Idealização da parentalidade e condições sociais atuais como principais causas do ‘burnout’. Estudo pode melhorar diagnóstico e tratamento desta síndrome. Por Jorge Correia e Cátia Gonçalves
Um estudo internacional revela que os países ocidentais mais ricos são os mais sujeitos a ‘burnout’ parental. Maria Filomena Gaspar, professora na Universidade de Coimbra e uma das responsáveis pelo estudo em Portugal, afirma que este fenómeno se deve “à cultura de maior individualismo desses países”. Profissionais de saúde mental atendem cada vez mais pais com síndrome de ‘burnout’, que, no caso de Portugal, foi piorado pelo confinamento.
O estudo contou com investigadores de 42 países e foi liderado por investigadoras da Universidade Católica de Louvain, na Bélgica. Segundo Maria Filomena Gaspar, surgiu na tentativa de “entender como a parentalidade pode causar síndrome de ‘burnout’, devido às condições sociais atuais, como a necessidade das mulheres em conciliar vida pessoal, familiar e profissional”. Adiciona ainda que “pais sentem dificuldade em conciliar a educação dos filhos com as suas carreiras e vida pessoal”.
A investigadora explica a importância de “educar os pais para a noção de que parentalidade não é apenas fonte de felicidade, mas também frustração e cansaço, e que a idealização da parentalidade pode ser nociva”. Maria Filomena Gaspar refere que o estudo pode trazer benefícios para a formação dos psicólogos, já que vão ficar mais aptos para identificar o ‘burnout’ e depois “prestar o apoio necessário”.
A investigação foi feita através da distribuição de questionários a nível mundial, em que pais foram convidados a responder a perguntas centradas na sua vida pessoal, traços de personalidade, satisfação com a vida e no próprio síndrome de ‘burnout’. Portugal registou um aumento no número de casos de ‘burnout’ parental durante o período de confinamento, devido ao maior isolamento e dificuldade dos pais na conciliação de tarefas.
O ‘burnout’ parental pode acarretar diversos problemas para os adultos. Segundo Maria Filomena Gaspar, “o aumento do cansaço, o maior consumo de álcool e substâncias ilícitas, o decréscimo da natalidade, a possibilidade de violência contra as crianças e o suicídio” são algumas das consequências que podem vir a ser causadas pela síndrome. A investigadora aconselha “a que todos os pais que experienciem sintomas, procurem apoio psicológico”.
