Estudo realizado pelo CNC-UC comprova que o fármaco usado na epilepsia pode ser a cura para outras doenças. Equipa mostra-se pronta para avançar com a testagem “noutros modelos animais”, revela Luís Pereira de Almeida. Por Frederico Biscaia e Clara Neto
O estudo hoje revelado teve como propósito a procura de novas terapias para a cura da doença Machado-Joseph, através do fármaco carbamazepina. Da coordenação da investigação fizeram parte o docente da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra (FFUC) e investigador principal do Centro de Neurociências e Biologia Celular da UC (CNC-UC), Luís Pereira de Almeida, e a também investigadora do CNC-UC, Ana Ferreira.
A doença Machado-Joseph é uma mutação que “leva a que a proteína que é produzida tenha uma tendência a causar toxicidade nos neurônios”, clarifica Luís Pereira de Almeida. O docente acrescenta ainda que “isto leva à perda de neurônios especialmente em regiões que estão envolvidas no controlo motor”. O projeto tem o objetivo de encontrar novos métodos de tratamento da doença, que segundo o investigador “causa muito sofrimento”. “Os doentes perdem de forma progressiva a capacidade de controlar os movimentos voluntários”, justifica.
Segundo a nota de imprensa, “a carbamazepina é um medicamento utilizado no tratamento de outras patologias, tais como a epilepsia”. Os investigadores avaliaram a desregulação da autofagia na doença Machado-Joseph, ou seja, um défice no processo de regeneração natural das células. Com esta avaliação concluíram que “o fármaco foi capaz de aumentar a autofagia e promover a degradação da proteína mutante”, como revela a investigadora no CNC, em nota de imprensa. Para além deste fator, Ana Ferreira refere ainda que o tratamento reduziu “os défices motores e a
neuropatologia nos modelos animais de doença”.
A aplicação da carbamazepina na alteração do mecanismo de autofagia na investigação teve início há cerca de cinco anos. “Há nove doenças que têm um tipo de origem semelhante”, explica o docente. Luís Pereira de Almeida explicita ainda que qualquer uma é válida para a experiência do fármaco, como a “doença de Huntington”.
O investigador do CNC-UC revela que o projeto contou com alguns apoios monetários, como o da Fundação para a Ciência e Tecnologia e da Comissão de Coordenação da Região Centro. Além disto teve a ajuda de alguns projetos europeus “importantes também para o desenvolvimento desta investigação”, afirma Luís Pereira de Almeida. O docente da FFUC anunciou que o próximo passo no caminho da investigação é a testagem “noutros modelos animais”, seguida da avaliação “num segundo modelo geneticamente modificado ou transgênico”, e, por fim, a realização de “um ensaio clínico”.
