Incerteza gerada pela COVID-19 leva à criação de aplicação para promoção do bem-estar durante a gravidez. Primeiros resultados mostram avaliação positiva pela maioria das utilizadoras. Por Inês Rua
“Mind the Mom” é uma aplicação móvel criada pelo Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental (CINEICC) em colaboração com o Serviço de Obstetrícia A da Maternidade Daniel de Matos e com a Unidade de Psicologia Clínica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra. A iniciativa pretende reduzir os problemas que advêm da pandemia de Covid-19 e as suas implicações para o bem-estar das grávidas.
Em tempos de pandemia, a população perinatal enfrenta inúmeros desafios, tais como alteração das rotinas de seguimento obstétrico e preparação para o parto e limitações à presença de acompanhantes na gravidez e no pós-parto. Em Maio de 2020, ciente dos desafios e das incertezas que a Covid-19 traria para as grávidas, a equipa responsável pelo projeto antecipou a necessidade de criar medidas de ajuda.
Aquando da criação da aplicação móvel, as investigadoras tiveram, como primeiro objectivo, estudar a eficácia preliminar de uma intervenção preventiva que fosse aplicada à distância, onde não houvesse a necessidade de contacto físico. O segundo objetivo do projeto passa por trabalhar com profissionais de saúde para integrar as estratégias da ‘app’ na prática clínica.
Anabela Araújo Pedrosa, coordenadora do estudo e investigadora do CINEICC, refere que, embora ainda não seja possível falar de eficácia, os primeiros resultados já vão de encontro aos objetivos traçados. Das 225 grávidas que participaram no estudo, a maioria considera estar “muito satisfeita” ou “extremamente satisfeita” (81 por cento), classifica a ‘app’ como “muito útil” ou “extremamente útil” (74 por cento), “tenciona aplicar informações e exercícios na sua rotina” (87 por cento), “pretende voltar a utilizar” (88 por cento) e “recomendaria a outras grávidas” (92 por cento).
A aplicação móvel disponibiliza módulos que fornecem informações e estratégias relacionadas com “gestão de stress e autocuidado”, “lidar com pensamentos pouco úteis”, “reconhecer e lidar com emoções desconfortáveis”, “mindfulness e autocompaixão” e “comunicação interpessoal”. As manifestações de maior interesse, demonstradas por parte das utilizadoras, recaem nestes dois últimos.
Tal como os títulos dos módulos denotam à primeira vista, são temas que podem ser aplicados não só para as pessoas em geral, como também fora do contexto de pandemia. No entanto, houve uma preocupação acrescida, por parte da equipa, em adequar os conteúdos à população perinatal. “De forma tranquila, segura e ao seu próprio ritmo, as grávidas podem desenvolver estratégias para prevenir factores de stress e situações de risco para o desenvolvimento de perturbação emocional”, explica a coordenadora.
A “Mind the Mom” é uma aplicação pensada apenas para ser utilizada durante a gravidez. No entanto, como esclarece Anabela Araújo Pedrosa, “o acompanhamento psicológico durante essa fase é muito importante para prevenir futuros riscos de quadros psicopatológicos que sejam mais difíceis de reverter”.
A investigadora destaca que a criação rápida da ‘app’ foi possível graças à constituição da equipa com antecedentes nestes temas, quer em termos clínicos, quer na componente da investigação. Um exemplo deste facto é de alguns membros participarem no programa ‘Be a Mom’, que ajuda na prevenção da depressão pós-parto e já tem todos os estudos de validade realizados.
Fruto do financiamento da 2.ª Edição da ação RESEARCH4COVID19 da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a “Mind the Mom” é um dos apenas dois projetos aprovados na área da saúde mental. A ‘app’ está disponível para todas as grávidas do país.
