Projeto conta com a participação de cientistas da Alemanha, Bélgica, Itália e Suíça. Financiamento é realizado pela ERA-NET NEURON. Por Raquel Lucas
A Universidade de Coimbra (UC) anunciou hoje, dia 8 de dezembro, a recente angariação de fundos, no valor de 1,2 milhões de euros, por parte de uma associação internacional liderada por cientistas da Universidade. O financiamento é realizado pela rede europeia ERA-NET NEURON, voltada para o estudo de doenças cerebrais e distúrbios do sistema nervoso. Este vai servir para investigações na esfera da neurociência, com foco no autismo.
João Peça, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC, é o líder do projeto que vai levar a cabo a investigação. Intitulado de “Astrocytes dysfunctions in Phelan-McDermid syndrome: from mechanisms towards new therapeutic strategies (SHANKAstro)”, o estudo visa compreender quais as células cerebrais com principal impacto no desenvolvimento do autismo.
De acordo com a nota de imprensa, o “grande objetivo da investigação”, que vai decorrer ao longo de três anos, é descobrir qual o papel das mutações no gene SHANK3 no desenvolvimento da desordem. Na mesma nota é referido por João Peça que tais mutações “são uma das causas mais comuns diagnosticadas para o autismo’’. Porém, “ainda pouco se sabe sobre as suas consequências”, afirma.
O docente menciona à UC que, segundo investigações recentes, “os astrócitos, células cerebrais negligenciadas, também podem desempenhar um papel fundamental no desenvolvimento do autismo”. João Peça explica o suporte crucial destas células para os neurónios e para o funcionamento cerebral. A disfunção dos astrócitos, resultante da mutação no gene SHANK3, “vai levar a anormalidades comportamentais e cognitivas”, acrescenta.
“Ratinhos geneticamente modificados’’ e “organoides capazes de imitar de perto o funcionamento celular do cérebro humano” vão ser alguns dos “modelos inovadores” utilizados no projeto, declara o investigador. João Peça conclui que, caso os cientistas descubram o efeito que as mutações no gene SHANK3 têm no autismo, será possível “descobrir e desenhar terapias bem-sucedidas para doenças do neuro desenvolvimento’’.
