, estudantes de todo o país pediram por mais ação social e propina zero. Por Eduardo Neves e Sara Sousa

Às 12h59, uma comitiva de Coimbra partiu em direção ao Terreiro do Paço, em Lisboa, para integrar as celebrações e manifestação dos sessenta anos do Dia Nacional do Estudante. O transporte foi fornecido pela Direção-Geral da Associação Académica de Coimbra (AAC) para o qual estavam elegíveis quaisquer estudantes da academia. A intervenção, que contou com a participação de estudantes de todo o país, percorreu o seu trajeto pelas ruas de Lisboa, com destino à Assembleia da República. Apesar da chuva, o protesto continuou com a maioria dos participantes.

Os temas principais foram a redução da propina e o aumento da ação social, em especial as cantinas, residências universitárias e alojamento estudantil. Para além de variados cartazes, os estudantes entoaram cânticos como “Para a banca vão milhões, para o ensino vão tostões” e “Queremos camas para dormir, é preciso evoluir”. Muitos residentes e transeuntes não ficaram indiferentes e pararam para deixar passar a enchente de jovens universitários. Houve intervenção da polícia para controlar e conduzir as celebrações.

Já no destino final, houve intervenções de alguns dirigentes, em concreto José Pinho, da Associação de Estudantes da Faculdade de Psicologia e do Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, Catarina Preto, da Associação Académica de Lisboa, e o presidente da Mesa da Assembleia Magna da AAC, Daniel Tadeu. O dirigente enquadrou esta manifestação com a história da primeira crise académica, com ênfase no associativismo estudantil contra o regime.

Daniel Tadeu afirma que “a maior homenagem que pode ser prestada a todos aqueles que se sacrificaram nas lutas da década de 60 passa por continuar a reivindicar a liberdade”. Além disso, entre outras reivindicações,  o também estudante defende o acesso universal e gratuito ao ensino superior, o aumento do financiamento das instituições e o desenvolvimento de um plano nacional de saúde mental. Remata ao afirmar que “o movimento estudantil está vivo e vai estar sempre vivo”.

Sara Sousa

Em declarações ao Jornal A Cabra, alguns participantes da manifestação referiram que marcaram presença para defender várias lutas e todos fizeram um balanço positivo da tarde em Lisboa. Um estudante da Universidade do Minho, que preferiu manter anonimato, afirma que o seu pai “ já em ‘92 combatia pelo mesmo” e desde aí “houve poucos progressos”. O académico volta para casa com um “momento bonito” de ver residentes idosos, comovidos ao ver a manifestação passar e afirma que “foram lutas que eles próprios travaram”.

Fábio Pimenta, estudante de Línguas e Relações Empresariais na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, considera “muito importante dar voz aos estudantes de várias cidades” e que, “apesar de os estudantes não estarem todos presentes, estão outros para os representar”. Já Hannah Dias, aluna de Cinema na Universidade da Beira Interior (UBI), destaca a desigualdade da propina no país. “Os estudantes internacionais da UBI que são da comunidade lusófona pagam 3500 euros e se não forem de um país lusófono pagam 5 mil”, explica a universitária.

O presidente da Secção de Fado da AAC, Pedro Andrade, também estudante da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de Coimbra, diz que esta data é especial todos os anos. Com foco em Coimbra, relembra a falta de prato social nas cantinas do Pólo I como a maior falha da ação social na cidade. Despiu-se do cargo associativo e entra nos protestos como todos os seus colegas, ao afirmar que, neste dia, se mostrou que “o movimento estudantil tem força e não pode ser ignorado”.

O final das celebrações ficou marcado pela atuação do Grupo de Fados e Guitarradas da Secção de Fado da AAC, ao interpretar “Capa Negra, Rosa Negra”, música intervencionista. Daniel Tadeu relembrou Cesário Silva e pediu um minuto de silêncio em sua memória.

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