Cultura

Homenagens ao “Paulão” marcam 30 edições do Festuna

Jorge Botana

Convento São Francisco recebe grupos com casa cheia. Estudantina oficializa irmandade com tuna do Porto. Por Jorge Botana

O esplendor do Festival Internacional de Tunas (Festuna) volveu a Coimbra este sábado, dia 13, para celebrar a sua trigésima edição. Um dia depois da serenata que marcou a abertura do evento, o Convento São Francisco vibrou de casa cheia ao ritmo das tunas universitárias do Porto, Viana do Castelo, Aveiro, Salamanca e da Estudantina Universitária de Coimbra. O festival prestou homenagens a um antigo membro da tuna, Paulo Cunha Martins, conhecido como Paulão, ao longo de mais de três horas de espectáculo ao vivo. 

Foi ao ritmo da Estudantina de Coimbra e da Tuna Universitária do Porto que o evento teve início. Ao interpretar “Más Allá”, de Javier Solís, os dois grupos oficializaram a sua irmandade, “que já existia sem acontecer” há três décadas, nas palavras de Pedro Andrade, estudantino e presidente da secção de Fado da Associação Académica de Coimbra.

Depois da celebração, os portuenses foram os primeiros a embandeirar a homenagem ao “grande Paulão”. A figura do “último dos boémios”, em palavras do representante do grupo,  foi lembrada através de versos que destacaram “a capacidade de unir gerações e de fazer acreditar que tudo era pelo convívio e pela unidade”. Para o Paulão, a Tuna do Porto cantou um “Adeus”, mas o seu ritmo foi também em forma de samba, com “Madalena”, canção com a qual quiseram celebrar a sua relação com o Brasil.

Do Porto, os espetadores ao Festuna viajaram logo ao outro lado da fronteira. A Tuna Universitária de Salamanca, parceira da Estudantina há 30 anos, não podia ter faltado nesta edição comemorativa. O representante da Tuna de Salamanca revelou que há “muita emoção em voltar a Coimbra”,  e falou das semelhanças que unem ambas as cidades. O grupo espanhol, enfeitado com as suas tradicionais insígnias, ergueu o entusiasmo do público ao interpretar “Llorona”, do filme Coco. Um ‘paso doble’ fechou a actuação do grupo, que se despediu com humor e agradeceu a “enorme hospitalidade” da cidade do Mondego. 

Logo depois foi a vez do branco e do vermelho entrarem em palco. O grupo com o que a Estudantina mais partilhou, a Tuna de Aveiro, fez voar “Os vampiros” de Zeca Afonso por cima das poltronas do Convento. O cantor esteve presente ao longo de toda a intervenção dos aveirenses, que fizeram voar a sua bandeira ao ritmo dos “Fantoches de Kissinger” e também de uma serenata, “dedicada aos homens que sofrem pela paixão utópica”. Para fechar, o público entregou-se às pandeiretas e aos saltos do grupo com “Amor à beira-mar”, com a qual quiseram homenagear também o Paulão. 

A Hinoportuna e a Estudantina fecharam a festa

Depois de um breve intervalo, a magia das tunas continuou o seu percurso. Da capital do fado e de Amália Rodrigues, a Hinoportuna do Instituto Politécnico de Viana do Castelo lembrou o “sorriso aberto” com o qual eram recebidos por Paulo Cunha ao chegar a Coimbra. Ao Paulão a tuna de Viana dedicou  “Adeus Minho encantador” antes de os seus veteranos entrarem em palco. Para fechar, os hinoportunos despediram-se com saudades da sua terra: arrancaram do público uma salva de palmas com “Havemos de ir a Viana”. 

Para fechar, o Convento recebeu com honra os seus anfitriões. O som do moucho convidou a Estudantina a interpretar “A Ronda das Mafarricas”, do Zeca Afonso, com os acordes da gaita, a bateria e o contrabaixo. Logo foi a vez da “Serenata do Mondego”, que levou o público conimbricense a cantar ao ritmo do maior clássico da Estudantina. O grupo anfitrião fez um percurso pela sua história, desde Bath até a “Madrugada” de Duarte Mendes, que fechou a sua actuação. A Estudantina dedicou também parte do seu tempo ao povo ucraniano a interpretar “Vida Tão Estranha”, de Rodrigo Leão. 

Depois das actuações, foi o momento para os agradecimentos. Os apresentadores quiseram demonstrar a sua gratidão à “participação de todas as tunas e ao trabalho das equipas humanas que fizeram possível a volta do Festuna depois da pandemia”. Para fechar os 30 anos de Festunas em Coimbra, um “até a próxima” foi ouvido enquanto a tuna e o público se entregavam ao ritmo de “Traçadinho”. 

A organização do Festuna não foi alheia à triste notícia que foi conhecida no intervalo. A morte do presidente da Direção Geral da AAC foi anunciada e um minuto de silêncio foi dedicado a Cesário Silva, que faleceu na tarde do sábado num acidente de carro. O convívio, marcado na Cantina dos Grelhados, foi cancelado.

A “Serenata pela paz” deu as boas vindas ao festival

A noite anterior, sexta-feira dia 11, marcou o início do trigésimo Festuna com a tradicional Serenata, que encheu de magia a Praça 8 de maio, na Baixa da cidade. Ao longo da noite, as tunas interpretaram vários temas ao pé da Igreja de Santa Cruz, entregando-se ao público que estava presente. A paz foi o pano de fundo desta celebração, que recordou aqueles que nestes dias sofrem com a guerra na Ucrânia. A solidariedade foi também protagonista do festival, que reverteu parte da receita de bilheteira à Casa Infância Elysio de Moura, uma instituição dedicada a acolher meninas e  provenientes de ambientes desfavorecidos.

“É um momento muito único, uma oportunidade de fazer parte desta tradição”, comentavam Mariana Encarnação e Mária Matos, estudantes de Física da Universidade de Coimbra. Ainda a meio dos espetadores, Martinho Osorio, estudante de intercâmbio da Galiza, referiu que a Serenata foi uma oportunidade para “descobrir as tunas” e usufruir de “uma tradição que ainda se mantém”.  Um momento também importante foi na tarde do sábado, quando a placa comemorativa do XXX Festuna foi descerrada no edifício da AAC. 

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