Equipa de investigação da Universidade de Coimbra (UC) cria programa pioneiro de tratamento de jovens agressores com traços psicopáticos. O projeto em colaboração da Universidade de Derby foi testado num ensaio clínico com 119 menores a cumprir medida tutelar educativa de internamento. Por Carina Costa
A psicóloga envolvida no projeto Psychopathy.comp – Modificabilidade dos traços psicopáticos em menores agressores, Diana Ribeiro da Silva, explica que a inexistência de programas para tratar a psicopatia associada ao comportamento antissocial foi um incentivo para que a equipa envolvida decidisse avançar. “É uma perturbação difícil de tratar e, por isso, não se têm investido assim tanto nesta área”, completa.
A psicopatia é um “conjunto de traços afetivos, traços interpessoais nomeadamente a grandiosidade e a manipulação e também traços comportamentais, de impulsividade e de irresponsabilidade”, elucida Diana Ribeiro da Silva. No entanto, em jovens com traços psicopáticos e comportamento antissocial, “estarem detidos em centros educativos faz com que geralmente os comportamentos antissociais sejam mais graves, mais persistentes no tempo e a aparecerem ainda mais cedo no desenvolvimento do indivíduo”, continua.
O Psychopathy.comp, que teve início em 2016 depois de ser financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, demonstrou que, após os ensaios clínicos com os jovens, “foi possível reduzir os traços psicopáticos, assim como aumentar a compaixão pelos outros e por si mesmos, diminuir os níveis de vergonha e o sentimento de insegurança nas relações pessoais”, assegura a psicóloga. O programa de intervenção foi estruturado em 20 sessões semanais, de forma individual, ao longo de seis meses com uso da Terapia Focada na Compaixão.
A Terapia Focada na Compaixão ataca diretamente a parte dos traços psicopáticos “desenvolvendo uma mentalidade compassiva”. Ao contrário de outros projetos feitos, Diana Ribeiro da Silva explica que este tem como base a compaixão para aumentar “a sensibilidade destes jovens ao sofrimento dos outros e do próprio, porque muitas vezes estes comportamentos antissociais e estes traços de psicopatia servem um pouco para esconder o sofrimento que eles mesmos sentem”.
Diana Ribeiro da Silva não esconde que estes jovens têm tendência a reincidir no crime e depois cumprem penas de prisão, contudo, e por esta mesma razão, a equipa considerou que quando estes estão nos centros educativos é a altura ideal para que alguma intervenção seja feita. “É preciso fazer intervenções que os possam ajudar a diminuir a sua psicopatologia, assim como dar-lhes ferramentas para que em liberdade consigam notar os primeiros sinais de que estão a ficar desregulados ou mais ansiosos e consigam controlar essas suas emoções, não só para bem dos outros, mas para eles próprios”, termina.
Quase terminado o programa, a psicóloga sustenta que os jovens alvo da intervenção “melhoraram de forma significativa na psicopatia, nos níveis de compaixão e na segurança que sentem em relação aos outros”. Os resultados do Psychopathy.comp vão ser apresentados no próximo dia 30 de setembro, num seminário final online.
