Cultura

“Lugar de memória” sobre Eunice Muñoz dá início ao Festival Caminhos

Inês Rua

Filme estreia esta quinta-feira nos cinemas nacionais. Organizador olha “com satisfação” para este evento piloto. Por Inês Rua

Foi na Casa do Cinema de Coimbra, pelas 21h45 desta quarta-feira, que o Festival Caminhos do Cinema Português marcou o seu regresso com a curta-metragem “Eunice ou Carta a uma Jovem Actriz”. Esta sessão especial, à semelhança das próximas programadas, teve como intuito mostrar um filme português que, embora não esteja em competição, demonstra “grande qualidade e relevo no panorama cinematográfico atual”, como refere a organização. 

O filme apresenta-se na sua sinopse como um “não-documentário”, uma vez que é enquanto “lugar de memória” que Tiago Durão, realizador da curta-metragem, o nomeia. Explicou que teve como pretensão “desconstruir tudo aquilo que seria um documentário clássico”, através da sua própria visão de quem é Eunice Muñoz. “A vida de Eunice passa-se desta maneira, não há uma efabulação dela”, declara o realizador.

É com a voz do ator Ruy de Carvalho, a acompanhar uma sequência de imagens, que se dá início à vasta seleção textual que compõe esta obra cinematográfica. “O teatro não é mais do que palavras, portanto tinha de ser uma coisa de palavras”, esclarece o realizador. Quanto à escolha musical, Tiago Durão reflete que “se tivesse de transformar Eunice numa música, seria na sonata n.º 14 de Beethoven”. Pelo seu reportório, a pianista Maria João Pires foi a sua escolha para dar vida a esta sonata no filme. 

Durante 47 minutos, os espectadores são presenteados com um verdadeiro “museu” de memórias da atriz de referência do teatro, televisão e cinema português. O filme assenta no binómio de palco e de casa: não só mostra Eunice enquanto atriz, que conta com 80 anos de carreira, mas também enquanto “a pessoa normal que ela é, que estende a roupa, que dá de comer aos pombos”, sublinha o realizador. 

“Carta a uma jovem actriz” denota um olhar sobre o passado com uma projeção para o futuro. “É interessante ver pelo que Eunice já atravessou com quase um século de vida”, salienta Tiago Durão. O realizador tentou transparecer a nostalgia do seu percurso através de fatores como escolha das cores e o formato 4:3. Por outro lado, Lídia Muñoz, neta de Eunice e também ela atriz, aparece no filme como uma “passagem de testemunho”.

Com a confissão que encontrou a sua inspiração no filme “Sophia de Mello Breyner Andresen”, realizado em 1969 por João César Monteiro, Tiago Durão desvenda que “foi um filme rápido, que começou em fevereiro e acabou em julho”. Realça ainda que “falar de Eunice, é falar dos últimos 80 anos de cultura portuguesa”. Por isso, a sua curta-metragem manifesta-se como uma homenagem e “é importante fazê-las enquanto as pessoas ainda cá estão”. 

Este tributo à atriz portuguesa estreia-se hoje nos cinemas de todo o país. Quanto a esta antestreia do filme na Casa do Cinema de Coimbra, o realizador evidencia que “o Caminhos é um marco e um festival que me é muito caro”. Também Tiago Santos, organizador do festival, olha para o balanço deste evento piloto “com satisfação”.


No próximo sábado, dia 6, vai ter lugar a abertura oficial desta 27.ª edição do Caminhos. O programa conta com mais de 150 antestreias, sem sobreposições, em diversos locais da cidade, entre os quais a Casa do Cinema de Coimbra, o Teatro Académico de Gil Vicente e o Auditório Salgado Zenha. A aquisição de bilhetes pode ser feita de forma pontual ou através de passe de 10 sessões ou passe geral. A organização estima uma adesão entre cinco a seis mil pessoas até ao final do evento, no dia 20 de novembro.

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