Alunos referem que estão expostos aos mesmos riscos que os restantes colegas na área da saúde. Falta de respostas por parte do governo gera descontentamento. Por Jéssica Terceiro
No dia 27 de dezembro de 2020, o Estado deu início à vacinação de profissionais de saúde que trabalham na linha da frente no combate à Covid-19. Porém, os estudantes de Medicina Dentária não se encontravam entre os grupos prioritários e os estudantes do 4º e 5º ano do Mestrado Integrado, nomeadamente, revelam desagrado e insatisfação. Pelas regras do governo, somente são vacinados nesta etapa os estudantes de Medicina, de Ciências Farmacêuticas e de Enfermagem, por estarem incluídos no Sistema Nacional de Saúde (SNS).
A Associação Nacional de Estudantes de Medicina Dentária (ANEMD) foi a primeira entidade estudantil a afirmar-se pela defesa da vacinação dos seus estudantes. Foi emitida uma Tomada de Posição conjunta, entre todos os Núcleos e Associações de Estudantes de Medicina Dentária das sete escolas médico-dentárias portuguesas. O presidente da ANEMD, Rúben Felizardo, admite que “de todos os estudantes da área da saúde que fizeram reivindicação, os de Medicina Dentária foram os únicos que ainda não foram incluídos, sem receberem qualquer justificação”.
Neste sentido, a ANEMD, juntamente com o Fórum Nacional de Estudantes de Saúde (FNES) e o Conselho Nacional de Juventude (CNJ), tem alertado o governo, a ministra da Saúde e a ‘task force’ do Plano de Vacinação contra a Covid-19 para a necessidade de serem vacinados. Os estudantes vincam a sua posição não só por contribuírem para o combate à pandemia, como por estarem propensos aos mesmos riscos que os restantes profissionais de saúde.
Rúben Felizardo afirma que “não faz sentido não vacinar os estudantes que podem constituir um vetor de transmissão do vírus no estabelecimento de saúde onde se inserem, no centro hospitalar, ou em contexto clínico ou universitário”. Na opinião do presidente da ANEMD, aos olhos do governo, a Medicina Dentária não é uma prioridade e existe “uma clara negligência e desconsideração, nomeadamente no que diz respeito à criação da carreira de um médico dentista no SNS”.
O presidente do Núcleo de Estudantes de Medicina Dentária da Associação Académica de Coimbra (NEMD/AAC), João Matos, expressa que há uma necessidade conjunta, que apela à união de esforços de cooperação. Estes problemas requerem colaborações a nível nacional, com a ANEMD e do FNES, e a nível local, com a proximidade aos órgãos de gestão da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e a coordenação do Mestrado Integrado em Medicina Dentária e reitoria da Universidade de Coimbra (UC).
A reitoria da UC respondeu à exigência de incluir na estratégia de vacinação os estudantes dos anos finalistas dos cursos de saúde em contexto de estágio clínico ou prática clínica hospitalar tutelada. Apesar de não estar prevista ainda a vacinação para estes estudantes, João Matos refere que os cuidados e as medidas a ter para prevenir a contração do vírus são semelhantes aos que já tinham. “A pandemia veio apenas impor um reforço destes mesmos cuidados, que já por si obrigavam e seguiam um protocolo rigoroso”, acrescenta.
Os estudantes encontram-se solidários com a escassez de vacinas em Portugal, no entanto, solicitam apenas que sejam incluídos nos grupos prioritários, pelo facto da Medicina Dentária ser uma das especialidades médicas mais expostas ao vírus.
