Manifestantes apelam a ação governamental face a alterações climáticas. Organizadora da Greve Climática Estudantil de Coimbra relembra que ações coletivas são mais eficazes para criar mudança. Por Joana Carvalho
Apesar da pequena dimensão, a Praça 8 de maio, pelas 17h do dia 24 de setembro, fez ressoar os cânticos de protesto da Greve Climática Estudantil (GCE) de Coimbra. A demonstração ficou marcada pela presença de estudantes nacionais e internacionais e pela interação com vários comícios de partidos concorrentes às eleições autárquicas.
A mobilização teve início com vários slogans e exibição de cartazes. Frases como “o planeta a aquecer e os políticos estão a ver” e “governo, escuta, os jovens estão em luta” deram força ao grupo de estudantes para exigir ação face às alterações climáticas. Após alguns minutos, os organizadores da demonstração procederam à leitura do manifesto do movimento GCE.
Nesse momento, os jovens enumeraram diversas ocorrências que marcaram o ano de 2021, como as subidas de temperatura registadas no Canadá e o incêndio no mar do Golfo do México. Foram também listadas as contribuições que outras pautas podem oferecer para o combate contra as alterações climáticas, desde o antirracismo, a luta pelos direitos LGBTQIA+ e o feminismo.
Sara Baquissy tem 15 anos e é uma das organizadoras da mobilização. A jovem estudante afirma que “é importante que os governos ajam” para que exista “justiça climática através de uma transição justa”. A jovem relembra que “ações coletivas funcionam a um nível que ações individuais não conseguem” e apela a que a sociedade “se mexa” para instigar mudanças junto das instituições.
Já Rita Sobral, uma participante da manifestação, reconhece que “este é um assunto importante” e, por esse motivo, decidiu “não esperar para ver só o acontecimento na televisão e participar”. A estudante de 14 anos considera estas ações fulcrais para “chamar atenção para o problema das alterações climáticas”.
A demonstração também contou com a presença de grupos de estudantes internacionais. Yann Jallay, estudante erasmus, tem 23 anos e é natural do Luxemburgo. O movimento Fridays for Future, que inspirou a GCE, não é desconhecido ao jovem, que já participou noutras demonstrações na Alemanha, país em que estuda. Yann Jallay decidiu juntar-se aos estudantes nacionais porque “todos os dias se ouve falar sobre algum relatório ou acontecimento e a classe política está a agir de forma demasiado lenta”.
Sara Baquissy considera que o ideal seria que “os governos e as empresas agissem por si mesmos”. No entanto, a estudante ressalta que o encerramento não faseado da refinaria de Matosinhos demonstra que “isso não vai acontecer”. Sara lamenta também que o movimento pela justiça climática ainda enfrente “negacionistas e gente pouco informada sobre o assunto”, e atribui essa responsabilidade “ao falhanço a nível institucional por não passar boa informação sobre o assunto”.
Autárquicas pelo meio: uma rosa e nada mais
No decorrer da manifestação, o grupo de estudantes cruzou-se com vários comícios de candidatos concorrentes às autárquicas: o movimento Juntos Somos Coimbra e o Partido Socialista (PS). O que gerou mais atenção foi o comício do candidato e atual presidente da Câmara Municipal de Coimbra (CMC), Manuel Machado. “Ambos os grupos estavam a cantar os seus ‘slogans’ e entretanto ficaram frente a frente” explica Yann Jallay. O encontro entre os dois grupos foi breve e o comício de Manuel Machado não se deteve e “ignorou” a mobilização de estudantes.
“Este ano foi levada uma petição à CMC para que fosse declarado estado de emergência climática” refere Sara Baquissy. No entanto, segundo a estudante, “a petição foi recusada pelo presidente da câmara”. No momento do confronto, Sara Baquissy afirma ter perguntado a Manuel Machado o porquê de a petição ter sido recusada e, de acordo com a jovem, a resposta do candidato foi “oferecer-lhe uma rosa”.
Rita Sobral acredita que, por um lado, “foi bom o encontro com o comício”, de forma a “mostrar que os jovens estão a tentar fazer uma mudança”. Já Sara Baquissy considera a resposta do presidente da CMC ao sucedido “bastante simbólica” e relembra que “os jovens podem ser os que vão viver mais tempo neste planeta, mas não são os únicos afetados pelas alterações climáticas”.
Sara Baquissy relembra ainda “os milhares de refugiados por causa da crise” e “as pessoas que sofrem injustiças sociais ainda mais acentuadas devido às alterações climáticas”. A estudante alerta que já não se trata de uma questão do futuro e que “os problemas já estão a acontecer”.
Sara confessa que, à semelhança de Aurora Valdez, “uma colega na greve e grande amiga de Lisboa”, aderiu à greve permanente mas que, por motivos pessoais, teve de a interromper. No entanto, a jovem chama a atenção para a companheira que, segundo a mesma, “está a arriscar o futuro por um planeta melhor”.
Segundo Sara Baquissy, é possível impedir que Aurora chumbe o ano ao assinar o compromisso Vamos Juntas. Este compromisso declara que quem o assine se compromete a ir a uma “ação disruptiva de desobediência civil” para bloquear a refinaria de Sines e exigir “o encerramento faseado da refinaria de Matosinhos”, de modo a alcançar “uma transição justa”.
