A molécula mostrou ser eficaz contra estirpes multirresistentes do HIV e contra HIV-2 e pode ajudar na prevenção potenciais pandemias. Apesar de ser eficaz contra várias estirpes do vírus da gripe, ainda não há resultados contra o coronavírus. Por Ana Rita Baptista
BSS730A é o nome da molécula revolucionária descoberta no âmbito do projeto Spiro4MALAIDS. O projeto, que é composto por uma equipa interdisciplinar, é coordenado pela professora Teresa Pinho e Melo, do Departamento de Química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC). A equipa do projeto inclui os professores Nuno Taveira do Instituto Universitário Egas Moniz e Miguel Prudêncio do Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa e os investigadores Américo Alves da FCTUC, Nuno Alves, aluno de doutoramento da FCTUC e Inês Bártolo da Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa.
Após vários estudos ao longo de nove anos a UC revelou em nota de imprensa a descoberta da molécula “que abre caminho para o desenvolvimento de um novo antimicrobiano de largo espectro com potencial de aplicação na prevenção e tratamento de múltiplos tipos de infeções virais, endémicas e pandémicas, e também doenças parasitárias, como a malária”.
Os diversos ensaios pré-clínicos realizados até agora “são muito promissores”, como é referido em nota de imprensa. Estes ensaios foram feitos com vírus diferentes, como o HIV e várias estirpes do vírus da gripe – um vírus com potencial pandémico – e em parasitas como o que provoca a malária. Segundo Nuno Alves “a molécula apresentou uma atividade notável contra os diferentes vírus e parasitas testados”.
Esta nova molécula “tem um comportamento completamente diferente dos medicamentos que se encontram no mercado. Enquanto os antivirais convencionais atuam sobre a maquinaria do próprio vírus, a molécula descoberta pelos investigadores atua ao nível do hospedeiro, promovendo uma resposta do próprio hospedeiro contra o vírus”, clarificou o investigador da FCTUC.
Para Nuno Alves, esta descoberta pode ter um forte impacto no futuro, pois em relação ao HIV mostrou ser eficaz contra estirpes multirresistentes e contra o HIV-2, que são resistentes contra alguns fármacos existentes no mercado. O investigador adianta ainda que esperam que a partir daqui se possa criar um “antiviral de largo espectro, algo raro no mercado” e também que esta molécula sirva para a “prevenção de outros vírus com potencial pandémico”.
A equipa pretende avançar com a realização de ensaios em humanos dentro de dois anos. Para já vão avançar com os ensaios in vivo através de ratos de laboratório, para avaliar a toxicidade da molécula. Contudo, para o avançar da investigação vai ser necessário financiamento, para isso Nuno Alves revela que está a ser concluída a criação de uma ‘startup’ para assim conseguirem “fundos comunitários e para chegarem a futuros investidores”.
Em relação à atuação da molécula contra o coronavírus, o investigador explicou que ainda não é possível adiantar resultados, porque ainda estão a testar a molécula contra este vírus.
